Folha de S. Paulo


COI reconhece que eleições de sedes olímpicas podem ter sido compradas

Jotta de Mattos/Photo Press/Folhapress
A Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público Federal e a Receita Federal do Brasil, deflagra a Operação Unfair Play, nova fase da Operação Lava-Jato, nesta terça-feira (5), com o objetivo de desmantelar um esquema criminoso envolvendo o pagamento de propina em troca da contratação de empresas terceirizadas por parte do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A operação conta com apoio de autoridades francesas. Na foto, o presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), Arthur Nuzman, chega para prestar depoimento.
Carlos Arthur Nuzman chega à sede da Polícia Federal no Rio para prestar depoimento

O COI (Comitê Olímpico Internacional) reconheceu nesta segunda-feira (11), em meio à sessão da entidade em Lima, no Peru, que recentes eleições para cidades-sede dos Jogos Olímpicos podem ter sido fraudadas –com compra de votos de seus membros.

Em comunicado, o comitê afirmou que está "totalmente comprometido em proteger a integridade do esporte" e que vai agir contra transgressores.

Ele também revelou que sua comissão de ética pediu a seus advogados que fizessem contato com autoridades brasileiras para tomar mais conhecimento da investigação sobre uma suposta compra de votos em 2009, ano em que o Rio foi eleito sede da Olimpíada de 2016.

O posicionamento ocorre na semana seguinte à Operação Unfair Play ("Jogo Sujo"), da Polícia Federal, que intimou o dirigente Carlos Arthur Nuzman a depor sob suspeita de agir como elo nas fraudes. Também pesam suspeitas sobre a escolha de Tóquio como sede dos Jogos de 2020.

"A comissão de ética do COI tem acompanhado essa questão. Quando houver provas, vamos agir", disse a entidade no comunicado.

A operação da Polícia Federal e de autoridades francesas ligou Nuzman a Lamine Diack, ex-presidente da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo), e seu filho, Papa Diack. Além disso, o empresário Arthur César de Menezes Soares, conhecido como "Rei Arthur", também integraria o esquema.

As autoridades investigam o suposto pagamento de US$ 2 milhões para o senegalês Lamine Diack, membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) na eleição que escolheu o Rio como sede da Olimpíada de 2016.

"O comitê executivo do COI reafirmou hoje [nesta segunda-feira] que infrações do passado serão analisadas. Em relação à investigação em torno do ex-presidente da IAAF, Lamine Diack, e seu filho, Papa Massata Diack, promotores da França afirmaram haver indícios de que pagamentos foi feitos em troca de votos", disse a nota.

"Neste contexto, no que diz respeito a votos de cidades-sede dos Jogos Olímpicos no passado, o COI tomou ações imediatas. O COI juntou-se à investigação como parte cível há mais de um ano. Logo que provas foram exibidas contra Lamine Diack, ele perdeu sua condição de membro honorário do COI, em novembro de 2015."

PONTE

Nuzman é investigado sob suspeita de ter feito a "ponte" entre o esquema de corrupção do governo Sérgio Cabral e os membros do COI. A propina ao senegalês foi debitada, segundo a Procuradoria, da devida pelo empresário Arthur César de Menezes Soares, o "Rei Arthur", ao peemedebista. O empresário obteve mais de R$ 3 bilhões em contratos com o Estado.

O bloqueio de bens atendeu a um pedido do Ministério Público Federal para garantir o pagamento de danos morais coletivos em caso de condenação dos réus. Para os procuradores, o caso de corrupção provocou danos à imagem do país no exterior. O valor solicitado foi de R$ 1 bilhão.

Em sua petição para realizar a operação, a procuradoria afirma que "há fortes indícios de que Carlos Arthur Nuzman teve participação direta nos atos de compra de votos para membros do COI na escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e no repasse da vantagem indevida (propina) destinada a Sérgio Cabral e em enviada diretamente a Papa Massata Diack, por meio de Arthur Soares".

Durante a operação, a Polícia Federal encontrou na casa de Nuzman R$ 480 mil em notas de dólares, libras, reais e euros. Também foi apreendido um passaporte russo pertencente ao cartola.

Como a PF apreendeu os passaportes de Nuzman, ele foi impedido de participar da sessão em Lima, no Peru, que homologará, entre outras coisas, Paris como sede da Olimpíada de 2024 e Los Angeles como a de 2028.

O Brasil terá como representante na sessão somente o ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman, que é membro eleito do COI desde 2013 e vai votar para decidir as sedes dos Jogos de 2024 e 2028 -apenas Paris e Los Angeles são candidatas e cada uma receberá uma das edições em disputa.

Embora tenha sido o chefe de missão da delegação brasileira nos Jogos de Londres-2012 e do Rio-2016, Rajzman não ocupa cargo no COB (Comitê Olímpico do Brasil), que não será representado no evento no Peru.

Além de definir sedes olímpicas, a reunião em Lima também escolherá novos membros e novo vice-presidente do COI. O encontro será encerrado no próximo sábado (16).


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