Folha de S. Paulo


Após assalto a mecânicos, Massa se diz triste e descarta morar no Brasil

Único piloto brasileiro na categoria, Felipe Massa disse ficar "triste" pelo um assalto nas cercanias do autódromo que envolveu mecânicos e engenheiros da Mercedes.

"Eu amo o Brasil, mas agora não vou voltar a morar aqui, mesmo porque meu filho estuda em Mônaco, já fala três idiomas. Quem sabe eu volte no futuro, a um país melhor e mais seguro", completou.

A van que levava oito integrantes da escuderia alemã foi abordada por volta das 20h da noite de sexta-feira (10) na avenida Interlagos por bandidos que chegaram em um Volkswagen Polo de cor prata. Armados, eles roubaram mochilas, dinheiro, celulares, relógios e passaportes. Tiros chegaram a ser disparados para intimidar o grupo. Ninguém saiu machucado.

O piloto brasileiro acrescentou que sempre anda com escolta e com carro blindado no fim de semana do GP Brasil. "Não é só durante o fim de semana da F-1 que é preciso ter segurança. Precisa sempre."

"Não acho que seja um problema [para o futuro da categoria no Brasil]. Quem tem de avaliar isso é a organização", emendou.

Emerson Fittipaldi, bicampeão mundial da categoria e que esteve em Interlagos para acompanhar o treino classificatório, resumiu a ocorrência como "péssima" para o Brasil.

Na tarde deste sábado, investigadores da Polícia Civil estiveram no autódromo para fazer apurações e colher depoimentos. A ação policial não foi suficiente para atenuar o clima de insegurança dos pilotos.

"Quando eu soube do que aconteceu, fiquei horrorizado e expressei meus sentimentos no Twitter", disse o tetracampeão mundial Lewis Hamilton, que defende a Mercedes e não estava na van abordada.

"O mais frustrante é que estou na F-1 há dez anos, e todos os anos acontece algo desse tipo com alguém do paddock em São Paulo. E continua a acontecer", complementou.

Reprodução/Twitter/LewisHamilton

Hamilton pediu que, ao menos no final de semana do GP Brasil, seja montado um protocolo de segurança para reduzir a chance de incidentes desse tipo ocorrer, tanto para o público quanto para os que trabalham no evento.

"São Paulo e o Brasil são ótimos lugares, e pessoalmente, nunca vi um crime aqui. Sei da pobreza e criminalidade, e não quero trazer negatividade. Mas gostaria que fossem tomadas medidas para não ocorresse de novo", observou o piloto, que disse que os mecânicos assaltados estavam "abalados".

Reprodução/Twitter/LewisHamilton

O chefe da Mercedes, o austríaco Toto Wolff, não estava na van e lamentou o ocorrido.

Ele afirmou que a equipe receberá escolta policial e só andará em comboio até o final do GP. Em contato com a Folha, a Secretaria de Segurança Pública negou a informação.

Porém, às 19h05 a Folha flagrou ao menos quatro vans levando mecânicos e outros integrantes do estafe da Mercedes embora do autódromo com escolta de carros da Polícia Civil.

Na operação, um batedor da polícia foi à frente. Ele foi seguido por uma das vans, quatro carros da Mercedes e outra van. Um outro carro da Polícia Civil fechava o comboio até o hotel da escuderia, na zona sul.

Segundo Wolff, na manhã deste sábado havia tantos policiais em frente ao hotel da equipe que parecia que "uma guerra civil havia estourado". "O Brasil é um país legal, mas está assustador", disse.

Fábio Aleixo
Carro da Polícia Civil segue equipe da Mercedes na saída de Interlagos, neste sábado
Carro da Polícia Civil escolta equipe da Mercedes na saída de Interlagos, neste sábado

O finlandês Valtteri Bottas disse que a conquista da pole position neste sábado foi uma maneira de animar os mecânicos assaltados e a equipe.

"Estou muito feliz que todos estão bem e não houve consequências físicas. Obviamente, porém, é uma situação horrível de se estar", disse.

Além do assalto à van da Mercedes, um carro com três funcionários da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e um motorista foi abordado e conseguiu escapar porque era blindado.

"Três homens bateram com a arma no vidro do carro. Mas o motorista reagiu com profissionalismo e sangue frio. Por sorte não aconteceu nada", disse Matteo Bonciani, chefe de comunicação da entidade.

Em 2010, o piloto Jenson Button, à época na McLaren, foi vítima de uma tentativa de assalto quando retornava ao seu hotel. O motorista do veículo conseguiu escapar.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública afirmou em nota que o patrulhamento ao redor do autódromo foi reforçado e que 700 policiais trabalham nesse GP do Brasil.

No final da tarde, a FIA divulgou comunicado aos jornalistas em que pediu atenção à segurança.

"Nós gostaríamos de lembrar a todos para tomar as devidas precauções ao chegar e sair do circuito, em particular, nas mediações do autódromo José Carlos Pace", afirmou a nota.

Para minimizar o risco, a entidade também aconselhou os profissionais a remover os adesivos de estacionamento dos carros ao sair do circuito e trocar qualquer vestimenta com marcas antes de ir embora do local.


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