Folha de S. Paulo


Elite do basquete brasileiro retorna ao Corinthians depois de 16 temporadas

05.jul.1965/Folhapress
ORG XMIT: 540501_0.tif Basquete Masculino: o jogador Wlamir Marques (à esq.), do Corinthians, faz cesta observado por Lolo Sainz (número 7), Rodríguez e González do Real Madrid em jogo amistoso de 1965, no Parque São Jorge, em São Paulo, SP. (São Paulo, SP, 05.07.1965. Foto Folhapress)
Wlamir Marques faz a bandeja em duelo com o Real Madrid em São Paulo

Fazia muito frio em São Paulo em 5 de julho de 1965, mas a torcida formava fila quilométrica para entrar no ginásio do Parque São Jorge e assistir a um duelo entre Corinthians e Real Madrid que se tornaria histórico. O time da casa venceu por 118 a 109, conduzido pelo ala Wlamir Marques, que fez 40 pontos.

Naqueles tempos, o Corinthians era uma potência do basquete. Hoje, esse mesmo ginásio, renomeado em homenagem ao próprio Wlamir no ano passado, funciona mais como casa do futsal.

Neste sábado (10), porém, depois de 16 anos, o clube volta a ter contato com a elite do basquete, ao acolher o quarto jogo das finais do NBB, entre Paulistano, que lidera por 2 a 1, e Bauru.

Os ingressos já estão esgotados. A previsão da liga nacional é de que o ginásio vai receber 6.500 espectadores.

Número seguramente menor que a estimativa de público que teria comparecido à aquela jornada de 1965. Extraoficialmente, fala-se que mais de 10 mil pessoas foram ao Parque São Jorge para empurrar um time que atenuava a frustração, então, causada por sua equipe de futebol.

Nos gramados, o clube ainda viveria jejum de 23 anos.

"O basquete já era forte, enquanto o futebol não estava ganhando muito", diz Wlamir, 79, à Folha. "Quando cheguei em 1962, formamos um quinteto que era o time titular da seleção. Tínhamos sempre um grande público porque formamos grande equipe. O ginásio lotava."

A geração de Wlamir, Ubiratan, Amaury Pasos, entre outros selecionáveis, foi avassaladora. Ganhou dois Sul-Americanos (1965 e 1966) e três Nacionais (1965, 1966 e 1969), além de cinco Estaduais. Em 1966, também foi vice-campeã mundial.

"Foi o melhor momento de minha carreira", diz. "Por isso é sublime que se reviva essa história. É algo inesquecível para nosso basquete. Muitos que nos viram jogar agora vão poder ver esta final."
Após a era dourada do basquete do clube, o Corinthians voltou a brigar por títulos na primeira metade da década de 80, ganhando o Paulista em 1983 e 1985, com os pivôs Adílson e Gerson e o ala americano Rocky Smith.

Nos anos 90, com patrocínio forte da Amway e Oscar Schmidt, houve o último suspiro em alto nível, com a conquista do Nacional em 1996.

Um ano depois, porém, jogaria seu último Brasileiro. Em 2001, se despediria da primeira divisão do Paulista. Hoje, o Corinthians procura alternativas para reativar o time adulto (abaixo).

Ciente dessa movimentação, Wlamir permanece presente no clube. "Ver meu nome no ginásio foi o maior prêmio da minha vida ver algo perpetuado assim", diz o bicampeão mundial em 1959 e 1963, sobre a homenagem.

Agora, ele voltará ao "seu ginásio" para ver uma final nacional, levada ao Corinthians por iniciativa da liga nacional, pensando em palco maior. A arena do Paulistano comporta 1,5 mil pessoas.

O clima dificilmente será o mesmo que impressionou o Real Madrid 52 anos atrás. Afinal, o time da casa não vai jogar. Para Wlamir, talvez seja até melhor. "Você sabe, que chegando aos 80 anos, já procuro conter minhas emoções [risos]", afirma.

TENTATIVA DE RETORNO

Três grandes camisas do futebol brasileiro participaram do NBB nesta temporada: Flamengo, Vasco e Vitória. O Corinthians chegou a sonhar em fazer desse grupo um quarteto.

Representantes do clube se reuniram no ano passado com a diretoria da LNB (Liga Nacional de Basquete) para entender o que seria necessário para reativar seu time adulto e participar do principal campeonato do país. Hoje, estão em atividade no Parque São Jorge apenas as equipes de base até a categoria sub-16.

O técnico Guerrinha, agora no comando do Mogi, foi envolvido no processo, na tentativa de captação de um patrocínio.

"Até no futebol nosso investimento foi reduzido. precisamos de um patrocinador que nos dê autonomia", diz Marcelo Galvão, ex-jogador do clube, que conduziu as tratativas.

"Vamos tentar mais uma vez, aproveitando o embalo desta final", afirma.

A despeito da dificuldade encontrada, a ambição seria entrar no NBB já para incomodar. "O caminho certo seria a Liga Ouro [divisão de acesso], mas poderíamos receber um convite. Teria de ser um time de projeção", diz Galvão.

Wlamir Marques concorda: "No Corinthians, só se joga para ganhar".


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