Folha de S. Paulo


Polícia vê risco em decisão com cinco mil gremistas na Argentina

Luiz Cosenzo/Folhapress
Trecho de muro com provocação da torcida do Lanús, na Argentina

Um homem desenhado em um muro com uma corrente na mão e a frase "En el sur mando yo" ("No sul mando eu", em espanhol). É com essa provocação aos torcedores do Banfield, rival do Lanús, que a torcida do Grêmio será recebida no estádio La Fortaleza, palco do jogo de volta da final da Copa Libertadores.

O muro fica em uma rua estreita com casas simples dos dois lados, algo comum ao redor do campo do time granate, e por onde cerca de 5.000 torcedores gremistas passarão para chegar ao estádio La Fortaleza. O município de Lanús fica na Grande Buenos Aires, a cerca de 30 minutos do centro da capital argentina.

Apesar de torcedores descartarem brigas e confusões, um clima hostil já foi criado pelos incidentes no jogo de ida, em Porto Alegre. Um ônibus e um carro com argentinos foram apedrejados nas proximidades da Arena do Grêmio e parte dos 4.000 fãs do time visitante entraram no estádio após a metade do primeiro tempo.

"Fomos muito mal tratados em Porto Alegre. Eles podem vir tranquilos porque o Lanús é uma família, é um clube humilde, de bairro. Estamos preocupados apenas dentro de campo", diz o torcedor Cristian Leandro, 22, que foi ao jogo em Porto Alegre.

"A polícia brasileira também nos recebeu muito mal. O presidente [Nicolás Russo] pediu que a torcida se comporte e é isso que vai acontecer", afirma o torcedor Sebastian Bono, 33.

O jogo é classificado pelas autoridades argentinas como de "risco médio", em razão das queixas dos torcedores do Lanús pelo tratamento que receberam em Porto Alegre.

A preocupação principal é com os barra bravas, como são chamados os torcedores organizados no país.

Diego Goncebate, chefe da torcida organiada La 14 -o número é uma referência ao à loteria argentina e representa um bêbado-, tem histórico de brigas internas e confrontos com torcedores do rival Banfield.

"Sempre existe uma rivalidade entre argentinos e brasileiros. Estamos trabalhando para dar toda a segurança aos torcedores", disse Guilhermo Madero, diretor nacional de Segurança em Eventos de Futebol na Argentina.

Luis Calvano, chefe de imprensa de Juan Manoel Lugones, titular da agência que combate a violência no esporte Argentino, disse que "a operação de segurança da final será igualmente como qualquer outra que tenha um público visitante".

Ele classifica o jogo como de "risco médico em razão das queixas dos torcedores do Lanús pelo tratamento que receberam em Porto Alegre". No total, 500 policias trabalharão na partida de maneira semelhante ao que acontece em jogos entre Lanús x Boca e Lanús x River.

GREMISTAS

Há duas semanas, Thiago Floriano, responsável pelo departamento do torcedor gremista, esteve na Argentina, onde se reuniu com as autoridades de segurança de Buenos Aires para definir como será a logística da torcida do clube até o estádio.

A concentração dos torcedores na capital argentina será em Puerto Madero, um dos principais cartões-postais de Buenos Aires, cerca de 20 quilômetros do La Fortaleza. Os gremistas deixarão o local em ônibus e vans por volta das 16h30 (horário de Brasília) e serão escoltados por todo o trajeto, que deverá demorar 90 minutos.

A carga de cinco mil ingressos destinados ao Grêmio está esgotada. Desde a última segunda-feira, 75 ônibus e quatro aviões deixaram Porto Alegre com destino a Buenos Aires. Muitos torcedores viajaram de carro e até de balsa.

"Não vamos de carro porque é muito arriscado. Temos que nos precaver em todos os sentidos. Não acredito que vai rolar pancadaria porque teremos uma escolta forte e, se o Grêmio for campeão, vamos sair bem tarde do estádio", disse Thiago Greco, 24, que chegou à Argentina nesta terça-feira.

Ele viajou acompanhado de mais três amigos. Eles deixaram o carro em Colonia del Sacramento. Com ingresso, hospedagem e a viagem, o torcedor afirmou que gastará aproximadamente R$ 1.500.

"A preocupação com a violência existe, mas não podia perder esse jogo. Com exceção do jogo em Guayaquil [semifinal], quando estava sem dinheiro, fui a todas as partidas do Grêmio nesta Libertadores. De Marinas, na Venezuela, ao Deserto do Atacama, e agora aqui em Buenos Aires".

Já Vicente Saraiva, 34, viajou de avião. Há dez anos, o seu ônibus com a torcida gremista foi assaltado quando se dirigia ao La Bombonera para a final contra o Boca Juniors.

"Tinha me recuperado recentemente de uma leucemia e resolvi ir de ônibus fretado com amigos de Santa Maria. Na chegada ao estádio do Boca, o motorista entrou em uma rua sem saída e tivemos o ônibus depredado. Invadiram o nosso ônibus e os ingressos que estavam com o dono da excursão foram roubados", relembrou o torcedor.

Ele conseguiu assistir ao jogo após recorrer à diretoria gremista e à do Boca Juniors, que colocou os torcedores no estádio para evitar uma possível retaliação no jogo de volta. Vicente disse que gastará aproximadamente R$ 1.600 para ver sua segunda final do torneio sul-americano.

Já o pediatra Alexandre Braga, 37, fretou um ônibus com mais 39 amigos.

"O clima será de festa toda a viagem. Serão 250 litros de chopp e a cada parada vamos fazer um churrasco rapidinho", disse Braga, que deixou Porto Alegre por volta das 12h de terça-feira e espera chegar a Puerto Madero às 15h, momentos antes de a caravana gremista sair em busca do tão sonhado tricampeonato da Libertadores.


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