Folha de S. Paulo


Fast food? Não, estádios da NFL tentam servir comida melhor

Bryan Meltz/The New York Times
 The Atlanta chef Kevin Gillespie with his Closed on Sunday chicken sandwich, which he will serve at his Game Changer restaurant at the new Falcons stadium. Credit Bryan Meltz for The New York Times
Kevin Gillespie com sanduíche servido no estádio do Atlanta Falcons

Comer em um jogo de futebol americano profissional pode ser tão brutal quanto um tranco do safety Keanu Neal, do Atlanta Falcons.

Isso ficou claro para Andrew Zimmern, chefe de cozinha, apresentador de TV e torcedor dedicado, em uma noite gélida de fevereiro alguns anos atrás, no MetLife Stadium em Nova Jersey.

Ele estava assistindo a uma derrota acachapante do Denver Broncos diante do Seattle Seahawks, no Super Bowl 48, quando um sujeito passou por ele vendendo chocolate quente. Zimmern pediu dois copos e encarregou os vizinhos de passar uma nota de US$ 20 (R$ 62) ao vendedor, imaginando que o troco poderia ficar de gorjeta. O vendedor respondeu com um aceno, mas não foi por ter apreciado a gorjeta. Ele estava cobrando mais US$ 20 (R$ 62) pelo segundo copo de chocolate quente, que Zimmern recorda como um líquido marrom nada espesso e no máximo morno.

"Fiquei muito ofendido", ele disse. "E também me sinto assim quanto estou assistindo a um jogo, peço um hot dog, tenho de pagar US$ 12 (R$ 37) e o sanduíche é um lixo".

Quando surgiu a oportunidade de criar um cardápio para o novo estádio do Minnesota Vikings, uma obra de US$ 1,13 bilhão (R$ 4,6 bilhões) inaugurada no ano passado, ele prometeu que tornaria melhor a comida do futebol americano.

Dustin Chambers/The New York Times
At the new stadium for the Atlanta Falcons that will open next season, prices will be kept low, even for specialty items like the Mitchell dog in a sweet bun ($6) and the classic cheeseburger ($5). Credit Dustin Chambers for The New York Times
Lanches servidos no estádio do Atlanta Falcons na próxima temporada da NFL

Com a aproximação de um novo Super Bowl, o Vikings e outros times da National Football League estão liderando uma corrida pela melhora da comida no mundo tradicionalista dos estádios de futebol americano, um dos últimos grandes mercados cativos que ainda não aprenderam a atender às sensibilidades culinárias expandidas dos torcedores.

O copo de chocolate quente ruim inspirou uma versão congelada feita com chocolate escuro e creme produzido no local, que Zimmern vende por US$ 8 (R$ 25) em um dos dois estandes de comida que ele opera no U. S. Bank Stadium em Minneapolis. Em companhia de seu sanduíche de carne de cordeiro marinada com cominho e de outros dois sanduíches criados em parceria com seu sócio Gavin Kaysen, do restaurante Spoon and Stable, de Minneapolis, a criação dele entrou para a lista de melhores pratos do novo estádio compilada por Rick Nelson, o crítico de gastronomia do jornal "Star Tribune".

"O Vikings fez um ótimo trabalho para atrair as pessoas à comida do estádio", disse Nelson, ainda que "continue a ocultar o fato de que boa parte do cardápio disponível é muito fraco".

A comida vem melhorando em lugares como aeroportos, cinemas e casas de shows, onde pessoas se reúnem por outros motivos que não comer. No esporte profissional, o beisebol vem liderando, em parte por conta do fato de que de 1990 para cá 22 estádios novos foram inaugurados pelos times da liga profissional.

Ainda que pratos básicos como hot dogs, pizza e pipoca continuem a responder por cerca de dois terços das vendas nos estádios de esporte, os cardápios do beisebol amadureceram e incluem bolinhos de berinjela com cobertura de gochujang, sanduíches de carne de caranguejo Dungeness, ceviche, cafés expressos e cervejas artesanais.

O futebol americano em geral ficou para trás, em larga medida porque os esportes são diferentes, dizem pessoas que trabalham no setor de alimentação dos estádios. O beisebol é jogado em ritmo mais lento, com paradas longas que permitem que os torcedores vagueiem pelo estádio e experimentem comida de diferentes estandes. As torcidas são menores, e os estádios abrigam cerca de 80 jogos por temporada, o que torna mais fácil desenvolver e sustentar barracas de comida mais criativas.

O futebol americano é bem diferente. O público pode superar as 80 mil pessoas, e a maioria delas não quer se afastar de seus assentos para não perder grandes jogadas, e só visita a área de alimentação antes do jogo e no intervalo. Com apenas oito jogos em casa em cada temporada regular, é difícil criar um sistema que produza comida boa.

"Os portões se abrem e 65 mil pessoas entram, e depois eles ficam fechados de novo por uma semana ou mais", disse Zimmern.

E há também o costume do "tailgating" - torcedores que preparam churrascos e sanduíches no estacionamento do estádio em uma espécie de festa pré-jogo -, mas é difícil determinar se a comida ruim levou ao tailgating ou o tailgating levou à comida ruim.

Madeleine Hill
Doces servidos no U.S. Bank Stadium, em Chicago
Sanduíche no U.S. Bank Stadium, em Chicago. Credit Madeleine Hill

O NRG Stadium, de Houston, onde será disputado o Super Bowl deste ano, no domingo, é uma das mais famosas áreas de tailgating da NFL, disse Rob Walsh, jornalista gastronômico do Texas que pesquisou sobre o estádio para um livro de culinária Tex-Mex que ele lançou em 2010.

"Estamos falando sobre churrascos de primeira qualidade, preparados em trailers gigantescos equipados com telões externos de TV", ele diz. "É muito mais divertido do que comer dentro do estádio".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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