A IAAF (Associação Internacional de Federações de Atletismo) anunciou nesta segunda-feira (3) que sua rede de computadores foi comprometida pelo mesmo grupo de espionagem cibernética russo que as autoridades dos Estados Unidos vincularam a uma grande campanha para influenciar a eleição presidencial norte-americana.
A federação internacional baniu o atletismo russo de todas as competições internacionais, inclusive dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.
Os hackers conseguiram acesso a fichas médicas pessoais de atletas, de acordo com a organização.
A IAAF informou ter descoberto o ataque em 21 de fevereiro. A invasão da rede foi atribuída ao Fancy Bear, grupo que roubou registros da Wada (Agência Mundial Antidoping) depois que esta recomendou que a Rússia fosse excluída da Rio-2016.
Agentes e especialistas forenses acharam vínculos entre o Fancy Bear e a agência militar russa de informações.
"Nossa prioridade são os atletas que forneceram à IAAF informações cuja confidencialidade e segurança acreditavam estar garantidas", afirmou Sebastian Coe, presidente da federação.
Ele acrescentou que todos os atletas que forneceram registros médicos à organização desde 2012 já haviam sido informados da situação.
"Pedimos sinceras desculpas a todos eles, e reafirmamos nosso compromisso de fazer todo o possível para remediar a situação."
No ano passado, o Fancy Bear invadiu o banco de dados da Wada e também a conta de e-mail de um funcionário da Usada (Agência Antidoping dos Estados Unidos).
As duas organizações recomendaram que a Rússia fosse excluída da Olimpíada pelas trapaças praticadas em competições anteriores.
Até o final de 2016, o Fancy Bear divulgou informações médicas confidenciais sobre mais de cem atletas -na maioria britânicos e norte-americanos- e postou os endereços de e-mail de algumas autoridades antidoping dos Estados Unidos e do Canadá.
Os hackers e as autoridades esportivas da Rússia têm afirmado que os registros roubados demonstram que os atletas ocidentais foram beneficiados indevidamente por "isenções terapêuticas", licenças especiais para o uso de substâncias proibidas.
Qualquer atleta pode solicitar isenção desse tipo. As autoridades esportivas e de antidoping internacionais criticaram as revelações, enfatizando que nenhum dos atletas mencionados havia feito qualquer coisa de errado, e que todos haviam solicitado as devidas permissões.
Os dirigentes esportivos russos pediram desculpas pelos problemas de doping, mas em muitos casos, ao fazê-lo, mencionaram as informações roubadas pelo Fancy Bear.
"A Rússia jamais recebeu as chances dadas a outros países", disse Vitaly Smirnov, dirigente russo apontado posteriormente por Putin para reformar o sistema antidoping do país. Ele mencionou os registros da Wada obtidos pelos hackers como prova.
Tradução de PAULO MIGLIACCI