Folha de S. Paulo


Acusado de dar propina em eleição da Rio-16 levou quase R$ 3 bi de governo

Dono do Grupo Facility, o empresário Arthur Cesar Menezes Soares Filho é investigado por procuradores da Operação Calicute, o braço fluminense da Operação Lava Jato.

Apelidado de "Rei Artur" por sua proximidade com Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, Soares Filho recebeu quase R$ 3 bilhões por contratos assinados com o Estado durante os oito anos da gestão passada.

Ele é apontado como o maior fornecedor de serviços terceirizados por meio de empresas ligadas ao Grupo Facility.

De acordo com o jornal "Le Monde", Soares Filho teria pago cerca de US$ 1,5 milhão ao filho de um integrante do COI (Comitê Olímpico Internacional) durante o processo de escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Em janeiro, o empresário deu depoimento aos procuradores da Calicute e afirmou ser amigo pessoal do ex-governador, preso no ano passado.

No depoimento, ele disse que começou a trabalhar no setor público em 1994 e não se lembrava de quando constituiu a Facility como empresa principal do grupo.

Na investigação, os procuradores constataram que as empresas do empresário repassou cerca de R$ 1 milhão para o escritório de advocacia da ex-mulher de Cabral, Adriana Ancelmo. Já a empresa de Carlos Miranda, a LRG, recebeu R$ 660 mil. Miranda é apontado como um dos operadores financeiros do grupo. Adriana e Miranda também estão presos.

Questionado, Soares Filho disse que contratou o escritório de Adriana por recomendação do ex-governador. O empresário negou que o pagamento serviria como propina ao casal.

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Dono do Grupo Facility, o empresário Arthur Cesar Menezes Soares Filho é investigado por procuradores da Operação Calicute, o braço fluminense da Operação Lava Jato.
O empresário Arthur Cesar de Menezes Soares Filho

OUTRO LADO

A defesa do empresário Arthur Cesar Menezes Soares Filho disse nesta sexta (3) que o seu cliente desconhece as informações divulgada pelo jornal francês "Le Monde".

De acordo com a publicação, Soares Filho teria pago cerca de US$ 1,5 milhão ao filho de um integrante do COI (Comitê Olímpico Internacional) durante o processo de escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

O pagamento teria sido feito três dias antes da escolha do Rio em cerimônia realizada em Copenhague, capital da Dinamarca.

Ex-dono do Grupo Facility, Soares Filho é investigado por procuradores da Operação Lava Jato. O Comitê Rio-2016 afirmou que o empresário não tem nenhuma relação com o órgão. Segundo a entidade, ele nunca participou de qualquer reunião no comitê.

O comitê também informou que Soares Filho não fez parte da delegação oficial brasileira na Dinamarca.

Para a Rio-2016, a vitória da candidatura brasileira foi limpa. "Não fizemos nada de errado. Os documentos e os números [dos votos] sempre estiveram abertos", afirmou o diretor de comunicação do órgão, Mario Andrada.

No terceiro turno, o Rio venceu Madri por 66 votos a 32. Chicago e Tóquio também concorreram.

ESCÂNDALO EM 1998

O maior escândalo de corrupção do COI (Comitê Olímpico Internacional) foi revelado em 1998.

Cartolas da entidade ganharam viagens internacionais e estadias em hotéis de luxo para votar a favor de Salt Lake City, cidade vitoriosa na disputa pelos Jogos de Inverno de 2002.

Após o vexame, o COI lançou medidas de recuperação que incluíram banir dez membros, mudar regras e incentivar rotatividade. Desde então, o comitê proíbe presentes, visitas ou lobby de forma informal das cidades candidatas.

Não era incomum.

Em 2000, o jornal americano "Los Angeles Times" publicou reportagens sobre reunião promovida no Rio em que Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil, presenteou o mexicano Mario Vazquez Raña com relógio de US$ 1 mil.

Nuzman, que havia sido eleito membro do COI, já propagava informalmente o desejo de o Rio se candidatar para sede de 2012.

Neste ano, o COI vai escolher a cidade que vai receber os Jogos de 2024, entre Paris e Los Angeles.

Apontado como beneficiário do pagamento feito pelo empresário brasileiro às vésperas da escolha do Rio para 2016, o filho do ex-presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo e do COI protagonizou escândalo similar no mundo olímpico no ano passado.

Em maio, o jornal "The Guardian" publicou que o comitê de candidatura dos Jogos de Tóquio fez pagamento de 1,3 milhão de euros a conta vinculada a Papa Massata Diack em Cingapura. O senegalês é filho de Lamine Diack, ex-chefe da IAAF e ex-membro do COI, que é investigado por corrupção e acobertamento de casos de doping pela Justiça francesa.


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