Folha de S. Paulo


Esporte olímpico, skate tem Florianópolis como meca no Brasil

Marco Santiago - 27.mar.2016/A Notícia do Dia
Pedro Barros disputa campeonato na pista construída por seu pai em Florianópolis
Pedro Barros disputa campeonato na pista construída por seu pai em Florianópolis

Na cidade famosa pelas praias, uma espécie de piscina sem água tem lapidado promessas olímpicas, atraído visitantes e gerado oportunidades de negócios.

Conhecidas como "bowls", essas estruturas de concreto usadas como pistas de skate têm se espalhado por Florianópolis a ponto de a cidade ser chamada de "Califórnia brasileira" por skatistas.

Foi no Estado no oeste americano que surfistas começaram a usar piscinas sem água devido à estiagem, nos anos 1960, para andar de skate. Imitando movimentos do surfe, deram origem à modalidade.

Pedro Barros, 22, skatista de Florianópolis cotado para representar o Brasil em Tóquio-2020, a primeira Olimpíada com skate, é um dos que usam a comparação.

"Florianópolis e Califórnia são muito fortes no skate e no surfe, temos amizades em comum e fazemos parte de um mesmo circuito", afirma.

Harry How - 30.jul.2010/Getty Images/AFP
Pedro Barros disputa os X-Games em 2010
Pedro Barros disputa os X-Games em 2010

De acordo com a CBSK (Confederação Brasileira de Skate), o Brasil terá três vagas em cada modalidade, nos naipes masculino e feminino. Os representantes do país serão conhecidos em 2019, com base no ranking mundial.

Se os jogos fossem hoje, Pedro Barros e Yndiara Asp, 19, ambos de Florianópolis, seriam os principais representantes na categoria park, disputada em bowls.

Até os anos 1990, a capital catarinense não tinha pistas desse tipo. Hoje, segundo praticantes da modalidade, existem ao menos 20.

A maioria fica no bairro Rio Tavares. Trata-se de uma área sossegada, afastada do circuito turístico da cidade, que se tornou reduto de skatistas.

A primeira pista de skate do Rio Tavares foi construída em 1996 por André Barros, pai de Pedro Barros. Foi nela que o skatista, hoje seis vezes campeão dos X-Games, principal competição de esportes radicais do mundo, começou.

"Eu tinha descoberto o skate havia pouco tempo e estava fissurado. Vi que sem onda eu poderia me divertir muito com o skate. O Pedro aprendeu ali", afirma André.

Hoje, os Barros têm três pistas na região: um halfpipe (pista em formato de "U"), uma "flow area" (com obstáculos urbanos) e um bowl. Elas são usadas em etapas do mundial e ficam abertas ao público três dias por semana.

A maior parte das pistas de skate de Florianópolis com padrão internacional fica em áreas particulares. Mas, por conta da "cultura do skate" que os atletas profissionais conferem à cidade, começam a surgir pistas públicas.

Em 2015, no bairro Costeira do Pirajubaé, uma área pobre do município, foi inaugurada uma pista com paredes de 3 metros de altura. No ano passado, o local recebeu o Vans Park Series, prova tradicional do skate mundial.

"Isso aqui é de outro mundo. Só na gringa a gente encontra coisa parecida", diz Ricardo Américo, 24, morador local que anda de skate ali.

Para Leo Kakinho, skatista de Guaratinguetá (SP) que se mudou para a capital catarinense em 1993 porque "o skate em São Paulo estava decadente", Florianópolis tem os melhores bowls do Brasil.

"Vivemos o estilo de vida da Califórnia. Surfe de manhã e skate de tarde", conta.

Marcelo Mug/Divulgação
Pedro Barros participa de treino para etapa do circuito mundial
Pedro Barros participa de treino para etapa do circuito mundial

NEGÓCIO

O skate na capital catarinense vem se firmando como oportunidade de negócios.

Além de lojas e marcas de roupas, há escolas para formação de atletas e empresas especializadas em locação e construção de pistas.

Rafael Bandarra, 45, abriu em 2004 uma pousada para skatistas com um bowl.

"Floripa é uma referência em skate. Todo mundo que disputa o circuito [mundial] passa por aqui", afirma.

O surfista Guga Arruda decidiu investir no ramo imobiliário. Ele está à frente de um condomínio residencial de 25 lotes com pista de skate.

A pista do condomínio já sediou etapa do circuito mundial. Ela fica onde a construtora havia projetado uma piscina. "Tendo em vista a vocação da cidade, entendi que a pista de skate seria mais interessante", diz.

A prefeitura de Florianópolis não tem dados para medir o impacto do skate na economia local, mas considera que o esporte dá visibilidade internacional à cidade.

"O que se observa é que o skate vem agregando cada vez mais, fazendo com que o esporte cresça, especialmente junto aos jovens", diz Márcio Alves, secretário de Cultura, Esporte e Juventude.

O local de treino e concentração dos representantes do skate nacional na Olimpíada não está definido, mas a CBSK já considera Florianópolis o local ideal.

A CBSK ainda busca se firmar como entidade representante do skate nos jogos. Por conta de filiações internacionais, a tarefa pode ficar com a CBHp (Confederação Brasileira de Hóquei sobre Patins), o que os skatistas rejeitam. O caso está em discussão, mas o COB (Comitê Olímpico do Brasil) já comunicou que "pode haver diálogo" para entendimento.

Além do skate, o COI (Comitê Olímpico Internacional) aprovou para Tóquio-2020 surfe, karatê, escalada e beisebol/softbol.


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