Com o fim do mandato de quatro anos de Paulo Nobre e a chegada de Maurício Galiotte à presidência do Palmeiras, o clube retomou uma relação cordial que havia sido rompida com a Mancha Alvi Verde e demais grupos organizados.
A despeito dos títulos conquistados, o ex-presidente e as torcidas tiveram relação conflituosa nos últimos anos. De 2013 até o fim do mandato, em dezembro, o cartola rompeu diálogo com representantes das organizadas.
A relação conflituosa teve vários episódios. No último deles, em 2016, o Palmeiras foi punido após integrantes da Mancha brigarem com flamenguistas em partida realizada em Brasília. O clube teve que disputar cinco jogos com um setor do Allianz Parque interditado. O local tem seis mil lugares e, com a pena, o clube deixou de ganhar cerca de R$ 2 milhões em bilheteria.
A retomada da relação entre clube e organizada ficou clara na primeira quinzena de janeiro. Dois atletas do clube, Tchê Tchê e Dudu, enviaram vídeos com mensagens de agradecimento e com parabenizações aos 34 anos da Mancha. Na gestão Nobre tal atitude seria impensável devido ao conhecimento público da má relação entre o mandatário e a organizada. A atitude partiu dos jogadores, que não foram incentivados pela diretoria, mas que perceberam que não existia mais a mesma tensão no ar.
"Estou aqui para dar os parabéns pelos 34 anos de Mancha, falar que estamos juntos e que contamos com o apoio e a compreensão de vocês", diz Tchê Tchê que, segundo Nando Nigro, presidente da Mancha, já foi repreendido por visitar sede da organizada.
"Ele foi comprar uma camisa para dar para um amigo dele, tirou fotos com o pessoal e depois ouviu do clube que seria multado. Não somos amigos de jogadores, somos apenas torcedores, mas no passado tinha uma barreira que agora não está mais lá", diz Nigro.
O marco inicial da ruptura entre Nobre e Galiotte foi justamente uma reverência feita pelo atual presidente a torcedores durante a festa de comemoração do título brasileiro, após a partida contra a Chapecoense, no Allianz Parque. Nobre viu como um afago à Mancha e se aborreceu, e Galiotte argumenta que saudou todos os setores. A pessoas próximas, ele tem dito que acredita na boa relação institucional, cada um com seu papel.
Em medida para ajudar todos os torcedores do clube, o Palmeiras começará a vender nas bilheterias do Allianz Parque ingressos para jogos fora da capital quando houver autorização do mandante –o que é praxe no futebol brasileiro, mas que o clube aboliu nos últimos anos.
"O torcedor sofre para caramba. Com o Nobre, viajamos muito, às vezes fomos parados na estrada, chegamos no local e não tinha mais ingressos. O Maurício apaga as fogueiras, sempre esperamos isso dele. Ele não é um ditador, é agregador", diz o presidente da Mancha.
Outra ideia do clube é a de garantir que a organizada fique no setor amarelo do Pacaembu, na "curva". O pensamento é o de que, historicamente, eles sempre ficaram lá, e que desportivamente é positivo para o Palmeiras, já que o local fica mais perto do campo e o barulho das arquibancadas ajudaria a dar apoio ao time e a pressionar os adversários. Com Nobre, muitas vezes eles tiveram que ficar no "tobogã" e se queixaram disso.
"Todo torcedor do Palmeiras, sem distinção, tem que ser tratado com dignidade, sem qualquer tipo de privilégio. Nesta relação, o respeito deve ser mútuo, até porque objetivo de todos é ajudar o Palmeiras", disse Galiotte à Folha via assessoria de imprensa.
CREFISA
| Divulgação |
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| Pôster de divulgação da campanha de Leila Pereira ao conselho do Palmeiras |
José Roberto Lamacchia e Leila Pereira, proprietários da Crefisa e da FAM, patrocinadores do Palmeiras, cultivam boa relação com os membros da Mancha. Em eventos como apresentações de jogadores na sede da FAM, representantes da organizada são convidados.
Na eleição para o conselho deliberativo, marcada para fevereiro, Pereira é uma das principais candidatas e deve ser a mais votada. Com a ajuda da Mancha, que a apoia publicamente e diz não receber qualquer contrapartida.
"Ela sempre apoiou a torcida, deu atenção, e colocou muito dinheiro no clube. Vai ser uma boa presidente no futuro", conclui Nigro.
NOBRE X ORGANIZADAS
mar.2013 - 1º racha
Após torcedores agredirem jogadores do Palmeiras em Buenos Aires, incluindo o goleiro Fernando Prass, Paulo Nobre rompe relação com as organizadas. Segundo ele, o Palmeiras não daria mais "regalias" às torcidas, como vender ingressos para as organizadas em partidas no país e ceder bilhetes para jogos fora do Brasil
ago.2014 - Protesto
Cerca de 300 pessoas, na maioria integrantes das torcidas organizadas Mancha Alvi Verde e TUP, fazem protesto em frente o CT e pedem a saída de Paulo Nobre. O treino é cancelado. Em carta, eles falam para o presidente "sair do pedestal"
set.2015 - Represália
Palmeiras coloca uniformizadas no tobogã do Pacaembu, ato que elas veem como represália de Nobre. Em protesto, elas fazem silêncio durante boa parte de jogo no local
mar.2016 - Invasão
Membros da Mancha invadem CT do Palmeiras e se reúnem com o técnico Cuca e jogadores. O clube divulga nota de repúdio e procura a Polícia Militar. A organizada é suspensa e não pode ir a jogos do time
jun.2016 - Expulsão
Após briga no jogo entre Palmeiras e Flamengo, em Brasília, que envolveu membros da Mancha, clube expulsa envolvidos dos planos de sócio-torcedor. O Allianz Parque tem setor interditado pelo STJD
nov.2016 - Título e festa
No gramado, após a vitória do Palmeiras sobre a Chapecoense que garantiu o título nacional, Galiotte saúda torcedores. Nobre vê gesto como afago à Mancha e se incomoda. Galiotte diz que foi para todo o estádio. Durante a festa do título, Nobre discursa e é xingado por membros da Mancha em frente a sede da organizada