Folha de S. Paulo


XIMENA SUÁREZ, 28

Comissária de voo da Chapecoense lança livro e quer voltar a voar

Aizar Raldes /AFP
Ximena Suárez, sobrevivente do voo da LaMia, em sua casa em Santa Cruz de la Sierra
Ximena Suárez, sobrevivente do voo da LaMia, em sua casa em Santa Cruz de la Sierra

RESUMO A comissária de bordo Ximena Suárez, 28, foi uma dos seis sobreviventes da queda do avião da LaMia que levava a equipe da Chapecoense para a disputa do primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana, matando 71 pessoas.

Um ano depois da tragédia, diz ter se aproximado mais de sua família, lançou livro sobre sua experiência e diz que ainda não consegue entrar em um avião sem antes tomar calmantes.

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Desde o acidente, minha vida mudou muito e segue mudando a cada dia.

Me aproximei muito de Deus e comecei a dar valor à religião. Hoje, tenho uma relação muito mais forte com a minha família, com os meus amigos, e principalmente meus dois filhos, o Gabriel, de 3 anos, e o Thiago, de 7.

Estou aproveitando esta segunda oportunidade que Deus me deu para viver.

Coloquei metas e quero cumprir todas. A primeira foi a de publicar o meu livro, sobre minha vida e o acidente. Lancei nesta terça-feira (28).

A segunda é dar palestras motivacionais e para pessoas que tenham passado por grandes traumas. A terceira é a de voltar a voar e ser instrutora de tripulantes. Não sei quanto tempo ainda levarei para isso, mas não desistirei.

Voar não está sendo fácil. Nas três vezes que subi em um avião, a última delas para uma palestra em Curitiba, tive de tomar calmantes. Sem remédios, não consigo viajar.

Acredito que em breve tudo irá melhorar, pois sigo fazendo terapia e já sinto muitos avanços. Nos primeiros meses após o acidente eu tinha muitos pesadelos, mas agora já são menos.

Estou evoluindo mentalmente e fisicamente. Passei por cirurgia no pé, no nariz e tenho muitas cicatrizes. Marcas que ficaram daquele dia.

Minha situação financeira não é das melhores, mas também não quero ficar lamentando. Criei uma página na internet e arrecadei cerca de US$ 15 mil (R$ 48 mil) que serviram para pagar as despesas hospitalares, além dos US$ 25 mil (R$ 80 mil) que já tinha recebido de seguro. Tenho advogados que estão cuidando dos trâmites para receber outras indenizações.

Não estou parada. Estou trabalhando como modelo independente, fazendo fotos para roupas de lojas e empresas. Isso também tem ajudado em minha recuperação.

Infelizmente, nunca tive a oportunidade de ir a Chapecó, mas é algo que ainda farei. Eu sempre procuro me informar sobre a Chapecoense. Posso dizer que sou uma torcedora da Chapecoense. Ela está no meu coração.

Fiz uma tatuagem para marcar este dia e a dor que sentirei para sempre. É o avião da LaMia entrando em uma ferida aberta no meu corpo e ascendendo ao céu. As feridas físicas vão se curando, mas a do coração é para sempre.

Reprodução/Facebook/Ximena Suarez Otterburg
Ximena Suárez em um de seus trabalhos como modelo
Ximena Suárez em um de seus trabalhos como modelo

COMO ESTÃO OS OUTROS 5 SOBREVIVENTES

Josep Lago/AFP

Alan Ruschel, 28, teve uma fratura na 12 ª vértebra no acidente e passou por uma delicada cirurgia na coluna, pois corria o risco de perder totalmente os movimentos nas pernas.

Dos três jogadores sobreviventes, é o único que já voltou a atuar. Sua primeira partida foi em 7 de agosto, contra o Barcelona no Troféu Joan Gramper.

No dia 1º de setembro, em derrota para a Roma por 4 a 1 em amistoso na Itália, fez de pênalti o seu primeiro gol desde a volta.

Atuou por duas vezes na Copa Sul-Americana e no Campeonato Brasileiro, disputou cinco jogos. Tem sido relacionado pelo técnico Gilson Kleina.

Sirli Freitas/Divulgação/Flickr

Jackson Follmann, 25, perdeu parte da perna direita durante o acidente e não poderá voltar a jogar futebol profissionalmente.

Ele era o goleiro reserva da Chapecoense e atualmente usa uma prótese. Há alguns dias, fez sua primeira atividade com bola.

Embaixador do clube, está presente nas atividades do dia a dia da equipe.

Ainda não definiu o caminho que seguirá, mas não descarta ter uma carreira como um atleta paraolímpico. Quer também estudar. Administração esportiva ou relações públicas são as opções.

Em 21 de outubro deste ano, casou-se em Chapecó com Andressa Perkoviski.

Adriano Vizoni/Folhapress

Hélio Zampier Neto, 32, passou por cirurgia no tórax pois ficou com o pulmão em condição crítica em decorrência do acidente. Dos sobreviventes, foi o que ficou em situação mais grave no hospital.

Em abril deste ano, o zagueiro ano retomou os treinamentos, mas por causa de dores no joelho direito, o departamento médico da Chapecoense descartou uma volta aos gramados ainda no ano de 2017.

Tem marcado presença no dia a dia da equipe e acompanhado todas as partidas na Arena Condá.

Já colocou como meta voltar a atuar no primeiro semestre de 2018, mas ainda não há data definida.

Marcus Leoni - 22.jun.2017/Folhapress
Viva Como se Estivesse de Partida
Rafael Henzel
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Rafael Henzel, 44, foi o único dos 21 jornalistas que estavam no voo que sobreviveu. Passou por cirurgia no pé direito e superou uma pneumonia no tempo em que esteve internado.

No dia 21 de janeiro, pouco menos de dois meses após o acidente voltou a narrar uma partida pela Rádio Oeste Capital. Foi o empate em 2 a 2 no amistoso entre Chapecoense e Palmeiras na Arena Condá.

Quatro dias depois, ao lado de Galvão Bueno participou da transmissão da Globo do amistoso entre Brasil e Colômbia.

Lançou o livro "Viva Como Se Estivesse de Partida" e acompanha a Chape por todo o Brasil.

Reprodução/ESPN

Erwin Tumiri, 26, era o técnico de voo da LaMia. O boliviano sofreu ferimentos leves e no dia 2 de dezembro de 2016 foi o primeiro sobrevivente a deixar o hospital.

Hoje, vive na cidade de Cochabamba (BOL) ao lado de seus familiares e trabalha como mecânico aéreo e piloto particular.

Se apegou à fé, à religião e ao trabalho para conseguir superar a tragédia.

É avesso à aparições públicas. Em uma das raras entrevistas, ao canal boliviano Unitel, contou que está fazendo um curso para se tornar piloto de aeronaves comerciais.

Colocou esse como o seu maior objetivo.


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