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Primeiro brasileiro na base do River Plate, Cleiton sonha com chance

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Cleiton comemora gol em jogo da 5ª divisão, o sub-18 do River Plate

"Buenas tardes, profe."

Cleiton Grefe, 18, faz questão de passar ao lado de Marcelo Gallardo, técnico dos profissionais do River Plate, e cumprimentá-lo sempre que tem chance. Não apenas por educação. É para demarcar terreno e ser lembrado.

O atacante é o primeiro brasileiro a atuar pelas categorias de base da equipe argentina na história. Nesta terça (31), o River decide uma vaga na final da Libertadores contra o Lanús. Na primeira semifinal, em casa, venceu por 1 a 0.

Cleiton tem mais dois meses para impressionar os diretores do clube e provar que merece ficar.

"O que o treinador me disse é que sou forte no mano a mano, com um futebol diferente do que eles estão acostumados a ver por aqui. Preciso melhorar um pouco na força. Mas ele me falou que tenho tudo para ficar. Os dirigentes também me elogiam", disse Cleiton, que costuma ir ver os jogos da equipe principal no estádio Monumental de Nuñes, sonhando em quando vai chegar a sua vez. O técnico de sua categoria é Gustavo de la Llera, ex-zagueiro de Independiente e All Boys.

De Ponta Porã, no Mato Grosso, Cleiton tenta agradar todos os dias. Nos treinos, nos jogos, na convivência. Puxa conversa, faz amizades, aceita os convites dos companheiros de elenco para passeios por Buenos Aires. A língua não é problema. A cidade em que cresceu faz divisa com Pedro Juan Caballero, no Paraguai. O símbolo do município é uma cuia de chimarrão e outra de tererê, para simbolizar a integração da cultura dos dois países. Mesmo quando conversa em português, Cleiton solta algumas expressões em espanhol.

"Tenho muitos amigos que falam [espanhol]. Isso nunca foi problema. Eu faço amizade rápido. As palavras que não entendo, não tenho vergonha de perguntar o que significam", completa.

É dentro de campo que precisa corresponder e é onde mora o seu otimismo. Atacante que atua pelos lados do campo, teve de refinar a técnica na Argentina, dar passes rápidos, conduzir a bola e não ter medo de tentar as jogadas individuais.

Ele sequer tinha ideia de que era o primeiro brasileiro da base do River Plate, o clube com mais títulos argentinos (36) e vencedor de três Libertadores. Foi informado disso apenas após anotar o primeiro gol pela 5ª divisão. como é chamado o sub-18.

De vez em quando, é convocado para treinar na equipe reserva, o que espera ser seu passo seguinte, quando (ele não fala "se") for contratado. É nessas ocasiões que tem contato com Gallardo, treinador e ídolo histórico do River. Ser promovido vai significar também a assinatura de contrato profissional.

CAMINHO

Cleiton foi indicado ao River Plate quando atuava pelo 2 de Mayo, time de Juan Caballero. Os dois clubes possuem parceria e o brasileiro foi emprestado no final de 2016 por um ano com opção de compra. Deixou em Ponta Porã a mãe e dois irmãos.

Ele tenta quebrar uma barreira. Os clubes brasileiros apostam em jogadores argentinos, mas a recíproca não é verdadeira. Nos 30 times que disputam hoje a Superliga, o novo nome da primeira divisão, há apenas um atleta do país: Mosquito, atacante contratado do Boavista, do Rio. Fez apenas um jogo até agora pelo Arsenal de Sarandí.

Desde a passagem do meia Silas pelo San Lorenzo, entre 1995 e 1997, nenhum jogador brasileiro se tornou ídolo na Argentina. Outros, como o lateral Baiano e o meia Iarley, tiveram breves e razoáveis passagens pelo Boca Juniors, mas não deixaram saudades.

O espelho para Cleiton é o uruguaio Alan Marcel, 18. O atacante era seu companheiro na 5ª divisão, impressionou a Gallardo e foi levado para os profissionais. Entrou no segundo tempo no jogo contra o San Martin, em 18 de setembro, e fez um gol.

Antes de chegar a Buenos Aires, Cleiton foi avisado de que poderia haver certo preconceito com jogadores brasileiros. Para alguns treinadores argentinos, há dificuldade de adaptação para quem vem de fora. Ele afirma não ter tido qualquer problema. Mas sabe onde pisa.

Não provocou os anfitriões pelo risco que a seleção vivia de não se classificar para a Copa na Rússia. Constatou que os torcedores no país estavam uma pilha de nervos antes do confronto com o Equador, que selou a vaga para o Mundial do próximo ano.

"Os argentinos me tratam bem. Há a rivalidade e as brincadeiras com comparações entre Pelé e Maradona. Eu saio delas fácil", garante.

Ele encontrou uma resposta que serve para agradar a todo mundo.

"Eu digo que não vi nenhum dos dois jogar e para mim, o melhor é o Messi."


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