Folha de S. Paulo


Rival de brasileiros, líder do Mundial de surfe contagia Saquarema

Se no país do futebol existem as "Neymarzetes", as adolescentes (com adultas infiltradas) brasileiras famosas por andarem em bando e gritarem histericamente diante da imagem do atacante do Barcelona, em Saquarema (a 100 km do Rio de Janeiro), conhecida nacionalmente como "Maracanã do surfe", vivem as "John Johnzetes" ou mesmo "Florencezetes".

Em grupos de dezenas, fizeram barulho e causaram alvoroço a cada passagem do havaiano John John Florence, 24, atual campeão e líder do ranking, pelas areias da praia de Itaúna nesta terça-feira (9), no primeiro dia de competições da etapa brasileira do Mundial de surfe. Enquanto Florence apresentava belas manobras com seu estilo de surfe fluido, com "rasgadas" firmes e também aéreos, elas cantavam "uh, uhu, John John é o terror", e vibravam com berros estridentes.

Ao fim da bateria, a segurança teve que ser reforçada, e quatro brutamontes seguraram a turba ensandecida de meninas que queriam agarrar o havaiano de laicra amarela.

Na segunda-feira (8), Florence disse que tinha certeza de que seria vaiado, já que tem rivalidade com o brasileiro Gabriel Medina. Nesta terça (9), tímido, mostrou-se surpreso e um pouco constrangido com a festa.

"É muito gostoso. Aqui todo mundo te dá muito apoio e gosta muito de surfe. É incrível, e me dá muita energia. Eles são muito empolgados. Fiquei um pouco surpreso, mas sem pensar muito nisso. É isso que faz o Brasil o que é. A torcida empolga os surfistas e eles querem mostrar o melhor surfe possível", disse.

O apoio massivo a Florence foi ainda mais curioso porque ele disputou sua bateria contra dois brasileiros, Yago Dora e Miguel Pupo. O primeiro ficou apenas três centésimos atrás do vencedor da bateria, e Pupo terminou com 13,40. Nenhum dos dois teve apoio remotamente parecido dos torcedores.

Quando Florence se aproximou das fãs para dar autógrafos, o alvoroço se intensificou. Garotas se descabelavam, diziam "ele encostou em mim", outras puxavam o pescoço do surfista, e um garoto chorava enquanto sua mãe dizia que ele tinha sido atropelado pelas garotas.

"Eu vim ver o John John. Ele é maravilhoso, surfa bastante e é muito simpático. Prefiro ele aos brasileiros, é o melhor. Ele é mais simpático do que eles, então ele ganha o coração do pessoal. Valeu a pena. A gente não sabe falar inglês, mas disse que ele é lindo em português mesmo", disse a estudante Emily Cabral, 15 anos, acompanhada de suas amigas.

"Deixei meu celular cair na areia e ele pegou e tirou uma foto comigo. Muito humilde. As meninas acham que ele é muito bonito, mas eu gosto dele pela pessoa que ele é", disse o estudante Renan Carvalho, 18.

Robledo de Oliveira, 42, surfista local que está trabalhando como segurança do evento, também ficou encantado com o havaiano.

"Estava surfando na Praia da Vila [praia vizinha à de Itaúna] bem cedinho anteontem [domingo] e ele chegou com o técnico dele. Muito humilde, se aproximou, disse bom dia, e dividiu ondas comigo. Por isso ele está aí hoje, no topo do surfe. Quero falar com o técnico dele para saber se filmaram. Para mim, ter um registro de uma bateria de que fiz parte com o John John seria tudo".

Um surfista que trabalha na organização do evento e não quis se identificar teceu comparação entre os rivais Medina e Florence. Disse que Medina tem um jeito de se portar mais parecido com o de jogadores de futebol, citando Neymar, marcado por aparições constantes à mídia e algumas provocações a adversários. Florence teria um estilo mais clássico dos surfistas, retraído, e que gosta mais de entrar no mar do que de ficar dando entrevistas ou autógrafos– o que estaria de acordo com o que o público local tem chamado de "humildade" do havaiano.

Com a sua vitória, Florence avançou à terceira fase da competição, disputada após a repescagem, que deve iniciar às 7h desta quarta-feira (10).

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