Folha de S. Paulo


No Palmeiras, ex-jogador da Chapecoense supera trauma

Contratado pelo Palmeiras para esta temporada, o meia Hyoran, 23, foi um dos onze jogadores que faziam parte do elenco da Chapecoense, mas não embarcaram no voo que deixou 71 mortos no final de novembro de 2016.

Uma lesão no joelho o tirou da viagem à Colômbia que levava o time para a inédita final da Sul-americana, contra o Atlético Nacional. Com a oportunidade perdida de fazer história com o clube da cidade onde nasceu, ele lembra que ficou revoltado.

"Por vezes eu briguei comigo mesmo. Por vezes eu contestei Deus: "por que essa lesão agora? Por que eu não estou podendo ir para uma final de Sul-americana?" Eu tinha o desejo de estar lá", afirmou o atleta à Folha.

No dia 29 de novembro, Hyoran recebeu a notícia da tragédia. Desapontado, custou acreditar que toda aquela história era verdadeira. Perdeu grandes amigos e chegou a imaginar que podia ter sido mais um dentro do avião.

Após se apegar à religião para confortar a dor, entendeu que talvez a impossibilidade de atuar na decisão tivesse um propósito. E teve.

A sua transferência da Chapecoense para o Palmeiras foi o maior valor de venda da história do clube de Santa Catarina –cerca de R$ 7,5 milhões. O dinheiro está ajudando na reconstrução da equipe, que já teve 23 reforços.

Apesar da colaboração indireta, teve medo que os torcedores o vissem como um traidor pela saída no momento mais delicado do clube. Até houve uma tentativa da Chapecoense para ele ser repatriado, mas Hyoran recusou.

"Até houve uma conversa, mas logo a gente disse que não seria bom. Não seria bom para mim, não seria bom para a Chapecoense. Eu não teria cabeça para fazer um bom ano lá", disse o meia.

Já no Palmeiras, fez sua estreia justamente contra a sua ex-equipe. No dia 21 de janeiro, ele retornou à Arena Condá, onde se sentia em casa, e a sua desconfiança sobre o rancor da torcida acabou.

Quando anunciado pelos alto-falantes do estádio, foi um dos mais aplaudidos pela torcida local.

"Foi um misto de emoções. Eu estava feliz de estar vestindo a camisa do Palmeiras. Eu estava triste, com o coração partido, quando vi o estádio cheio e lembrei de todos os meus colegas. Mas ao mesmo tempo fiquei feliz em ver a Chapecoense reconstruída", recordou.

Ele ainda pediu para que todos que foram atingidos com o acidente de alguma forma voltem a sorrir.

"A tristeza daqueles dias a gente guarda, mas a vida continua e a gente não pode viver de tristeza", afirmou.

Cicatrizado da tragédia, ele chega ao Palmeiras para compor o elenco e não deve ser titular de imediato. No entanto, promete que vai trabalhar duro para ganhar o seu espaço e realizar o sonho de "fazer história em uma grande equipe da capital paulista."

Acidente em voo da Chapecoense


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