Folha de S. Paulo


Órgão olímpico fechou as portas sem divulgar custo final dos Jogos

Oito meses após o fim dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio-2016, o custo oficial dos evento ainda não foi divulgado. A APO (Autoridade Pública Olímpica) fechou as portas em março sem entregar os dados, uma de suas atribuições quando criada.

A promessa do governo federal é entregar o balanço no mês que vem. Junto, será divulgado o plano do legado da Olimpíada. É uma segunda versão, já que a primeira proposta -elaborada pela Prefeitura do Rio- não vingou.

A ausência dos dois documentos é alvo de investigação do MPF (Ministério Público Federal) e do Tribunal de Contas da União, que exigiam desde antes dos Jogos Olímpicos a divulgação de como seriam utilizadas e mantidas as arenas após o evento e a adequação da matriz de responsabilidades -documento que descreve os gastos com instalações esportivas e outros serviços ligados à Olimpíada do Rio.

O último balanço divulgado pela APO, em 15 de agosto (no meio dos Jogos), aponta gastos totais com os Jogos de R$ 39,1 bilhões.

Este cálculo inclui a matriz de responsabilidades, o Plano de Políticas Públicas (que descreve as obras de legado) e o orçamento do comitê organizador Rio-16.

Este balanço, contudo, tem falhas e omissões. A Folha revelou em 2015 que mais de R$ 400 milhões em gasto com os Jogos estavam ausentes do balanço oficial -o que incluía a Arena de Boxe, erguida no Riocentro.

Em março do ano passado, o TCU ampliou ainda mais a gama de gastos da Olimpíada não incluídos no documento oficial. De acordo com auditores, esse número podia chegar a R$ 4 bilhões, considerando investimento em segurança pública e o custeio de estruturas criadas exclusivamente para os Jogos, como a própria APO.

CUSTO DA OLIMPÍADA - Total gasto olímpicos até ago.2016, em R$ bilhões

Pendências olímpicas

EXTINÇÃO

A APO foi extinta em março, sem divulgar a versão final da matriz. Em seu lugar, o presidente Michel Temer criou a Aglo (Autoridade de Governança do Legado Olímpica). O presidente do novo órgão, Paulo Márcio, afirmou que o documento será divulgado no mês que vem.

"Precisamos entregar este documento. Estamos reunidos com o ex-presidente da APO, Marcelo Pedroso, definindo os últimos pontos da divulgação", disse após audiência pública no MPF.

Márcio, porém, não confirmou se a nova versão da matriz vai incluir as omissões apontadas pelo TCU. Também não esclareceu se haverá atualização do Plano de Políticas Públicas, cuja última atualização foi feita ainda em abril de 2015.

O presidente da Aglo disse também que na mesma data será apresentado o plano de legado. A expectativa é que ele seja incluído no Programa de Parcerias para Investimentos do BNDES, a fim de atrair um concessionário privada para gerir o Parque Olímpico da Barra.

A Prefeitura do Rio também tentou conceder o espaço à iniciativa privada, mas a licitação terminou sem interessados habilitados.

"Mesmo sem um documento formal, o espaço tem sido usado com sucesso", afirmou Márcio, que listou eventos que foram realizados no Parque Olímpico após os Jogos.

Outra pendência dos órgãos responsáveis pelos Jogos é a dívida do comitê organizador, atualmente em R$ 117 milhões. A entidade ainda aguarda ajuda financeira da prefeitura para quitar seus compromissos.

O município firmou um convênio de R$ 150 milhões com a Rio-16, mas repassou apenas R$ 30 milhões. A gestão Marcelo Crivella (PRB) ainda analisa o pleito.

LAVA JATO

Obras de infraestrutura realizadas para a Olimpíada são alvos da Operação Lava Jato. Há suspeita de cobrança de propina e formação de cartel.

As investigações mais avançadas indicam desvio de verba na construção da linha 4 do metrô. A obra foi um dos compromissos assumidos pelas autoridades brasileiras com o COI (Comitê Olímpico Internacional) para receber os Jogos.

O ex-governador Sérgio Cabral, preso desde novembro, é um dos acusados de obter propina no contrato. De acordo com auditores do TCE (Tribunais de Contas do Estado), a obra teve superfaturamento de R$ 3 bilhões.

A delação de executivos da Odebrecht indicou ainda a formação de cartéis para fraudar as obras de duplicação da avenida Salvador Allende -que ligava a Vila dos Atletas ao Parque Olímpico da Barra- e a despoluição da lagoa de Jacarepaguá.

A defesa do ex-governador disse que vai se pronunciar no processo. A Secretaria Estadual do Ambiente negou irregularidades na licitação. Afirma ainda que cancelou o edital após suspeita de fraude.


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