Folha de S. Paulo


Morango com creme e Pimm's dividem atenções com o tênis em Wimbledon

Quem visita Wimbledon pela primeira vez não pode deixar de fazer três coisas: assistir a um jogo, beber um Pimm's e comer morangos com creme.

Segundo a organização, nos 14 dias do torneio de tênis mais antigo e famoso do mundo, são servidos 115 mil porções de morangos com creme, 17 mil porções do prato típico fish & chips (peixe com batata frita), 2.772 quilos de banana, 35,9 mil garrafas de champagne, 263 mil copos de Pimms's (bebida de verão à base de gim) e 138,6 mil garrafas de água.

O complexo de Wimbledon recebeu 495.928 pessoas no ano passado. Neste ano, a previsão é chegar aos 500 mil. São 19 quadras de jogo e mais 22 só para treinos. Só a quadra central, que tem teto retrátil, comporta 14.979 pessoas e a quadra 1 mais 11.393. As quadras são numeradas de 1 a 18, mas, por superstição, não existe a 13.

Na quadra central, uma das atrações é o camarote real. Os patronos do torneio são o duque de Kent, Eduardo Nicolau, e Kate, a duquesa de Cambridge. No primeiro dia, Kate ocupou o camarote usando um vestido de bolinhas e acompanhou como fã a vitória do britânico Andy Murray, que defende o título neste ano.

Pessoas usando ternos e vestidos de grife são comuns, especialmente nas tribunas e assentos mais caros da quadra central. Dentro das quadras, Wimbledon mantém uma tradição que já foi esquecida em outros torneios pelo mundo: os jogadores só podem usar roupas brancas, mesmo as íntimas.

Todos os dias, uma fila imensa se forma para comprar os tíquetes em cima da hora. A maioria são ingressos populares de 25 libras que dão acesso ao complexo e às quadras secundárias. Muita gente acampa no local para conseguir o ingresso. Também são disponibilizadas entradas para as sessões do fim do dia, quando os compradores originais vão embora antes dos últimos jogos. Um ingresso para a final masculina na quadra central chega a custar 15 mil libras, o equivalente a R$ 64 mil.

A brasileira Areta Melo, que mora há 12 anos na Noruega, foi neste ano pela primeira vez a Wimbledon. "Demorei quatro horas só para conseguir entrar, mas valeu a pena. Isso aqui é um sonho", disse Areta, estudante de engenharia que comprou um dos ingressos populares para ver o jogo de estreia do brasileiro Thiago Monteiro. Ela assistiu à partida de pé no corredor de entrada porque a quadra 16, de 320 lugares, estava lotada.

Aliás, lotação é a palavra para descrever as quadras do complexo. O público se desloca constantemente em busca de melhores lugares ou jogos, mas não há congestionamentos monstro como em Roland Garros. Sem ingressos para as quadras mais nobres, muitos preferem assistir aos jogos em um imenso telão instalado em uma lateral da quadra 1. Durante todo o dia famílias, casais e grupos de adolescentes fazem piqueniques por ali sentados ou deitados no gramado em frente ao telão.

O complexo fica localizado no sofisticado e tranquilo bairro que lhe dá nome, na zona oeste de Londres. O transporte mais usado para chegar a Wimbledon é o metrô. Na estação mais próxima, Southfields, já se respira tênis. As paredes e as cadeiras da estação são decoradas com o logo de Wimbledon, como se o local pertencesse ao All England Lawn Tennis Club, o clube onde nasceu o tênis e que organiza o campeonato desde 1877, com interrupção apenas nas Guerras Mundiais.

As calçadas e garagens do trajeto de 12 minutos a pé da estação (existe também a opção de pegar um táxi por 2,5 libras por pessoa ou um ônibus) até os portões de Wimbledon são usadas para venda de diversos produtos, como comida, sucos, água, óculos, roupas e chapéus, acessórios muito usados em Wimbledon. Há também ofertas de estacionamento nas garagens das casas.

"Os ingleses têm muito orgulho do campeonato, mas, como os brasileiros, também aproveitam o evento para fazer uma graninha", disse o advogado Angel Mendez, do Rio, após comprar um chapéu de palha por 15 libras. Ele visita Wimbledon pela terceira vez e desta vez torce por um título de Rafael Nadal.

Neste ano, a segurança foi reforçada. A revista na entrada conta com máquinas de raio-x. Dezenas de guardas armados ostensivamente, com o dedo no gatilho, e com cachorros que farejam bombas circulam pelo complexo. O reforço tem motivo: o país sofreu três atentados terroristas neste ano, que deixaram 34 pessoas mortas e dezenas de feridos.


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