Folha de S. Paulo


Brasileiro de 16 anos arremessa a 150km/h no beisebol

Veja vídeo.

O arremessador Eric Taniguchi Pardinho completou 16 anos em janeiro. Considerado um fenômeno do beisebol brasileiro, ele arremessa a bola a até 152 km/h -ou 95 milhas por hora, medida usada no esporte.

Na sua idade, raros atletas são capazes de lançar com tanta velocidade. Entre os profissionais, nem todos passam dos 150 km/h, sendo que o arremesso mais veloz já registrado foi de 169 km/h, do cubano Aroldis Chapman, em 2010, pelo Cincinatti Reds.

Por esse atributo ele é cobiçado por equipes da Major League Baseball, a liga norte-americana do esporte, e deve escolher para qual delas irá nos próximos meses. San Diego Padres, Houston Astros e Seattle Mariners sondaram o jovem, que viajou para o Arizona e para Tampa Bay para testes a convite do Diamondbacks e do Rays, respectivamente.

No dia 2 de julho, com a abertura da janela de transferências, ele deve anunciar o clube que pagará alguns milhões de reais para contar com seu talento pelos próximos anos.

Nascido em Lucélia (a 500 km de São Paulo), ele é descendente de japoneses, assim como boa parte da população da cidade. Ele passa a maior parte da semana em Ibiúna, no centro de treinamento Yakult, mantido pela empresa alimentícia, onde é orientado por equipe de profissionais que faz parte do programa de desenvolvimento de talentos da MLB no Brasil.

Pardinho não tem a marra dos jogadores de futebol badalados de sua idade e ainda brinca como um adolescente: em uma base no campo de terra, mostra sua habilidade em controlar a saliva até ela quase tocar o chão, enojando e divertindo os demais garotos. Minutos depois, ele lança a bola, dura com uma pedra, e quase não é possível vê-la no ar. O barulho seco dela se alojando na luva de couro do receptor parece quase simultâneo ao arremesso.

"Estava jogando frescobol na praia quando eu tinha seis anos e meu tio disse que eu levava jeito para beisebol. Então meu pai me levou para jogar e eu gostei, porque tinha terra e outras crianças", diz Pardinho à Folha, antes de seu treino em Ibiúna.

Arte - Beisebol

"Para mim, o segredo é treinar. Você tem que ter um objetivo. Quando você coloca um objetivo, parece que tem mais foco no treinamento. Para mim, arremessar rápido sempre foi natural", completa, argumentando que não há segredo em sua maneira de jogar.

Em Ibiúna, Pardinho é acompanhado pelo treinador de arremessos Thiago Caldeira, que tenta explicar a fórmula da velocidade do prodígio.

"Ele tem uma mecânica muito fluida e uma flexibilidade incomum. No mundo, pouquíssimos atingem a velocidade que ele consegue com a idade dele. Ele vai passar das 100 milhas por hora (160 km/h)".

O Brasil chegou a ter três jogadores na MLB, André Rienzo, Ian Gomes e Paulo Orlando, que foi campeão da liga em 2015. Atualmente, apenas Gomes segue na divisão principal do torneio de beisebol mais famoso do mundo.

O japonês Mitsuyoshi Sato, 70, conhecido no CT Yakult como "sensei", reconhece o talento de Pardinho, mas ressalta o que é óbvio e a potência esconde: ainda é um menino.

"Ele é normal como menino, mas nasceu para jogar bola. Desde a categoria infantil ele arremessa muito forte. Mas ainda tem muito a evoluir: como homem, tem que crescer; na parte técnica; e principalmente na preparação mental. A pressão psicológica é muito forte nas grandes ligas e com adultos, então ele precisa treinar isso", afirma Sato.

"Sobre o arremesso, mais que a velocidade, a bola dele tem uma curva com ângulo muito forte para os rebatedores".

A posição na qual joga Pardinho é a mais ingrata do beisebol: os movimentos antinaturais feitos pelo braço levam a seguidas lesões, e a dor é uma constante. Por isso, sensei Sato pede mais preparação física.

"Um corpo forte e equilibrado vai afastar lesões. Me preocupo com cotovelos e ombros, que são os mais exigidos e são muito frágeis".

"Já tive muitas lesões. O arremessador tem que se cuidar e fortalecer o braço e o corpo inteiro, que ajuda a não sobrecarregar o próprio braço", diz Pardinho, que adora lançar uma "fastball", mas completa seu repertório com "curvas", "sliders" e "changeups".

Durante boa parte da semana, Pardinho faz exercícios e arremessos controlados. Seu braço é preservado como um bem perecível, acionado somente no contexto adequado, como no Pan-Americano sub-16 de 2016, quando ele eliminou 12 rebatedores da tradicional República Dominicana para dar a vitória à seleção brasileira. Ou quando, no mesmo ano, se tornou o mais jovem brasileiro a atuar pela seleção brasileira principal em partida contra o Paquistão nos Estados Unidos.

"Pardinho está chamando a atenção de todos os olheiros da MLB, e todos esperam muito dele. É impressionante a atenção que ele já tem da mídia norte-americana. Um jornalista de lá [da ESPN] viajou à cidade onde ele cresceu [Bastos] para conhecer um pouco mais", diz Caleb Santos-Silva, coordenador de desenvolvimento internacional da MLB.

"Mesmo nos Estados Unidos ele seria um jogador acima da média. Um menino de 16 anos arremessando a 95 milhas por hora e com controle dos efeitos dos arremessos é muito impressionante", conclui.

"Muitas pessoas falam que por ser brasileiro talvez eu não vire tanto quando uma pessoa de fora. Se eu fosse dominicano ou americano acho que eu seria visto como mais valioso", diz Pardinho.


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