Na cidade famosa pelas praias, uma espécie de piscina sem água tem lapidado promessas olímpicas, atraído visitantes e gerado oportunidades de negócios.
Conhecidas como "bowls", essas estruturas de concreto usadas como pistas de skate têm se espalhado por Florianópolis a ponto de a cidade ser chamada de "Califórnia brasileira" por skatistas.
Foi no Estado no oeste americano que surfistas começaram a usar piscinas sem água devido à estiagem, nos anos 1960, para andar de skate. Imitando movimentos do surfe, deram origem à modalidade.
Pedro Barros, 22, skatista de Florianópolis cotado para representar o Brasil em Tóquio-2020, a primeira Olimpíada com skate, é um dos que usam a comparação.
"Florianópolis e Califórnia são muito fortes no skate e no surfe, temos amizades em comum e fazemos parte de um mesmo circuito", afirma.
Harry How - 30.jul.2010/Getty Images/AFP | ||
Pedro Barros disputa os X-Games em 2010 |
De acordo com a CBSK (Confederação Brasileira de Skate), o Brasil terá três vagas em cada modalidade, nos naipes masculino e feminino. Os representantes do país serão conhecidos em 2019, com base no ranking mundial.
Se os jogos fossem hoje, Pedro Barros e Yndiara Asp, 19, ambos de Florianópolis, seriam os principais representantes na categoria park, disputada em bowls.
Até os anos 1990, a capital catarinense não tinha pistas desse tipo. Hoje, segundo praticantes da modalidade, existem ao menos 20.
A maioria fica no bairro Rio Tavares. Trata-se de uma área sossegada, afastada do circuito turístico da cidade, que se tornou reduto de skatistas.
A primeira pista de skate do Rio Tavares foi construída em 1996 por André Barros, pai de Pedro Barros. Foi nela que o skatista, hoje seis vezes campeão dos X-Games, principal competição de esportes radicais do mundo, começou.
"Eu tinha descoberto o skate havia pouco tempo e estava fissurado. Vi que sem onda eu poderia me divertir muito com o skate. O Pedro aprendeu ali", afirma André.
Hoje, os Barros têm três pistas na região: um halfpipe (pista em formato de "U"), uma "flow area" (com obstáculos urbanos) e um bowl. Elas são usadas em etapas do mundial e ficam abertas ao público três dias por semana.
A maior parte das pistas de skate de Florianópolis com padrão internacional fica em áreas particulares. Mas, por conta da "cultura do skate" que os atletas profissionais conferem à cidade, começam a surgir pistas públicas.
Em 2015, no bairro Costeira do Pirajubaé, uma área pobre do município, foi inaugurada uma pista com paredes de 3 metros de altura. No ano passado, o local recebeu o Vans Park Series, prova tradicional do skate mundial.
"Isso aqui é de outro mundo. Só na gringa a gente encontra coisa parecida", diz Ricardo Américo, 24, morador local que anda de skate ali.
Para Leo Kakinho, skatista de Guaratinguetá (SP) que se mudou para a capital catarinense em 1993 porque "o skate em São Paulo estava decadente", Florianópolis tem os melhores bowls do Brasil.
"Vivemos o estilo de vida da Califórnia. Surfe de manhã e skate de tarde", conta.
Marcelo Mug/Divulgação | ||
Pedro Barros participa de treino para etapa do circuito mundial |
NEGÓCIO
O skate na capital catarinense vem se firmando como oportunidade de negócios.
Além de lojas e marcas de roupas, há escolas para formação de atletas e empresas especializadas em locação e construção de pistas.
Rafael Bandarra, 45, abriu em 2004 uma pousada para skatistas com um bowl.
"Floripa é uma referência em skate. Todo mundo que disputa o circuito [mundial] passa por aqui", afirma.
O surfista Guga Arruda decidiu investir no ramo imobiliário. Ele está à frente de um condomínio residencial de 25 lotes com pista de skate.
A pista do condomínio já sediou etapa do circuito mundial. Ela fica onde a construtora havia projetado uma piscina. "Tendo em vista a vocação da cidade, entendi que a pista de skate seria mais interessante", diz.
A prefeitura de Florianópolis não tem dados para medir o impacto do skate na economia local, mas considera que o esporte dá visibilidade internacional à cidade.
"O que se observa é que o skate vem agregando cada vez mais, fazendo com que o esporte cresça, especialmente junto aos jovens", diz Márcio Alves, secretário de Cultura, Esporte e Juventude.
O local de treino e concentração dos representantes do skate nacional na Olimpíada não está definido, mas a CBSK já considera Florianópolis o local ideal.
A CBSK ainda busca se firmar como entidade representante do skate nos jogos. Por conta de filiações internacionais, a tarefa pode ficar com a CBHp (Confederação Brasileira de Hóquei sobre Patins), o que os skatistas rejeitam. O caso está em discussão, mas o COB (Comitê Olímpico do Brasil) já comunicou que "pode haver diálogo" para entendimento.
Além do skate, o COI (Comitê Olímpico Internacional) aprovou para Tóquio-2020 surfe, karatê, escalada e beisebol/softbol.