Folha de S. Paulo


Público pífio e clima de várzea são retrato inicial do Estadual do Rio

Apenas uma roleta aberta, estádio praticamente vazio e sem nenhuma placa de publicidade vendida ao redor do campo.

Num clima de futebol de várzea, 362 torcedores testemunharam na calorenta tarde de quarta (18) a vitória da Portuguesa diante do Tigres, por 2 a 1, em Xerém, zona rural de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

A partida foi a nona do Estadual do Rio de 2017, um dos mais antigos torneios de futebol do país.

Aberta no dia 11, a competição coleciona partidas com públicos pífios.

"Todos me chamam de maluco em casa. Eles não entendem a nossa paixão pelo futebol. Isso aqui é gostoso, mesmo com esse regulamento esdrúxulo", disse o estudante de administração Vinicius Dutra, 18, referindo-se à fórmula de disputa elaborada para o torneio.

Neste ano, a Federação de Futebol do Rio fez uma fase preliminar e colocou seis times para disputar duas vagas para a Taça Guanabara, o primeiro turno.

Os classificados vão se juntar aos outros dez clubes no restante da competição.

Já os quatro últimos vão tentar fugir do rebaixamento num quadrangular. Os dois piores descem para a Série B, torneio que vão disputar ainda neste ano.

Sob um sol de quase 40º C, poucos torcedores se animavam a cantar antes do início da partida.

A maioria do público era formada por moradores das redondezas. Cada um pagou, no máximo, R$ 10 para assistir ao jogo.

"Com um calor desse, não tem outra explicação. Só o amor pelo futebol explica", afirma o vigilante Douglas Câmara, dando a mão para o filho de três anos.

O Los Larios só começou a ganhar um ar boleiro, quando uma dezena de integrantes da "Brava Raça Lusitana" chegaram.

Eles cantavam músicas de apoio desde o início da esvaziada partida.

Uma faixa pendurada no alambrado lembrava uma das façanhas da Portuguesa -a vitória do time suburbano em cima do Real Madrid, por 2 a 1, em 1969, em pleno Santiago Bernabéu.

Já o Tigres contava apenas com cinco desanimados fãs.

Pouco antes do início da partida, eles colocaram uma faixa no alambrado com a inscrição "Garra Jovem" e ficaram sentados assistindo ao jogo.

Dentro de campo, o futebol era cadenciado por causa do calor. A principal atração era a dupla Felipe e Pedrinho, destaque do Vasco na conquista do título da Libertadores de 1998.

Felipe é o técnico do Tigres. Pedrinho é o seu auxiliar.

Os dois times investiram cerca de R$ 150 mil mensais para montar os seus elencos -quase quatro vezes menos que o salário do flamenguista Paolo Guerrero.

O Tigres é ajudado pelo prefeito de Caxias, Washington Reis, presidente de honra do clube.

A Portuguesa conta com sócios e recebe R$ 200 mil mensais por ceder o seu estádio para o Flamengo.

O time da Gávea vai jogar lá neste semestre.

"O campeonato é ruim, o sol é assustador, mas vamos resistir aqui. Isso aqui é uma filosofia de vida. Somos contra o futebol moderno", disse Paulo Vinicius, 22, estudante de biblioteconomia e líder da organizada da Portuguesa.

"Não queremos botar camisa para torcer e nem subir de escada rolante para a arquibancada. Gostamos é dessa festa", acrescentou Vinicius, logo após o gol do atacante Fabinho, aos 38 min do segundo tempo, que garantiu a vitória para a Portuguesa, mesmo com um jogador a menos a maior parte do jogo.

A Portuguesa é a líder do hexagonal da fase preliminar. O Tigres, de Felipe, é o lanterna.


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