Folha de S. Paulo


Nadadores acima dos 30 se destacam no Maria Lenk e ofuscam nova geração

Satiro Sodré/SSPress/CBDA
João Gomes Júnior durante a disputa do Troféu Maria Lenk, no Rio
João Gomes Júnior durante a disputa do Troféu Maria Lenk, no Rio

Após dois dias de disputas, o Troféu Maria Lenk, que deveria marcar o estabelecimento de uma nova safra de nadadores brasileiros, tem mantido os veteranos em posições de destaque.

Até a noite desta terça (3), três das cinco melhores performances da competição, que é classificatória para o Mundial de Budapeste, em julho, haviam sido obtidas por atletas com mais de 30 anos.

Em nível internacional, tal faixa etária costuma representar uma linha de corte entre candidatos a pódio. Os Jogos do Rio, por exemplo, foram os primeiros a verem medalhistas com mais de 30 anos -Michael Phelps venceu cinco provas aos 31 e Anthony Ervin triunfou nos 50 m livre aos 35.

A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), em crise após a prisão de quatro dirigentes, levará a princípio apenas oito atletas para a Hungria -e somente em provas olímpicas.

Os dois que encabeçam a lista são Felipe Lima, 32, e João Gomes Júnior, 31, que registraram respectivamente o primeiro e segundo tempos dos 100 m peito -as marcas são as quarta e quinta melhores da temporada. Com os resultados, ambos devem se garantir no Mundial.

Gomes foi o brasileiro com melhor participação individual na Olimpíada do Rio. Na ocasião, ele terminou a mesma prova em quinto, mas afirmou não ter saído com sensação de dever cumprido.

"Saí feliz por ser minha primeira Olimpíada. Mas ninguém valoriza o fato de ter sido quinto, só falam que a natação foi um fiasco", disse.

Apesar da idade, ele afirmou que não admite ter queda de desempenho ou ceder espaço para a nova geração.

"Os velhos estão dando no couro ainda", brincou. "Ir para os Jogos de Tóquio é uma meta que eu vou concluir. Eu não estou para brincadeira. A vaga já é minha de novo, não vou deixar ninguém tirá-la de mim e vou buscar minha medalha", disse o nadador do Pinheiros, que terá 34 anos nos Jogos do Japão.

Para não permitir que a idade aja sobre seu corpo, Gomes contou que "tem renunciado a tudo e a todos". "Principalmente a minha vida pessoal, família e amigos. Não saio muito, como antigamente, porque o corpo demora mais para se recuperar."

Dominic Ebenbichler/Reuters
Guilherme Guido durante disputa dos Jogos do Rio
Guilherme Guido durante disputa dos Jogos do Rio

Na manhã desta quarta (3), com o tempo de 53s78, Guilherme Guido, 30, marcou o décimo tempo do ano nos 100 m costas e também ficou entre os oito melhores índices técnicos da seletiva até agora, que é o critério para ser convocado para o Mundial.

Veterano dos Jogos de Pequim e do Rio, ele tem dominado o estilo no país nos últimos dez anos. É o recordista sul-americano da prova.

"No Brasil não temos peça de reposição. Dependemos muito dos atletas experientes. Enquanto a nova geração não chega para ficar, os experientes vão buscando seu limite. É isso que me motiva", disse o nadador.

Ele lamentou o fato de não ter concorrência interna. "A competição tem que existir, ou então caímos no comodismo", completou.

Felipe Santos, 38, do Botafogo, e Nicholas Santos, 37, da Unisanta, são os dois mais velhos do torneio. Mas nem por isso estão fora do páreo.

Santos detém o segundo melhor tempo do ano nos 50 m borboleta (23s01), prova em que foi vice-campeão mundial em Kazan-2015. Nesta sexta (5), ele tentará cravar uma nova marca relevante.

Outros "trintões" também devem aparecer com força nos três dias finais.

Joanna Maranhão, 30, quebrou o recorde sul-americano dos 400 m livre -que não é sua especialidade- com uma melhora de três segundos em sua antiga marca.

Suas prioridades são os 400 m medley, na sexta.

"Eu já cometi erros como não comer direito, sair de balada e dormir pouco. Mas aprendi o caminho certo e agora, aos 30 anos, conheço bem meu corpo e o respeito."

CIELO NA ÁGUA

Cesar Cielo, 30, nada nesta quinta (4) os 100 m livre, prova na qual é recordista mundial (46s91), em sua estreia individual no Maria Lenk.

Apesar de ser o mais rápido da história, Cielo relegou a prova a segundo plano nos últimos anos em detrimento aos 50 m livre -situação que se repete no Rio.

Se ficar entre os seis melhores tempos do país, no entanto, ele poderá ser convocado para compor o revezamento 4 x 100 m livre no Mundial.

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