Folha de S. Paulo


NBB abre 10­ª edição e tenta aliar expansão e consolidação

Divulgação/Fotojump/LNB
Jogadores do Bauru antes da quarta partida das finais do NBB contra o Paulistano, no sábado (10)
Jogadores do Bauru antes da quarta partida das finais do NBB contra o Paulistano

O NBB, campeonato brasileiro de basquete, abre sua décima temporada neste sábado (4), com a repetição da final entre Bauru e Paulistano, em São Paulo, em busca de expansão e, ao mesmo tempo, de consolidação.

A LNB (Liga Nacional de Clubes), organizadora da competição, avança comercialmente, com novos parceiros­, como a Infraero, e números crescentes de audiência –presencial, de TV e digital. João Fernando Rossi, presidente da entidade, afirma que suas operações nunca fecharam no vermelho.

"Estamos trabalhando para ter uma base de fãs que nos coloque como a segunda modalidade do país em popularidade, já que não podemos ter a pretensão de chegar aos pés do futebol, e também ser reconhecida como a melhor entidade esportiva do Brasil, a mais respeitada", disse Sérgio Domenici, superintendente da LNB.

Por outro lado, os clubes que fazem parte da liga aguardam os efeitos deste princípio de prosperidade.

Tricampeão de 2010 a 2012 e vice em 2009, o Brasília foi o mais recente –e importante– participante a deixar a competição. Com dívidas salariais, abortou sua operação ao perder o apoio de patrocinadores. A ele se juntou o Macaé.

"Foi uma equipe sempre muito competitiva, com investimento alto. Se for pensar que o NBB tem três campeões até hoje, e um deles acabou, é algo preocupante", disse o ala-pivô Guilherme Giovannoni, que defendeu a equipe por oito anos e agora assinou com o Vasco. Em sua carreira, já passou por Itália, Espanha e Ucrânia.

A desistência do time da capital federal e de Macaé não foram fatos isolados, a despeito do crescimento do negócio como um todo. Duas temporadas atrás, o Limeira também saiu de quadra. Um ano depois, foi a vez do Rio Claro.

"A gente via que Brasília ficava refém da fonte de renda do patrocínio, e aí acabou. Acontece com certa frequência no Brasil, e que sirva de exemplo para que não aconteça de novo. Precisa diversificar", disse Giovannoni.

Essa é realmente uma das receitas que a liga tenta passar a seus associados. O superintendente Domenici cita estudo encomendado ao Instituto Áquila, que constatou que o maior risco de extinção de uma equipe do NBB está na dependência majoritária de um único patrocinador.

No caso de Brasília, houve a desistência simultânea de dois investidores. Somando isso a uma dívida de salário da temporada retrasada –que ainda não foi paga–, gerou-se uma perspectiva de deficit inibidora.

"Apesar de a liga hoje ser referência de gestão, o basquete não é uma ilha dentro do cenário brasileiro, de uma economia que oscila muito", disse Domenici. "Brasília sofreu um revés, aí teve uma atitude diferente. Parece que há clubes [de outras modalidades] que têm orgulho de dizer que devem um bilhão ou quase isso. No basquete é diferente. Foi uma atitude dura, que abalou toda uma cidade e a própria liga. Mas eles podem voltar mais fortes."

Do lado dos clubes, a despeito do esforço pela sustentabilidade, há um firme questionamento sobre qual seria o papel da liga nessa equação. É um discurso com o qual a LNB já está familiarizada.

O escritório central ouve queixas constantes. Como poderia uma entidade anunciar o patrocínio de um banco federal (Caixa) e de outros cinco parceiros (Sky, Avianca, Nike, Penalty e, agora, Infraero), sem contar convênios constantes com o ministério do Esporte, enquanto os cartolas dos times lidam com dúvidas sobre que tipo de elenco poderão montar na próxima temporada?

Contra esse tipo de incerteza, a diretoria da liga primeiro tenta oferecer o básico. Também procura empurrar seus associados a diversificar a renda.

"Os clubes têm de entender que a finalidade deles tem de ser o lucro, e não só a quadra. Muda tudo quando você tem essa percepção de gerar mais receita. Naturalmente, quando gera mais receita, vai ter mais equipe, base etc.", afirmou Domenici.

Para tentar ajudar os clubes na captação de parceiros, a liga contratou a MVPindex, empresa norte-americana que mensura o retorno de marcas nas mídias digitais. No ramo esportivo, a empresa já monitora 5 mil equipes, 36 mil atletas e, no basquete, trabalha com franquias como Los Angeles Lakers e New York Knicks.

"Enquanto isso, tentamos prover o mínimo necessário para que as equipes possam subsistir, como transporte, hospedagem, alimentação, arbitragem", disse o superintendente. "Para que o patrocínio seja investido em jogadores, marketing, comunicação, ativação."

Como forma de incentivo, a liga apresenta números em evolução.

Em sua nona campanha, o NBB acolheu 300.424 torcedores em seus ginásios que, no geral, ainda estão mal aparelhados. Em comparação, nas oito edições anteriores, a média de público foi de 287 mil pessoas. Nos playoffs, a taxa de ocupação dos ginásios foi superior a 70%.

Em acordos com o Grupo Globo e a Band, a liga também assegurou um retorno de R$ 574 milhões a seus investidores na última temporada. A Band fechou acordo para transmitir o campeonato por pelo menos mais dois anos.

Na internet, o crescimento foi ainda maior. Com apenas uma partida a mais transmitida on-line em parceria com o Facebook, a liga deu um salto de 571% em audiência, passando de 6.700 visualizações únicos em média por transmissão no ano anterior para 45.000.

Ao abrir o campeonato 2017/2018, a liga brasileira tem a quarta maior página de basquete do Facebook no mundo, superando a marca de 500 mil seguidores. Expandindo suas plataformas, a liga agora vai inaugurar parceria também com o Twitter.

Sérgio Domingues/Divulgação/HDR Photo
Jeff Agba, do Bauru, e Guilherme Giovannoni, do Brasília http://lnb.com.br/galerias/nbb-1213-bauru-x-brasilia/
O atleta Guilherme Giovannoni, jogando pelo Brasília, marca Jeff Agba (centro), do Bauru

A expansão via comunicação, ficando de olho em qualquer movimento das mais diversas mídias, é considerada fundamental pela cúpula da LNB.

"Temos de ter muito conteúdo em nossas plataformas para formar um grande 'big data', ter o registro dessas pessoas e poder conversar com os fãs", disse Domenici.

ADEQUAÇÕES

Lutar pelo título é o que qualquer liga gostaria de todos os seus participantes. A competitividade seria a alma do esporte. Quanto maior o investimento, então, maiores as chances.

De forma realista, porém, nem sempre é possível ter a taça em mente. Assim como não existe a garantia da equação entre investidores reais e resultados.

"Joguei na Europa, e lá é muito comum se montar equipes com menor investimento. Eles fazem o trabalho dentro daquilo. Você pode ter um time competitivo mesmo assim", disse o ala Marcelinho Machado, 42, que vai para seu décimo NBB.

Todas as dez campanhas do chutador foram pelo Flamengo, pentacampeão, com quatro títulos seguidos de 2013 a 2016. Com um currículo desses, pode ser fácil falar nesses termos. Mas Marcelinho é o primeiro a citar um dos adversários que seu clube derrotou na final de 2014, o Paulistano, como exemplo nessa linha.

"Sem o maior investimento da liga, eles têm sempre chegado", disse Machado sobre o clube, que também foi vice-campeão na última temporada, derrotado pelo Bauru. "As coisas precisam ser feitas com muita cautela."

A saída de Brasília e Macaé foi suprida por Botafogo e Joinville, finalistas da última Liga Ouro, a liga de acesso do NBB. Com o ingresso do Botafogo, o campeonato de basquete soma agora quatro clubes que também jogam a Série A do Brasileiro de futebol, ao lado de Flamengo, Vitória e Vasco.

Marcelinho é um entusiasta da ideia. "Acho importante ter esses clubes de massa, de camisa, que trazem mais visibilidade", disse o jogador, que já passou por clubes da Itália e Lituânia. "Também trazem essa rivalidade de que o torcedor gosta. De repente equipes de São Paulo podem entrar também, virando uma tendência."

O ala afirma que, mesmo pelo Flamengo, porém, já enfrentou temporadas com atrasos salariais. "Gosto de ressaltar sempre que as coisas precisam ser feitas com muita cautela. Já vivi várias situações jogando por clubes grandes assim. Precisa ser bem calculado para que não seja um tiro no pé", disse Machado.

Na temporada passada, o Vasco chegou a ficar em débito com seus atletas. A despeito das dificuldades, para este ano o clube de São Januário só reforçou seu investimento. No elenco vascaíno, existe uma expectativa de que os salários voltem a atrasar na temporada, com a recomendação de figuras mais experientes do vestiário de que os jogadores procedam com prudência a partir de depósitos mensais.

De todo modo, Machado vê com otimismo o cenário da liga. "Agora temos algo mais sólido. Pela conversa entre nós jogadores, em nossas reuniões, percebemos essa evolução", disse.

Uma das ferramentas instauradas para esta temporada é o registro de contratos de trabalho, por parte dos clubes, com os atletas.

Outra regra já válida é de que nenhum clube poderá ter débitos –ou, pelo menos, acordos firmados– com jogadores e treinadores até a data de sorteio da tabela da próxima temporada, sob pena de exclusão do campeonato.

"Como liga, ainda é uma organização jovem, que certamente tem muito a evoluir ainda. Pensando no primeiro NBB e agora, acho que o que não vivemos mais é aquele momento de incerteza", disse Marcelinho Machado.

Como comparativo, a liga de clubes da Argentina foi fundada em1984. A da Espanha, polo bastante atraente para revelações brasileiras, em 1983. A Euroliga, que reúne os principais clubes do Velho Continente, só foi formalizada em 2000, fora da alçada da Fiba.

"Nos próximos dez anos, a liga vai estar bem avançada em relação a hoje. Temos alguns fundamentos consolidados e fidelidade ao basquete", disse o presidente da LNB, João Fernando Rossi. "Esperamos estar estabilizados em praticamente todos os Estados, com clubes e jogadores mais desenvolvidos e o basquete como segundo esporte. O trabalho mais difícil nós fizemos nestes dez anos. Agora estamos colhendo."


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