Folha de S. Paulo


Por gratidão, Chapecó faz festa para adversário colombiano em final

Paulo Whitaker/Reuters
Jogadores do time colombiano passaram por um corredor de bandeiras ao som da banda da polícia militar e de boas-vindas de aproximadamente 100 torcedores
Jogadores do time colombiano passaram por um corredor de bandeiras ao som da banda da polícia militar e de boas-vindas de aproximadamente 100 torcedores

"Nostalgia e tristeza". Assim, o técnico do Atlético Nacional, Reinaldo Rueda, definiu à Folha o sentimento que esperava encontrar em Chapecó para o jogo desta terça-feira (4), às 19h15, pela final da Recopa Sul-Americana.

A tristeza esperada por Rueda, porém, foi transformada em gratidão aos colombianos pelos atos de carinho após a tragédia de novembro de 2016, que vitimou 71 pessoas, incluindo 19 jogadores e 24 membros da delegação do time catarinense na região de Medellín, na Colômbia.

Rival em campo nesta terça pelo título da Recopa Sul-Americana, a equipe foi recebida com festa e homenagens em Santa Catarina.

A chegada do clube em Chapecó teve condecorações oficiais e carinho dos torcedores locais. A aeronave que levou a delegação do Atlético Nacional e o prefeito de Medellín, Frederico Zuluaga, aterrissou no início da tarde no aeroporto Serafim Enoss Bertaso, em Chapecó.

O avião foi recepcionado por um tradicional jato d'água. Ao descer, os colombianos passaram por um corredor de bandeiras ao som da banda da polícia militar e de boas-vindas de aproximadamente 100 torcedores. Jogadores e funcionários do Atlético Nacional receberam medalhas, entregues por Rafael Henzel, jornalista sobrevivente do voo da LaMia, e pelo prefeito da cidade catarinense, Luciano Buligon.

O roteiro de homenagens terá sequência nesta terça.

A Prefeitura de Chapecó decretou ponto facultativo. Escolas, universidades e o comércio fecharão as portas em razão da partida.

Antes e durante o confronto na Arena Condá, torcedores da equipe catarinense vão agradecer aos colombianos.

Eles organizarão uma concentração, às 14h desta terça, na praça central da cidade. De lá, caminharão quatro quadras em direção à Arena Condá. Em seguida, as homenagens vão se concentrar dentro do estádio, em três momentos: antes, no intervalo e após a partida.

Nelson Almeida/AFP
O avião com a delegação do Atlético Nacional foi recepcionado por um tradicional jato d'água
O avião com a delegação do Atlético Nacional foi recepcionado por um tradicional jato d'água

Um dia após o acidente, em novembro, o Atlético Nacional organizou uma cerimônia no estádio Atanasio Girardot no horário em que estava previsto o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. O local ficou lotado.

Para receber a partida no seu estádio com capacidade para 22 mil torcedores, o time catarinense precisou de uma autorização especial da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). A regra da entidade veta finais em locais com menos de 40 mil lugares.

O técnico em informática Eliandro Minski pretende estar na Arena às 18h. A escola em que ele trabalha teria aulas à noite, mas decidiu suspendê-las. Os alunos e colaboradores serão dispensados às 17h30 para acompanhar as homenagens e o jogo.

"Aprendi a amar a Chapecoense desde criança por influência do meu pai. Hoje, quando tem jogo e não consigo ir, fica o sentimento de ausência. O jogo contra o Atlético será uma mistura de sentimentos: saudade dos que se foram e gratidão por quem nos consolou e foi solidário. Mas quando a bola rolar voltaremos a sentir a emoção de torcer a cada minuto, a cada lance, a cada chance de gol", afirmou Eliandro.

O técnico da Chapecoense, Vágner Mancini, ressaltou que os jogadores precisam entrar concentrados e deixar o clima de festa de lado.

"É necessário saber diferenciar o que é festa, solidariedade de um jogo de futebol. Temos o desejo de vencer a partida. Espero que, apesar de toda a festa, os atletas entrem cientes do que precisam fazer", disse o técnico, contratado em de dezembro para reconstruir o time.

Rueda também seguiu a mesma linha. "Irmandade continua fora do campo, mas esperamos um bom jogo com intensidade de uma final."

A Recopa Sul-Americana reúne o campeão da Copa Libertadores e o ganhador da Copa Sul-Americana. O Atlético Nacional faturou o principal torneio de clubes da América do Sul, enquanto a Chapecoense foi declarada pela Conmebol como campeã da Copa Sul-Americano após a tragédia aérea de 29 de novembro. Na oportunidade, o time colombiano, que era o outro finalista, apoiou a decisão da entidade.


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