Folha de S. Paulo


Cartola do basquete põe R$ 2 milhões em confederação para sustentá-la

Giovanni Kleinubing/CBB
DATA: 08.05.2017 Guy Peixoto, presidente da CBB. Foto: Giovanni Kleinubing/CBB ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Guy Peixoto mantém CBB ativa sem patrocínio ou verba federal

Enquanto o empresário e ex-jogador Guy Peixoto comemorava sua eleição para presidente da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) em 10 de março, uma sexta-feira, o homem que lhe entregava o cargo, Carlos Nunes, confidenciava a um interlocutor: "Espero que ele tenha pelo menos R$ 600 mil disponíveis já para investir na segunda."

Pouco mais de quatro meses depois de sua chegada ao cargo, Peixoto já teve de tirar muito mais dinheiro do seu próprio bolso. Nunes deixou a entidade com dívida superior a R$ 17 milhões, suspensa pela federação internacional e impossibilitada de receber verbas públicas.

A Folha apurou que o empresário já desembolsou mais de R$ 2 milhões para manter a entidade.

Peixoto, que é empresário do ramo de logística e transporte de bebidas na região Norte, tem coberto, por exemplo, gastos de folha salarial, viagens para compromissos no Brasil e no exterior e cerca de R$ 10 mil mensais para manter um espaço onde funciona o centro de treinamento das seleções nacionais, em Campinas.

Além disso, o presidente teve de arcar com atrasos no pagamento de aluguel, salários e contas de luz. A sede da CBB, no Rio, tinha R$ 300 mil em condomínios atrasados.

Sem patrocínio ou campeonatos para organizar, hoje a entidade tem dificuldade para gerar receita própria.

As seleções estavam suspensas pela Fiba (Federação Internacional de Basquete) e não geravam mais receitas devido à perda de patrocinadores após a Rio-2016.

A punição foi revogada em junho, mas a Fiba ainda exige diversas garantias financeiras e de governança.

Passados quatro meses da eleição, pouco mudou nesse cenário, a despeito do esforço da atual administração para corte de despesas.

A confederação não conseguiu levantar nem mesmo verbas da Lei Piva, via loterias, devido a pendências em prestações de conta ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro), conforme a Folha revelou.

A falta de recursos provenientes de atividades da entidade resultou em dependência de aportes de Peixoto.

"Nessa situação, ainda bem que temos uma pessoa como o Guy. Em outro contexto, não sei o que seria da confederação", afirmou Antônio Carlos Barbosa, gerente da seleção feminina, que está treinando em Pindamonhangaba, em São Paulo.

Nessa conta ainda nem entram os salários dos novos treinadores e comissões técnicas das seleções principais, que também serão pagos pelo presidente da CBB.

Tanto César Guidetti, anunciado nesta quinta-feira (27) como técnico do time masculino, como Carlos Lima, no feminino, assumem seus cargos de modo interino e sem exclusividade. Não era o plano inicial de Peixoto.

"Temos de trabalhar dentro dessas dificuldades, tentando equacionar", disse o ex-pivô Marquinhos Abdalla, membro da nova diretoria.

Diretor executivo da CBB, Marcelo Sousa disse à Folha que Guy Peixoto deve assinar carta de doação de todo o dinheiro investido na confederação.

Segundo a consultora jurídica Silvia Gonçalves, da ONG Atletas pelo Brasil, a doação de dinheiro não caracterizaria uma ilegalidade. No caso de empréstimo, porém, seria necessário no mínimo a aprovação por um conselho administrativo da CBB.


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