Folha de S. Paulo


Antes mesmo do adeus de Bolt, Jamaica acusa golpe no atletismo

Usain Bolt, 30, faz neste sábado (12) sua última aparição no atletismo, como integrante do revezamento 4 x 100 m de seu país no Campeonato Mundial de Londres.

As eliminatórias, das quais ele também deve participar, ocorrem a partir das 6h55 e a final, às 17h50 (de Brasília).

Contudo, mesmo antes do adeus, a Jamaica já demonstra sentir o impacto da perda.

A seleção caribenha ostentava, até esta sexta-feira (11), três pódios, seu pior desempenho em um Mundial desde 2007, quando Bolt despontou no cenário internacional.

Naquela ocasião, em Osaka, o velocista faturou duas das dez medalhas da nação, que terminou em oitavo lugar pelo total de ouros -ele foi prata nos 200 m e 4 x 100 m.

Na temporada subsequente, Bolt conquistou o mundo com três ouros nos Jogos de Pequim, e o status jamaicano nunca mais foi o mesmo.

Nos Mundiais seguintes (2009, 2011, 2013 e 2015), sempre liderado pelos velocistas, jamais a bandeira nacional deixou de estar entre as três primeiras colocadas.

Medalhas - Jamaica -

O ápice ocorreu dois anos atrás, na edição realizada em Pequim, quando a Jamaica superou os Estados Unidos, principal potência do atletismo, na quantidade de láureas douradas: sete contra seis.

Bolt teve participação decisiva nessa curva ascendente. Entre 2009 e 2015, ele somou 11 ouros em Mundiais e permaneceu imbatível nos 100 m, 200 m e 4 x 100 m.

Problema é que o astro e a Jamaica de 2017 são outros, muito mais falíveis. Bolt arrematou somente bronze nos 100 m no último domingo (6).

Pior: atrás justamente de dois americanos (Justin Gatlin e Chris Coleman).

Os Estados Unidos representam neste sábado a maior ameaça à Jamaica, que detém o recorde mundial do 4 x 100 m (36s84) e não é batida há dez anos em Campeonatos Mundiais ou Olimpíadas.

"Veremos o que vai acontecer. Não treinamos muitas passagens de bastão em equipe, mas sinto que estaremos prontos", afirmou Bolt.

Ele descartou ter qualquer problema físico, apesar de a marca que lhe deu o bronze nos 100 m no Mundial ser muito inferior ao seu recorde mundial (9s95 contra 9s58).

"Fisicamente estou bem. Eu sinto algumas dores, mas nada que uma massagem não cure", disse nesta semana.

Medalhas de Bolt -

Além dele, a formação deve ter Micheal Campbell e Julian Forte e Yohan Blake, que é o único com mais cartel.

Ele foi vice-campeão olímpico nos 100 m e 200 m em 2012 e ouro no 4 x 100 m nos dois últimos Jogos Olímpicos.

Enquanto a Jamaica pena, os EUA crescem. A dois dias do fim, eles já somam oito ouros, um a mais do que na edição no Mundial de 2015.

OLIMPÍADA

O "fator Bolt" também influenciou a classificação do atletismo jamaicano nos Jogos Olímpicos.

Ainda que tradicional, o desempenho do país saltou de cinco pódios em Atenas-2004 para dez em Pequim-2008. E não parou por aí.

A ascensão dos caribenhos atingiu seu apogeu na Olimpíada de Londres, em 2012, com 12 medalhas (quatro de cada cor).

No Rio, há um ano, houve decréscimo de uma láurea em relação à anterior, mas ainda assim a campanha foi boa: terminou em terceiro lugar, atrás somente dos Estados Unidos, primeiro,
e do Quênia, segundo.

Kai Pfaffenbach/Reuters
Omar McLeod comemora o ouro nos 110 m com barreiras em Londres
Omar McLeod comemora o ouro nos 110 m com barreiras em Londres

ALÉM DE BOLT

A saideira do ídolo parece ter afetado a confiança jamaicana no Mundial de Londres.

Pela primeira vez desde 2008, nenhuma velocista mulher do país obteve medalha nos 100 m ou 200 m. Campeã olímpica das duas distâncias, Elaine Thompson nem ao pódio foi individualmente.

Se há dois anos a ala feminina conquistou sete pódios, na capital inglesa só teve um.

O solitário ouro dos caribenhos até esta sexta saíra com Omar McLeod, que também detém o título olímpico, nos 110 m com barreiras.

A escassez de pódios criou tensão, reconheceu o barreirista. "Havia muita pressão antes da final, mas consegui canalizá-la de maneira positiva. Está muito diferente do ano passado [nos Jogos do Rio], quando tínhamos Usain e Elaine ganhando medalhas, e então usei isso como combustível", disse o jamaicano.

"Desta vez, eu não tive esse impulso, então quis brilhar por conta", complementou.

McLeod se candidatou para reforçar o revezamento neste sábado. Ele tem marca nos 100 m inferior a 10s.

Um ouro coletivo pode resgatar o brio dele e do país.

NA TV
Mundial de atletismo
14h40 SporTV 2


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