Folha de S. Paulo


'Ter sido o escolhido me fez bem como ser humano', diz técnico da Chape

Marco Favero/Agência RBS/Folhapress
CHAPECÃ
Vagner Mancini, novo técnico da Chapecoense

Uma semana após a queda do avião que levava a equipe da Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana, a diretoria do clube se reuniu e definiu o perfil do técnico que seria responsável pela reconstrução do time. O escolhido foi Vagner Mancini, 50 anos, que aceitou o convite para o que define como o maior desafio de sua carreira.

Mesmo sem conquistar um título nacional desde 2005, quando foi campeão da Copa do Brasil com o Paulista, ele venceu a concorrência com Levir Culpi, que se ofereceu para trabalhar de graça até o início de maio, Jorginho, ex-Vasco, e Ney Franco, desempregado há mais de um ano.

"O fato de eu ter sido o escolhido me fez bem como ser humano e isso não tem preço. Representa a oportunidade de dar minha contribuição não somente no campo profissional, mas também no lado humano", disse Mancini, que estava sem clube desde o início de setembro, quando foi demitido do Vitória.

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Folha - Por que aceitou o convite da Chapecoense?
Vagner Mancini - A negociação começou quase uma semana após o acidente. O Maninho [Plínio David de Nês, presidente da Chapecoense] me ligou, perguntou se eu tinha o interesse, porque eu era uma das opções. Eu disse que sim e a partir daí a conversa foi evoluindo. O aspecto financeiro e outros aspectos profissionais foram pouco falados nestes primeiros contatos.
O fato de eu ter sido o escolhido me fez bem como ser humano e isso não tem preço. Representa a oportunidade de dar minha contribuição não somente no campo profissional, mas também no lado humano. O lado humano pesou muito na decisão.

Considera este o maior desafio da sua carreira?
Seria o principal desafio da carreira de qualquer técnico porque é uma situação atípica. Nenhum treinador do futebol brasileiro já passou por essa situação. Por mais que você tenha uma equipe que vai mudar radicalmente, o clube jamais vai trocar todos os jogadores de uma vez.

Qual é a maior dificuldade que você deve encontrar?
A maior dificuldade é o pouco tempo. Estamos tendo que acelerar, queimar etapas. O segundo aspecto é que a Chapecoense concorre com times que vão jogar a Libertadores, o Brasileiro, e têm um poderio financeiro maior.

Qual será a identidade desse novo time da Chapecoense?
Um time que tenha a capacidade de fazer com que a comunidade jogue junto com ele. A identidade da Chapecoense está muito nítida hoje. A Chapecoense tem uma identidade de ser uma equipe extremamente eficaz. Por isso, o time não pode de maneira alguma deixar que isso se perca.

Você está preocupado com uma possível pressão por resultados no início?
Como vou sofrer pressão por resultados se não temos nem time ainda? Ninguém aceita ou entra num trabalho achando que vai receber pressão. Nossa expectativa é fazer uma grande temporada.

Além de ser o treinador do time, como você pretende colaborar com a Chapecoense?
Sendo uma pessoa positiva. O dia a dia de um técnico de futebol não é feito somente dentro de campo. É importante que todos do departamento de futebol tenham a mesma língua, o mesmo raciocínio.

Como você vê o clima na cidade à espera desta reconstrução da equipe?
A comoção ainda é muito grande. A cidade inteira sabe que temos que trabalhar para sempre estar homenageando essas pessoas que não estão mais aqui. A melhor maneira de fazer qualquer homenagem é reconstruir o time rapidamente, para que a comunidade volte a sorrir.

Você planeja um trabalho psicológico com os atletas?
Acho muito importante. Se vamos ter maiores dificuldades ou menores, aí será um outro ponto que a gente não consegue prever. Mas é muito importante ter um profissional no clube que faça esse trabalho psicológico.

Acidente em voo da Chapecoense


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