Folha de S. Paulo


Croata deve manter base no basquete e cobra presença de atletas da NBA

Ozan Kose - 10.set.2017/AFP
Croatia's head coach Aleksandar Petrovic reacts during the FIBA Eurobasket 2017 men's round 16 basketball match between Croatia and Russia at Sinan Erdem Sport Arena in Istanbul on September 10, 2017. / AFP PHOTO / OZAN KOSE
O croata Aleksandar Petrovic, novo treinador da seleção brasileira masculina de basquete

Aleksandar Petrovic, 58, foi confirmado nesta terça-feira (24) como o novo técnico da seleção brasileira masculina de basquete. Caberá a ele guiar a equipe nas inéditas eliminatórias para a Copa do Mundo, em 2019, na China. Com essa responsabilidade, não esperem dele, em um primeiro momento, uma renovação na lista de convocados.

Com menos de um mês para formar e preparar a seleção, Petrovic pretende chamar, de primeira, muitos dos atletas presentes durante o último ciclo olímpico, sob o comando do argentino Rubén Magnano.

"Precisamos comprar tempo para nosso trabalho", afirmou o técnico, que fala espanhol fluentemente. "Será tudo muito rápido. Nessa primeira janela serão apenas seis dias de treino."

A seleção fará sua estreia pelas eliminatórias em 24 de novembro, contra o Chile, fora de casa, em Osorno. Depois, no Rio de Janeiro, na Arena Carioca 1, enfrentará a Venezuela em 27 de novembro.

A primeira convocação deve sair ainda nesta semana, com cerca de 24 atletas, com contribuição do gerente da seleção, o ex-jogador Renato Lamas.

Apenas os jogadores da NBA estão descartados para essa lista inicial, devido a restrições do calendário liga. Eles só vão poder se apresentar em duas das janelas das eliminatórias, que não coincidam com a temporada norte-americana.

Petrovic foi enfático ao falar sobre essas janelas: se os atletas da NBA tiverem o interesse de eventualmente disputar a Copa do Mundo, deverão se apresentar sempre que liberados e convocados.

"Quem não quiser jogar nestas oportunidades, não vai para o Mundial. Simples assim", disse. "Porque não se trata de um compromisso muito longo. Será coisa de sete dias. Além disso, nestes meses, teremos dois compromissos difíceis, com jogos fora de casa contra Colômbia e Venezuela [nos dias 29 de junho e 2 de julho, respectivamente]. Cada partida vale muito, então precisamos sempre do grupo mais forte que puder."

Considerando a redução da legião brasileira na liga norte-americana, talvez não haja tanto problema assim no futuro.

São, no momento, cinco jogadores por lá: os pivôs Nenê (Houston Rockets) e Cristiano Felício (Chicago Bulls), o armador Raulzinho (Utah Jazz) e o ala Bruno Caboclo e o pivô Lucas Bebê (ambos do Toronto Raptors). Desse quinteto, porém, apenas Nenê e Felício têm contrato garantido para a temporada 2018/2019.

O treinador afirma que já conversou com alguns atletas em atividade no exterior e que pretende, oficialmente, entrar em contato com quem falta na agenda.

Uma renovação na seleção deve ser conduzida gradativamente, na visão de Petrovic.

A cada convocação final, com 12 atletas, o croata deve adicionar dois jogadores jovens, de até 21 anos, para participarem das atividades, ganhando cancha. Um procedimento também adotado por seu antecessor, o argentino Rubén Magnano.

O técnico, obviamente, deixa portas abertas para revelações na seleção. Mas acredita que os jovens valores deveriam ser preparados para o ciclo de Paris-2024.

"Tenho agora três objetivos: que nos classifiquemos sem dificuldades para o Mundial e que, uma vez lá, joguemos bem para tentar uma vaga para [as Olimpíadas de] Tóquio. Paralelamente, temos de preparar essa nova geração para 2021", disse.

Petrovic pretende também reunir os jogadores jovens que considerar mais interessantes para dois períodos de treinamento, de cerca de dez dias, por ano.

NA ESTRADA

A agenda apertada faz o novo técnico da seleção, que vai morar em Campinas, cair logo na estrada. Apresentado nesta terça em São Paulo, estará em Franca na quinta (26) para assistir aos dois primeiros jogos das finais do Paulista, entre o time local e o Paulistano.

Depois, vai para Belo Horizonte, para assistir a um torneio amistoso, com seis clubes do NBB: Flamengo, Vasco, Botafogo, Vitória, Basquete Cearense e Minas Tênis.

A apresentação da seleção deve ser realizada em 20 de novembro, diretamente no Aeroporto Internacional de Guarulhos. De lá, seguiriam para o Chile.

Petrovic trabalhou com a seleção croata até setembro, disputando o Campeonato Europeu. Mas admite que recebeu o primeiro contato da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) há cerca de três meses.

Uma vez terminado o EuroBasket, avançou nas negociações e passou a estudar jogos da seleção e dos clubes brasileiros.

O salário do croata será pago pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro), seguindo os moldes do acordo anterior com o argentino Rubén Magnano.

Para auxiliar Petrovic, a CBB montou uma comissão técnica com auxiliares brasileiros, sob gerência Renato Lamas.

Foi aproveitado o estafe que trabalhou com a seleção na Copa América deste ano. César Guidetti, do Pinheiros, técnico interino na campanha, será um dos assistentes, assim como Bruno Savignani, ex-Brasilia, e Felipe Santana, o Filé, do Palmeiras.

Com um grupo renovado, a equipe caiu na primeira fase, pelo Grupo A, em Medellín, na Colômbia, com derrotas para México e Porto Rico.

A seleção das eliminatórias será mais forte e experiente.

TRABALHO RECENTE

A Croácia de Petrovic foi eliminada nas oitavas do Europeu deste ano pela Rússia, que avançou à disputa por medalhas, perdendo o bronze para a Espanha. Foi sua terceira passagem pela equipe. Treinador há 26 anos, ele também já dirigiu a Bósnia e Herzegovina.

Na Rio-2016, Petrovic levou a seleção croata às quarta de final, sendo derrotado pela arquirrival Sérvia, eventual medalhista de prata.

Na fase de grupos, a Croácia liderou a chave B. Bateu, inclusive, o Brasil pela terceira rodada, por 80 a 76, e ainda superou potências como Espanha e Lituânia.

Seu trabalho para chegar ao Rio foi de curto prazo. O veterano técnico foi contratado às pressas para a disputa de um Pré-Olímpico mundial em julho do ano passado, em Turim. Lá, eliminaram a Grécia e a seleção da casa para garantir vaga.

O fato de ter obtido bons resultados, nessas condições, com uma instável seleção croata, é um fator a ser considerado em desafiadora empreitada no Brasil.

Aleksandar "Aco" Petrovic, de 1,94m de altura, teve longa carreira como armador, de 1979 a 1991.

Irmão mais velho do legendário ala-armador Drazen Petrovic, morto em 1993 em um acidente de carro, o ex-armador foi medalhista de bronze nas Olimpíadas de Los Angeles-1984 e nos Mundiais de 1982 e 1986 pela Iugoslávia.


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