Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Bielsa erra ao dizer não ter o que acrescentar ao futebol brasileiro

Lucas Figueiredo/CBF
Marcelo Bielsa debate tática e elogia Seleção Brasileira
Marcelo Bielsa debate tática e elogia Seleção Brasileira

Marcelo Bielsa é um espetáculo à parte. O técnico argentino foi um dos convidados do evento "Somos Futebol", realizado pela CBF, nesta segunda-feira (8), no Rio de Janeiro.

Começa pelo traje que ex-comandante da seleção argentina apareceu no evento na sede da confederação, na Barra da Tijuca, zona sul do Rio. Estava sem blazer nem sapato social, porque foi à sede da CBF caminhando por um percurso de 3,4 km desde o hotel em que se hospedou. Falou sobre os sistemas táticos que reconhece e a movimentação que os transforma.

Foi aplaudido quando disse que a imprensa usa as mesmas informações para elogiar na vitória ou criticar na derrota e declarou-se surpreso com as palmas.

"Esperava tudo, menos esta reação, porque significa que concordamos e isto não muda esta situação."

Disse ser um técnico de poucos títulos, o que é verdade, e que foi trabalhar no Chile, mas não veio ao Brasil quando convidado pelo São Paulo e pelo Santos, porque julga não ter o que acrescentar ao futebol brasileiro.

Neste ponto, sua apresentação o desmente.

Bielsa foi técnico da Argentina na Copa de 2002, campeão olímpico em 2004, campeão argentino e vice da Libertadores pelo Newell's Old Boys, finalista da Liga Europa pelo Athletic Bilbao, mestre de técnicos como Pep Guardiola e Jorge Sampaoli, a quem não reconhece como discípulo, por julgá-lo menos teimoso e, portanto, mais competente.

Sabia absolutamente tudo sobre a movimentação da seleção brasileira e desculpou-se com Tite pela intromissão. Também deixou claro que sua maneira de pensar não é verdade absoluta. Seu mestre, Cesar Luis Menotti, discorda frontalmente do seu princípio da polivalência.

Bielsa defende que todos os jogadores tem obrigação de exercer no mínimo duas funções. Um quarto zagueiro vai ter que saber jogar de lateral-esquerdo em algum momento do jogo.

Tudo isto indica a importância do encontro, que precisa ser anual. Neste ano, seguirá até quinta-feira (11), com outros temas, como gestão esportiva, transferências internacionais, futebol feminino e categorias de base.

No evento, o técnico da seleção brasileira mostrou estar absolutamente dentro de seu tempo. Falou a razão de ser do futebol, o atleta, e sobre o que entende ser supervalorização dos treinadores.

Tratou das relações dos técnicos com jogadores, dirigentes e jornalistas. Ilustrou com imagens de compactação defensiva, amplitude para atacar e marcação por pressão nos três setores do campo.

Guillaume Horcajuelo/Efe
HOR101. Marseille (France), 08/08/2015.- Olympique Marseille Argentinean head coach Marcelo Bielsa gestures during the soccer league 1 match between Olympique Marseille and SM Caen, at Velodrome stadium, Marseille, Southern France, 08 August 2015. (Francia, Marsella) EFE/EPA/GUILLAUME HORCAJUELO ORG XMIT: HOR101
Bielsa durante jogo do Olympique de Marselha em agosto de 2015

Capello foi o mais boleirão dos três. Prejudicado por ser o último a falar sobre tática, foi o único a não apresentar vídeos e muito mais superficial nas coisas de dentro do campo, do que nas condições externas ao trabalho do técnico. Se fosse brasileiro, diríamos que atualização não é seu forte. É italiano.

O técnico da seleção brasileira mostrou estar absolutamente dentro de seu tempo. Falou a razão de ser do futebol, o atleta, e sobre o que entende ser supervalorização dos treinadores.

Tratou das relações dos técnicos com jogadores, dirigentes e jornalistas. Ilustrou com imagens de compactação defensiva, amplitude para atacar e marcação por pressão nos três setores do campo.

Trata-se do encontro que o país inteiro pediu - especialmente a imprensa esportiva - depois dos 7 x 1. Em 2016, o convidado foi Antonio Conte. Ainda não vieram Josep Guardiola, Carlo Ancelotti e José Mourinho, mas o encontro com Tite, Marcelo Bielsa, Carlos Alberto Parreira e Fabio Capello valeu muito.

Especialmente por Tite e por Marcelo Bielsa.


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