Folha de S. Paulo


CBF escancara irritação com gestão Dilma

A CBF decidiu comprar briga com o governo federal. A entidade divulgou nota ontem em seu site na qual atacou o Ministério do Esporte por sua intenção de adequar o calendário do futebol brasileiro ao modelo europeu.

Depois de algumas horas da publicação, no entanto, a entidade voltou atrás e tirou do ar o texto em questão.

A informação de que a pasta pretende adequar as datas do futebol nacional ao europeu, publicada pelo "Painel FC" na última terça-feira, irritou a diretoria da CBF, que decidiu se manifestar.

"Além de soar como intervenção [...], a proposição parte de quem não tem conhecimento da realidade do futebol", afirmava a nota.

Presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil serviu como porta-voz da CBF para atacar o ministro Aldo Rebelo.

"Mudar calendário? Para tratar de calendário tem de conversar com quem é do ramo. O que, definitivamente, este ministro não é", dizia o cartola na publicação.

A nota, divulgada pela manhã, foi retirada do ar à noite. Segundo a assessoria de imprensa da CBF, a decisão de omitir o texto foi editorial.

Entretanto esse episódio escancarou o atrito --antes velado-- que havia entre o governo federal e a entidade.

No entendimento da diretoria da CBF, o governo federal não deve intervir em decisões tomadas por ela, já que é uma entidade privada.

Pessoas ligadas à confederação afirmam que o presidente da entidade, José Maria Marin, contatou presidentes de clubes e que eles se manifestaram contra a proposta de alteração no calendário.

RELAÇÕES POLÍTICAS

Fortalecido com o apoio das agremiações, o cartola decidiu que era hora de parar de engolir sapos do governo --a presidente Dilma Rousseff não recebe Marin, e Rebelo tem evitado contato.

Interlocutores de Marin afirmam que, ao mesmo tempo em que enfrenta a União, o dirigente mantém boa relação com outros políticos.

Na noite de anteontem, no jogo entre Brasil e Chile, no Mineirão, Marin fez questão de fazer elogios públicos ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), opositor do governo e presidenciável.

Rebelo não foi ao jogo, o primeiro da seleção brasileira num estádio que será usado na Copa-14. Foi também a primeira partida de Luiz Felipe Scolari (ex-consultor do ministério) no país, na nova passagem pelo time nacional.

A relação, que nunca foi boa, piorou ainda mais desde março deste ano, quando áudios em que Marin aparece criticando Rebelo foram postados na internet.

Entre as críticas feitas nos vídeos, Marin diz que o ministro "tem raciocínio demorado" e não tem força nem influência com Dilma Rousseff.

Há cerca de duas semanas, Rebelo afirmou que o presidente da CBF "deveria se explicar" sobre esses vídeos.

Procurado pela reportagem, o Ministério do Esporte informou que não iria comentar as críticas feitas pela CBF.


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