Folha de S. Paulo


Confederação de tênis corta verba de atletas, mas reajusta a de cartolas

Dolores Ochoa/Associated Press
Bellucci durante jogo do Brasil contra o Equador, pela Copa Davis
Bellucci durante jogo do Brasil contra o Equador, pela Copa Davis

Após sofrer uma redução de 76% no contrato de patrocínio que recebe dos Correios em relação ao exercício anterior, a CBT (Confederação Brasileira de Tênis) cortou funcionários e diminuiu repasse que fazia aos principais tenistas do país.

Jogadores como Thomaz Bellucci e Bia Haddad Maia -melhores brasileiros nos rankings mundiais masculino e feminino- foram afetados.

O vencimento do presidente da entidade, entretanto, passou ileso ao ajuste. Eleito em julho, Rafael Westrupp, teve seu salário reajustado pela inflação. Se seu antecessor, Jorge Lacerda da Rosa, recebia R$ 20 mil mensais bruto como mandatário, Westrupp passará a receber R$ 22 mil, teto estatutário estabelecido pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil).

O pagamento ao mandatário é feito com recursos da Lei Piva, que advém de porcentagem das loterias federais e é repartido pelo COB.

Cadu Rolim/Fotoarena
Organizador do evento, Rafael Westrupp durante entrevista coletiva do WTA Brasil Tennis Cup em FlorianÛpolis. FLORIANOPOLIS/SC, Brasil 22/02/2014. (Foto: Cadu Rolim / Fotoarena)
Rafael Westrupp, presidente da Confederação Brasileira de Tênis

Também dentro de um cenário de contração, a CBT organizou no início de março sua assembleia geral, exatamente na qual Westrupp foi empossado.

A confederação gastou R$ 112 mil para pagar passagens aéreas, traslados, alimentação e alugar quartos para todos os presidentes de suas 26 federações filiadas em um hotel de luxo no Morumbi, zona sul de São Paulo, cuja diária mais barata é próxima a US$ 100 (cerca de R$ 300).

A cerimônia aconteceu simultaneamente ao Aberto do Brasil, torneio da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) realizado na capital.

Todos os cartolas tiveram direito a trazer acompanhantes de sua escolha e ganharam ingressos para o torneio, que foi realizado no Esporte Clube Pinheiros. A solenidade também serviu de ensejo para abrigar a premiação de uma revista do segmento.

A mesma assembleia aprovou que Rosa, que comandava a CBT desde 2004, permanecesse na entidade até o final de abril para ajudar na transição de Westrupp.

A definição suscitou um ponto controverso, em torno da real necessidade de uma transição, uma vez que Westrupp atuava como superintendente da CBT desde 2013.

Desde que foi eleito, em julho passado, o novo mandatário já vinha tomando praticamente todas as decisões executivas da confederação e participado de reuniões inclusive com a federação internacional da modalidade.

A transição foi um dos derradeiros itens aprovados na pauta da assembleia. Um dos que confirmaram a medida foi o duplista André Sá, que preside a comissão de jogadores. Ele também teve o repasse via Correios cortado pela CBT.

Para ajudar Westrupp, Rosa receberá R$ 22 mil por mês (relativos a março e abril) e benefícios como auxílio moradia. Ele vive em São Paulo e a sede da CBT foi transferida para Florianópolis no último mês de janeiro.

REDUÇÃO

De acordo com o novo contrato de patrocínio assinado em dezembro, com duração de dois anos, os Correios repassarão à CBT R$ 4 milhões divididos entre 2017 e 2018.

A entidade prevê um orçamento de R$ 8 milhões neste ano, segundo ata da assembleia geral.

Mediante o arrocho, a confederação cortou verbas.

Os atletas foram diretamente impactados. Grandes nomes do país, como Bellucci, Bruno Soares, Marcelo Melo e Thiago Monteiro, chegaram a ter 90% de corte no valor que costumavam receber da CBT por meio do patrocínio com a estatal.

Soares, que conquistou dois títulos de Grand Slam em 2016, já recebeu gorda premiação pelos títulos. Agora, a possibilidade inexiste.

Outros tiveram contratos simplesmente finalizados.

O máximo que um tenista pode receber atualmente da entidade é R$ 6 mil por semestre. Ou seja, R$ 1 mil por mês em ajuda voltada sobretudo para passagens aéreas.

OUTRO LADO

A Confederação Brasileira de Tênis afirmou por meio de nota que "todas as suas ações são dentro do estatuto da entidade, regidos e aprovados em Assembleia Geral Ordinária, órgão máximo de decisões da entidade".

A assembleia, segundo o comunicado, é composta pelas 26 federações estaduais, seis conselheiros fiscais e o líder da comissão de atletas. No momento, o duplista André Sá é o jogador que ocupa a posição.

Sobre o gasto de R$ 112 mil para realizá-la em São Paulo, a CBT disse que a sessão é "uma exigência legal" que tem de cumprir periodicamente. "Fazer uma assembleia não é questão de opção e sim de cumprir a lei."

A nota da entidade informa que em assembleia ratificou-se a decisão de transferir sua sede de São Paulo para Florianópolis. "Isso gerou a diminuição substancial nos gastos fixos mensais da CBT, se adequando à nova realidade de receita oriunda de patrocínio".

A confederação afirmou que seu presidente, Rafael Westrupp, não teve aumento salarial, e que "não houve nenhuma oneração extra da folha" de pagamento. Em 2016, o presidente da entidade recebeu R$ 20 mil por mês. O valor foi reajustado para R$ 22 mil em 2017.

Em relação aos dois meses de pagamento ao ex-presidente Jorge Lacerda da Rosa para fazer uma "transição", disse que "não corresponde a uma extensão do mandato da gestão anterior e sim a uma antecipação do fim do mandato anterior para acomodação do período de transição entre as gestões".

"A assembleia aprovou o processo de transição da gestão anterior da CBT para a nova com a finalidade única de que todos os processos burocráticos de assinaturas, transferências e operações em cartórios e demais instituições fossem finalizados efetivamente até 30 de abril de 2017, data em que, por estatuto, a antiga diretoria e presidência tem que sair", concluiu.

Sobre a necessidade do gasto, André Sá afirmou que "na ocasião da reunião da assembleia achamos necessário essa participação do Jorge na transição".

A confederação afirma que os tenistas tinham patrocínio dos Correios mediante contrapartidas em exposição da marca da estatal, mas que o apoio diminuto prossegue com pagamento de passagens de alguns atletas no país.


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