Folha de S. Paulo


Relaxamento levou a queda do Corinthians, dizem psicólogos

Nivaldo Lima/Futura Press/Folhapress
Após derrota para a Ponte Preta, muro da sede do Corinthians foi pichado com ameaças aos jogadores
Após derrota para a Ponte Preta, muro da sede do Corinthians foi pichado com ameaças aos jogadores

Do oba-oba após um primeiro turno quase impecável, o Corinthians passou ao relaxamento pela vantagem construída na liderança até perder a confiança com a sequência de resultados negativos. Essas são as razões apontadas por psicólogos do esporte para explicar a queda de rendimento do Corinthians no Campeonato Brasileiro.

Após terminar a primeira metade da competição com 47 pontos (82,4% de aproveitamento), o melhor desempenho desde 2006, quando o torneio passou a ser disputado no atual formato e por 20 clubes, a equipe conquistou apenas 12 pontos em 12 partidas no segundo turno, o que corresponde a 33,3%.

O time alvinegro, que já esteve 11 pontos à frente do segundo colocado neste Brasileiro, após a 20ª rodada, viu essa diferença despencar.

"É muito normal, comum, acontecer uma queda de energia de ativação quando equipes ou atletas conseguem construir uma vantagem muito grande", afirma João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista de Psicologia do Esporte.

"Nessas equipes, geralmente acontecem desvios de concentração, redução da força mental e da força motivacional", completa o psicólogo, que considera fundamental a presença de um profissional da área na comissão técnica de times de ponta.

O Corinthians não possui psicólogos no seu departamento profissional. O clube tem apenas um que trabalha nas categorias de base.

Ex-psicólogo do Palmeiras, Gustavo Korte, também cita a perda de concentração em razão do excesso da autoconfiança como um dos pontos que atrapalharam o desempenho corintiano.

De acordo com ele "quando você está em alto rendimento precisa de uma capacidade de concentração, de foco, de liderança muito grande, tanto do vestiário como fora, para estar sempre conectado com os objetivos".

Nell Salgado, coach para atletas de alta performance, diz que o Corinthians perdeu sua principal característica que foi a efetividade demonstrada no primeiro turno.

Ela ainda vê outro detalhe com a perda de confiança: o desgaste emocional e, consequentemente, pequenos atritos no elenco. No último domingo (29), Clayson ficou irritado após Jadson, que é o cobrador oficial de faltas, não deixa-lo fazer uma cobrança.

"Quando os resultados não acontecem ou a jogada não sai, o atleta começa a perder a confiança. Quando as coisas não funcionam como antes, os jogadores vão abaixando a guarda e começam os atritos", afirmou.

De acordo com Korte, essa irritação já foi demonstrada há oito dias, quando o Corinthians perdeu para o Botafogo por 2 a 1, no Engenhão. Na oportunidade, Fagner bateu boca com Bruno Silva, do time carioca, após o árbitro da partida, Rodrigo Batista Raposo, não assinalar um pênalti em Jô nos acréscimos do segundo tempo.

O próprio Clayson trocou tapas com policiais à paisana no gramado e teve que prestar depoimento.

"Você consegue observar a expressão corporal dos jogadores, um maior nervosismo, já que existe uma pressão sobre eles. Só que os jogadores não estão dando a solução que precisam para trabalhar com isso", disse Korte.

A pressão vem principalmente da torcida. Nesta segunda (30), o muro do Parque São Jorge amanheceu com pichações com frases como "acabou a paz" e "ou joga por amor ou por terror".

"A melhor forma é esquecer o que foi feito e dar o máximo nessas últimas rodadas, como se o campeonato estivesse começando", aconselha o psicólogo.

A pressão tende a ficar maior na próxima semana ou até mais amena dependendo do resultado do clássico contra o Palmeiras, marcado para domingo (5), às 17h, no Itaquerão, pela 32ª rodada.

"Não só pela rivalidade, mas também pela distância entre os times na tabela, o clássico pode ser um divisor de águas. A equipe que tiver um controle emocional mais apurado, vai ter vantagem nesse clássico porque tecnicamente e fisicamente as equipes são muito parelhas", completou Cozac.


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