Folha de S. Paulo


Com prestígio em SP, Uram queria ser ídolo no Maracanã, mas foi vaiado

Filho de um diamantário –seu pai trabalhou na lapidação e no comércio da gema preciosa–, o empresário carioca Eduardo Uram, que "comenta tudo menos a própria idade", revelou jogadores como os laterais Daniel Alves (Juventus) e Maxwell (PSG) e o atacante Roberto Firmino (Liverpool).

Hoje, ele é o profissional que tem mais penetração nos clubes paulistas: no Palmeiras (empresário de Vitor Hugo, Antonio Carlos, Egídio, Jean, Rafael Marques e Willian), no São Paulo (Cícero, Bruno e Wellington Nem) e no Santos (Matheus Ribeiro). No passado recente, também trabalhou com Rodriguinho, do Corinthians. Para ele, o motivo para sua capilaridade vem da ética que aprendeu no ofício do pai e que ainda segue.

"Palavra é palavra, e eu honro. Cumpro compromissos. Jogador não é peça, é ser humano. O futebol tem fama de ser mal frequentado, mas aprendi a ter confiança. E eu priorizo o lado esportivo em relação ao negócio", afirma.

Em 1998, Uram entrou "por acaso" no mundo do futebol, já que "ninguém faz teste vocacional para ser empresário". À época representante da marca de relógios e óculos Fossil no Brasil e torcedor do Botafogo, ele levava seu filho ao estádio para acompanhar o time, querendo passar sua paixão para a próxima geração. Nessa época, ele se aproximou de diretores e passou a empresariar três jogadores das categorias de base do clube: o lateral Léo Moura e Leandro Eugênio e o atacante Felipe "Tigrão".

O trabalho como empresário serviu como meio de realizar de alguma forma o desejo adolescente de ser jogador de futebol como seus heróis alvinegros Marinho Chagas e Fischer.

"Eu sonhava em jogar no Maracanã e ter meu nome gritado pela torcida. Mas na estreia do goleiro Bruno pelo Flamengo, em 2006, o sonho se realizou ao contrário. O time perdeu de virada por 2 a 1 para o Internacional, dois gols de pênalti, e o Maracanã inteiro me xingou em coro", conta. Uram deixou de ser empresário de Bruno seis meses antes de o goleiro ser preso pelo assassinato de Eliza Samúdio.

Torcedor apaixonado, Uram foi aprender com um estrangeiro os fundamentos da carreira de empresário.

Editoria de Arte/Folhapress

"Todo mundo acha que sabe tudo de futebol, mas não é verdade. Logo entendi que não sabia nada. Nos meus dois primeiros anos eu resolvi aprender, e tive como meus professores os homens do futebol. O principal deles foi o holandês Piet de Visser [que viu Romário e Ronaldo em ação e os levou para o PSV]. Aprendi com ele que o futebol tem que estar acima dos negócios. O profissional precisa entender o futebol", explica.

O empresário se incomoda com insinuações feitas de que o Tombense, clube mineiro em que registra alguns jogadores, seja de fachada e serviria somente para suas transações.

"Sigo à risca toda a legalidade. Dizem coisas pejorativas que até ofendem. O Tombense é um clube extremamente estruturado, que está há cinco anos na Série A do Mineiro e que por um ponto não subiu para a Série B do Brasileiro no ano passado. Tem CT, estádio, plantel... Por lá passaram jogadores como André Lima, Hernane... Clube de fachada é um escritório". Uram participa como investidor do Tombense, que é arrendado.

O empresário ainda comenta que a proibição da Fifa à participação de investidores nos direitos econômicos de jogadores, em vigor desde 2015, será benéfica para os profissionais já estabelecidos.

"Acho que tinha que haver alguma limitação àquela altura. Muita gente que não podia ter direitos econômicos estava no ramo. Motorista de táxi, primo, dono de restaurante... Gente alheia ao futebol. O banimento foi drástico, mas talvez necessário. No futuro eles vão poder cobrar a partir de alguns critérios como estrutura mínima fornecida ao jogador, percentuais máximos de direitos econômicos, limite no número de jogadores agenciados", raciocina.

A crítica de Uram àqueles que caem de paraquedas no futebol se fundamenta no trabalho a longo prazo que ele tem com vários de seus jogadores. Antes de qualquer um, ele dizia que o meia Cícero, do São Paulo, era um exímio cabeceador, e que o lateral Egídio, do Palmeiras, era um cruzador nato –ele trabalha com eles desde que tinham 14 anos.

Atualmente, o clube paulista é seu parceiro mais fiel. Uram explica que o cuidado com o jogador e com o clube são as suas cartas na manga.

"Se lapidar um jogador é buscar o melhor lugar para ele em um determinado momento, eu faço isso, sim. Tem jogadores que já estão prontos aos 17 anos, como o Neymar. Outros precisam de mais tempo, e então o empresário precisa abrir as melhores oportunidades para ele. O Fernandão (ex-Palmeiras), que hoje está no Fenerbahce, foi assim. Rodou bastante. Trata-se de dar chances para que o jogador exerça o limite do potencial", diz.

"Sobre o Palmeiras: em qualquer ramo, todo cliente tem bons fornecedores. Quando você entrega bons produtos, o cliente volta à você. E eu tenho bons jogadores. Há quem tente tirar o máximo do clube logo de saída. Eu procuro a continuidade do relacionamento: às vezes eu deixo de ganhar para manter a ligação. Toda relação é uma busca constante do ponto de equilíbrioº, completa. No passado, ele já teve grande afinidade com o São Paulo e com o Figueirense.

Além de ser empresário de seis jogadores do Palmeiras, ele ajudou na contratação de dois atletas: Róger Guedes, aproximando o Palmeiras dos dirigentes do Criciúma; e Felipe Melo, devido a acordo profissional que tem com o agente espanhol José Rodriguez Baster. No primeiro caso, ele não cobrou pela participação.

Rivaldo Gomes/Folhapress
Felipe Melo comemora com Tchê Tchê um gol do Palmeiras
Felipe Melo comemora com Tchê Tchê um gol do Palmeiras

Endereço da página:

Links no texto: