Folha de S. Paulo


Mundial de surfe chega a Saquarema, o seu 'Maracanã'

Em sua quarta etapa, o Circuito Mundial de Surfe terá como palco o "Maracanã do surfe". Após seis anos de competições na Barra da Tijuca, onde atletas se queixaram da poluição do mar, a etapa brasileira é disputada a partir desta terça-feira (9), em Saquarema (a cerca de 100 km do Rio). As provas serão disputadas a partir das 7h nas praias de Itaúna e Barrinha, quando as condições forem favoráveis ao surfe.

No Brasil, Saquarema é considerada a meca do surfe. Descoberta para o esporte na década de 1960, ela se tornou um refúgio para os jovens da classe média carioca que desafiavam a moral e os bons costumes ao cultivar um estilo de vida "hippie", marcado pelo contato com a natureza, pela música e pelo desprezo pelas noções tradicionais de família.

Nos anos 1970, quando já havia se consolidado como destino preferencial dos surfistas do Rio, Saquarema passou a sediar as primeiras competições da modalidade.

Chamados de "Festivais Brasileiros de Surfe", eles aconteceram no local entre 1975 e 1978, e juntaram o caráter mais profissional que o surfe começava a ganhar naquele momento com a cultura liberal de Saquarema.
Enquanto a juventude carioca acampava nas areias da praia de Itaúna para acompanhar as provas e shows musicais, nomes como Pedro Paulo "Pepê", Otávio Pacheco e Rico de Souza despontavam como primeiros surfistas de competição brasileiros.

"Havia a ditadura militar e a repressão ao surfe. Várias vezes os militares pegaram nossas pranchas, o surfe era quase proibido. Saquarema, então, apareceu como um refúgio para nós do Rio, que vivenciávamos a contracultura. Existia a coisa do surfe, drogas e rock'n'roll, claro, mas por outro lado também começamos a nos preparar como atletas, treinávamos forte", conta Pacheco, 64.

"Lembro do choque que tive com aquele cenário de praias selvagens, altas ondas, pessoas lindas e as caixas de som vomitando rock pelas areias de Itaúna. À noite, no estádio local, shows com Rita Lee, Raul Seixas, Serguei e outros craques", escreveu na época o poeta Chacal, que cobriu o festival em 1976.

A primeira edição do evento teve 120 surfistas convidados e contou com patrocínio de empresas como Rio Tur, TV Rio e Pan Am, algo raro em eventos de surfe locais.

"Fomos pioneiros da indústria do surfe. Criávamos as pranchas e testávamos os protótipos, fazendo o trabalho de 'shapers' [fabricantes de pranchas] na década de 1970, já que a importação era complicada", diz Pacheco.

"Também fomos pioneiros dos patrocínios. O surfe começou a bombar no país com os festivais, e conseguimos marcas nas pranchas de maneira inédita", completa.

MUNDIAL

A única vez que Saquarema sediou uma etapa do Circuito Mundial foi em 2002.

A World Surf League, organizadora do Mundial, afirmou que a poluição não foi um fator levado em conta para que a etapa brasileira saísse da Barra da Tijuca e passasse para Saquarema.

No entanto, atletas como Kelly Slater, Mineirinho e Filipe Toledo passaram mal após a competição de 2015, e as reclamações pressionaram a organização a escolher outro local.

Maresias (SP) e Florianópolis (SC) também foram alternativas consideradas, segundo apurou a reportagem.

O Brasil terá 11 representantes: Mineirinho (4º colocado no ranking), Filipe Toledo (6º), Caio Ibelli (7º), Gabriel Medina (11º), Wiggolly Dantas (23º), Miguel Pupo (24º), Ian Gouveia (24º), Jadson André (29º), Jessé Mendes (33º), Yago Dora, vencedor de torneio classificatório local, e Bino Lopes, substituto de Kelly Slater (veja abaixo). Silvana Lima (14ª) disputa o campeonato feminino.

Brasileiro mais bem classificado, Mineirinho, 30, é sincero ao falar de suas chances.

"Tudo pode acontecer em Saquarema: pode surpreender com boas formações ou fisicamente, com o mar muito grande, levando o corpo ao limite. Como a gente veio de uma sequência só de direita (onda que, da perspectiva do surfista, vai da esquerda para a direita), e Saquarema é o contrário, eu demoro um pouco para acostumar", diz.

MUNDIAL DE SURFE

Etapa do Rio
9 a 20.mai, em Saquarema
³ 4ª de 11 etapas do Mundial

Campeão em 2016
John John Florence (Havaí)

Ranking Mundial
1º J. J. Florence: 23.000
2º J. Smith: 19.200
2º O. Wright: 19.200
4º Mineirinho: 14.400
5º K. Andino: 13.750
6º F. Toledo: 12.200
7º C. Ibelli: 11.500
8º J. Parkinson: 10.950
9º M. Wilkinson: 10.250
10º S. Zietz: 9.750

Pontuação
Cada surfista ganha pontos de acordo com a sua classificação na etapa

1º - 10.000 pontos
2º - 8.000 pontos
3º a 4º - 6.500 pontos
5º a 8º - 5.200 pontos
9º a 12º - 4.000 pontos
13º a 24º - 1.750 pontos
Abaixo de 25º - 500 pontos

Surfe


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