Folha de S. Paulo


Chapecoense não vai pagar viagem de familiares para visita ao papa

Guilherme Hahn/Agif/Folhapress
Jogadores da Chapecoense festejam título do Campeonato Catarinense após partida contra o Avaí, na Arena Índio Condá, neste domingo (7)
Jogadores da Chapecoense festejam título do Campeonato Catarinense deste ano

No final de julho, a Chapecoense mandou mensagem para o grupo de WhatsApp dos familiares das vítimas do desastre aéreo do ano passado. No texto, o presidente do clube avisou que a Chape não pagaria despesas de viagem para a audiência com o papa Francisco no Vaticano, marcada para o dia 30 deste mês.

De acordo com parentes dos 69 mortos brasileiros naqueda do avião da LaMia, nas redondezas de Medellín, na Colômbia, em 29 de novembro de 2016, o recado foi dado por uma funcionário da Chapecoense em 28 de julho. O prazo para a confirmação da presença era de 48 horas.

"O presidente da Chapecoense Plínio David Nês pediu para comunicar a todos vocês que realmente está confirmada a visita ao papa Francisco no Vaticano e que as famílias que tiverem interesse em participar do encontro poderão ter acesso ao papa, desde que comuniquem com antecedência para que seus nomes sejam inseridos no protocolo. O presidente avisa ainda que o clube NÃO vai arcar com as despesas de viagem e cada família terá que ir por conta própria", diz parte do texto enviado.

Em 1º de setembro, após o encontro com o pontífice, a equipe fará amistoso com a Roma, no estádio Olímpico.

"Quase ninguém vai. O custo sairia R$ 10 mil por pessoa. Apenas quem tem condição financeira favorável conseguirá ir", disse à Folha Luiz Mauro Grohs, irmão de Luiz Felipe Grohs, o Pipe, analista de desempenho e auxiliar do técnico Caio Júnior, que morreu no acidente.

"Desculpe, mas a Chapecoense não é vítima. Vítima é a minha mãe, que perdeu o filho. Vítimas são os familiares. Essa questão da visita ao papa Francisco é a última coisa que deixou as pessoas irritadas", completou.

Ele é um dos poucos familiares das vítimas a aceitar dar declarações. Os outros apenas manifestaram seu descontentamento pela assessoria da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense, criada para defender os interesses dos parentes.

Desde a mensagem pelo telefone celular, não houve outro contato da Chapecoense.

A Folha apurou que Aline Machado, viúva do zagueiro Filipe Machado, deverá ser a única parente dos jogadores mortos no acidente que acompanhará a delegação para o encontro com o papa.

Além dela, a família do ex-presidente Edir de Marco e a mulher e os filhos do treinador Caio Júnior também devem embarcar para Roma.

CONFLITOS

Desde o início do ano existem conflitos na relação entre a Chapecoense e algumas das famílias das vítimas.

As viúvas de Gil, Bruno Rangel, Canela, Ananias e Gimenez, atletas que morreram na queda do aeronave,entraram na Justiça do Trabalho contra o clube.

"Essa comoção pela Chapecoense seria louvável se o clube fosse o representante do sofrimento das famílias das vítimas. Isso não está acontecendo", diz Grohs.

O acidente mobilizou o mundo do futebol. O Atlético Nacional pediu que a Chapecoense fosse nomeada campeã da Copa Sul-Americana do ano passado. Foi atendido pela Conmebol.

Na última segunda (7), o time catarinense enfrentou o Barcelona no Camp Nou pelo Troféu Joan Gamper. Foi a volta do meia Alan Ruschel, um dos três jogadores que sobreviveram ao acidente.

Antes de jogar contra a Roma, o time viaja para o Japão para enfrentar o Urawa Red Diamonds pela Copa Suruga, na próxima terça-feira (15). Depois, retorna ao Brasil.

A volta à Europa só deverá acontecer no fim de agosto, poucos dias antes do encontro com o papa.

OUTRO LADO

A Chapecoense confirma que não vai pagar pela viagem dos familiares das vítimas para a audiência com o papa Francisco. Por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa, o clube afirma que a decisão foi tomada por causa dos custos envolvidos na operação.

Não foi revelado o valor que seria necessário para levar as famílias.

"A Associação Chapecoense de Futebol em outras oportunidades custeou despesas com logística para familiares para homenagens e reuniões administrativas realizadas em Chapecó e Florianópolis. Bem como mantém contato com representantes da Associação Brasileira das Vítimas do Acidente com a Chapecoense para discutir novo repasse de recursos arrecadados nos amistosos que foram e serão realizados na Europa. Encontro recente aconteceu em Chapecó e em breve associados serão informados", diz o texto da nota.

A Chapecoense alega que os pagamentos devidos aos familiares foram feitos, mesmo os referentes a questões trabalhistas.

"Ressaltamos que ainda no primeiro semestre de 2017 o clube fez repasse transparente de todas as doações realizadas, além do pagamento de todas as rescisões contratuais, diretos de imagem e seguros correspondentes a 40 meses de salários. Para a visita ao papa Francisco em Roma, o clube apresentou convite para as famílias, mas não se comprometeu em custear a logística em decorrência dos valores. Ressaltamos que as despesas de logística para os amistosos na Espanha e Itália foram e serão custeadas pelo Barcelona e Roma, respectivamente", finaliza.

Em dezembro de 2016, o presidente Plínio de Nês disse à Folha que a Chapecoense receberia R$ 900 mil para enfrentar o Barcelona.


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