Folha de S. Paulo


Torcida única é irreversível em clássicos na cidade de São Paulo

O veto à torcida visitante em clássicos de São Paulo é algo irreversível para as autoridades do Estado e será mantido em 2018.

O Ministério Público do Estado de São Paulo e a Secretaria de Segurança Pública usam números apurados antes e depois da mudança para justificar os jogos com apenas seguidores do clube mandante.

A medida foi implementada em abril de 2016, após confronto entre integrantes das torcidas Mancha Alvi Verde, do Palmeiras, e Gaviões da Fiel, do Corinthians, que deixou dezenas de feridos e um morto.

Levantamento da Polícia Militar aponta que houve redução no número de confrontos ao mesmo tempo em que diminuiu o total de escoltas, policiais militares nos estádios e nos arredores após o veto ser adotado. As autoridades compararam os dados de 20 jogos realizados na capital paulista após a implementação da torcida única –entre maio de 2016 a julho de 2017– com 19 partidas realizadas antes da medida– de abril de 2015 a abril de 2016.

Nos jogos após a implementação do veto à torcida visitante houve crescimento no público dos clássicos de 24%.

FIM DA FESTA? - Os números da torcida única em São Paulo (média por jogo)

Dirigentes se dizem contra a torcida única, mas já se mostram resignados. Apesar de, publicamente, todos criticarem a medida, a Folha apurou que eles costumam defender a manutenção dos clássicos com apenas uma torcida quando se reúnem com as autoridades paulistas.

O aumento do público e, consequentemente, da arrecadação é visto como um ponto positivo pelos cartolas.

"Somos contra [a torcida única], mas não tenho conhecimento da posição do Ministério Público. Vou tentar agendar uma conversa com o Paulo Castilho para falar sobre isso", afirma Orlando Rollo, vice-presidente do Santos, ex-líder da torcida Jovem do time alvinegro.

O presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, diz ser "difícil contestar" a argumentação feita pelas autoridades, contrárias aos clássicos com espaço nas arquibancadas para os visitantes.

"O futebol fica mais pobre quando há apenas uma torcida. Mas o Ministério Público apresenta os números de que houve diminuição de conflitos, de brigas, de mortes. Não dá para contestar", afirma Galiotte.

Contrário ao veto, o presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, se diz conformado com a medida.

"Sou contra [torcida única], mas não há nada que eu possa fazer. Acho que não vai acabar mais. Vai ficar", afirma.

O são-paulino Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, tem posição semelhante.

"O ideal seria as torcidas convivendo, mas os acontecimentos nos mostraram que isso tem sido difícil. As estatísticas nos mostram que é uma decisão [pela torcida única] que devemos manter por ora", afirma Leco.

A secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo ratifica a posição do Ministério Público de que a proibição está mantida "sem nenhuma flexibilização".
"No curto prazo, a volta de duas torcidas aos clássicos é irreversível", afirmou o promotor do Ministério Público de São Paulo Paulo Castilho, que diz que outros vetos podem ser retirados.

É o caso da proibição ao uso de bandeiras com mastros, que até poderão voltar a ser liberadas em 2018, segundo o promotor.

Elas foram banidas em 1992, após confronto entre são-paulinos e corintianos que resultou na morte de Rodrigo de Gásperi, 13.


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