Folha de S. Paulo


Goleiros titulares do 'trio de ferro' estiveram perto de desistir do futebol

"Jamais vou esquecer este ano. Realmente, nem sonhava virar titular."

A frase é do goleiro Jailson, 35, um dos principais nomes do Palmeiras na conquista do título brasileiro em 2016, mas poderia ser dos companheiros de posição Walter, do Corinthians, ou Sidão, contratado pelo São Paulo.

Os goleiros do "trio de ferro", como são conhecidos os três principais times da capital paulista, tiveram trajetórias bem parecidas desde que iniciaram a carreira. Conviveram com o desemprego, salários atrasados, fizeram bicos para manter o sustento da família e conseguiram se firmar como titulares em grandes equipes do futebol nacional justamente em 2016.

Contratado pelo Palmeiras em outubro de 2014 -ano em que o clube brigava contra o rebaixamento-, Jailson virou titular quase dois anos depois, após a contusão de Fernando Prass e falhas de Vagner. Se tornou ídolo.

"Fiquei um ano e meio só treinando. Me preparei bastante para o dia que aparecesse a oportunidade e consegui aproveitar da melhor maneira possível. Não imaginava que meu ano terminaria desta forma", afirmou.

Jailson começou a carreira no Joseense, atual São José Futebol Clube, equipe que disputa a Série A3 do Paulista. Passou por Campinense, Ituano, Guaratinguetá, Juventude, Oeste e Ceará, seu último clube antes de se transferir para o Palmeiras.

"Fui descoberto na várzea e quando cheguei ao profissional nunca havia feito trabalho de base. Não sabia bater na bola, não sabia cobrar tiro de meta. Fui profissionalizado aos 22 anos e comecei recebendo R$ 100 por mês. Tenho que agradecer muito a minha família, a minha avó, que falava para eu não desistir do meu sonho", disse o camisa 49 do Palmeiras, que renovou contrato com o clube até o final de 2018.

"Hoje devo ganhar 2.000 vezes mais", brincou, referindo-se ao salário atual.

DROGAS E ÁLCOOL

Sidão, 34, não conquistou um título como Jailson, mas descreve o ano de 2016 como "altamente positivo".

Era reserva do Audax no início da temporada. Após a contusão do titular Felipe Alves na reta final do Paulista, foi decisivo na semifinal contra o Corinthians, conquistou o vice-campeonato e foi para o Botafogo, ajudando o clube carioca a conseguir uma vaga na Libertadores-2017. No fim do ano passado, foi contratado pelo São Paulo.

Julia Chequer/Folhapress
Sidão durante treino do São Paulo
Sidão durante treino do São Paulo

"Se pensar como foi o início de 2016 não dá para acreditar que meu ano foi positivo assim. Não esperava", afirmou Sidão, que lembrou ter sido contratado pelo Botafogo três horas após assinar a renovação com o Audax por mais uma temporada.

Assim como Jailson, Sidão teve muitas dificuldades na carreira. Se envolveu com drogas e álcool quando estava nas categorias de base.

"Quando tinha 17 para 18 anos eu ganhava R$ 5 do Nacional como ajuda para o transporte. Usava o dinheiro para comprar álcool e maconha. O que fazia com R$ 5 fui fazer com R$ 800 quando estava no Corinthians", conta.

Há quatro anos, quase desistiu do futebol. Sem clube, fez bicos como segurança no Theatro Municipal de São Paulo e até ronda pelas ruas de Taboão da Serra.

"Eu costumava dizer que para a carreira de um jogador valer a pena, ele tinha que jogar em um time grande. A maioria dos jogadores atuam apenas em times pequenos e com contratos curtos. Você joga três meses e, logo depois, tem que procurar um novo time. Hoje, posso dizer que minha carreira valeu a pena", acrescentou.

Assim como Jailson e Sidão, o corintiano Walter, 29, também teve um 2016 que ficará marcado na sua carreira. Contratado pelo clube em 2013, o goleiro conseguiu desbancar o ídolo Cássio, que chegou até ser convocado para a seleção, e terminou a temporada como titular.

Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians
O goleiro Walter durante o treino do Corinthians
O goleiro Walter durante o treino do Corinthians

Há cinco anos, porém, a realidade era outra. Sem clube, trabalhou num bar administrado pela sua família, em Jaú, interior de São Paulo. Ele também morou na casa dos tios em Piracicaba quando jogava pelo União Barbarense, último clube que passou antes de chegar ao Corinthians.

"Sofri bastante nos times pequenos que passei. Até chegar aqui foi uma luta imensa, dá até para escrever um livro com o que eu passei. Individualmente, foi uma boa temporada. Foi o ano que mais joguei pelo Corinthians, consegui ser titular em boa parte, creio que fiz boas apresentações e terminei jogando", afirmou o goleiro.

Jailson, Walter e Sidão terão que continuar mostrando serviço em 2017 para não perderem a vaga de titular.

O palmeirense tem grande chance de voltar para o banco com a recuperação de Fernando Prass, que retorna ao time após quatro meses parado se recuperando de uma cirurgia no cotovelo.

Escolha de Ceni, Sidão deve largar na frente na disputa por posição com Renan e Denis.Já Walter vai brigar pela preferência do técnico Fábio Carille com Cássio.

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RAIO-X

JAILSON

Nome completo:
Jailson Marcelino dos Santos

Nascimento:
20.jul.1981 (35 anos), em São José dos Campos (SP)

Clubes:
Joseense, Campinense, Guaratinguetá, Juventude, Oeste, Ceará e Palmeiras

Principais títulos:
Copa do Brasil-2015 e Brasileiro-2016 (Palmeiras)

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SIDÃO

Nome completo:
Sidney Aparecido Ramos da Silva

Nascimento:
24.dez.1982 (34 anos), em São Paulo

Clubes:
Corinthians, Juventus, Taboão da Serra, União Mogi, Rio Claro, Grêmio Prudente, Audax, Guaratinguetá, Audax Rio, Botafogo e São Paulo

Principal resultado:
Vice-campeão do Paulista-2016 (Audax)

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WALTER

Nome completo:
Walter Leandro Capeloza Artune

Nascimento:
18.nov.1987 (29 anos), em Jaú (SP)

Clubes:
XV de Jaú, Iraty, Londrina, J.Malucelli, Caxias, Novo Hamburgo, Noroeste, União Barbarense e Corinthians

Principal título:
Brasileiro-2015 (Corinthians)


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