Folha de S. Paulo


Entidade que dita regras do futebol diz que decisão pós-vídeo foi perfeita

Lukas Brud, secretário-geral do Ifab (International Football Association Board), órgão que regula as regras do futebol, disse à Folha que a experiência do uso de árbitro de vídeo na partida entre Atlético Nacional (COL) e Kashima Antlers (JAP), pela semifinal do Mundial de Clubes, foi boa, embora "a polêmica gerada deixe um gosto amargo".

Brud se refere à marcação de um pênalti para o Kashima. A falta só foi marcada após o árbitro rever o vídeo da jogada. Da infração à marcação, passaram-se dois minutos.

"Os árbitros tomaram uma decisão perfeita, 100% correta. O jogador [do Kashima] não participa do lance, a despeito de estar em posição de impedimento. Não houve erro. Mas as pessoas não sabem as regras do jogo, e por isso se cria essa polêmica", disse.

"Talvez a lei não esteja de acordo com a vontade das pessoas, mas essa é outra discussão. É fato que, de acordo com as leis de hoje, a decisão do árbitro foi a correta".

O secretário ainda afirmou que a decisão de que o uso da tecnologia seria on-line [ou seja, teria interferência direta nas decisões do juiz dentro de campo] foi tomada no Japão.

"Deixamos em aberto porque os árbitros tinham pouco treinamento em tecnologia de vídeo antes da competição. Eles chegaram ao Japão e foram treinados ao longo de cinco dias, e explicamos à Fifa que só deveria haver uso on-line caso os árbitros estivessem confortáveis. Eles sinalizaram positivamente, então autorizamos", detalhou.

ESTREIA POLÊMICA

Utilizado pela primeira vez numa competição oficial organizada pela Fifa no Mundial de Clubes, o recurso tecnológico criou discórdia em sua estreia oficial.

Aos 28 min do primeiro tempo, em uma disputa de bola na área, o atacante colombiano Orlando Berrío trombou com Nishi Daigo, que ficou caído no gramado. O juiz, o húngaro Viktor Kassai, deixou o jogo continuar, mas um minuto depois foi alertado pelo árbitro reserva sobre uma possível infração do jogador do Nacional.

Kassai então parou a partida para pedir o auxílio do vídeo para rever o lance. Na beira do gramado, o juiz reviu a jogada e acabou marcando, aos 30 minutos, pênalti para a equipe japonesa.

A polêmica cresceu porque no mesmo lance o jogador japonês que sofre a falta dentro da área estaria em posição de impedimento, o que invalidaria a jogada antes do choque que resultou no pênalti.

Torcedores do Atlético Nacional reclamam de impedimento no lance

"Isso já não é futebol", queixou-se o volante Mateus Uribe, do Atlético Nacional, que foi derrotado por 3 a 0 e está eliminado.

Já o atacante Mosquera minimizou a influência do lance no resultado. "Sabíamos, estávamos avisados que havia câmeras. Aconteceu a falta, o árbitro viu, foi pênalti".

A Fifa classificou como correta a decisão do árbitro. Em seu site oficial, a entidade diz que o jogador não estava impedido, e o chefe de arbitragem da Fifa, Massimo Busacca, ponderou o fato.

"Esta é a primeira vez que o árbitro de vídeo é usado em uma competição da Fifa, então isso é algo novo para todos, especialmente ver o árbitro assistir ao vídeo na área ao lado do campo".

Para Marcelo Rogério, árbitro da Federação Paulista de Futebol, o pênalti existiu.

"São dois jogadores em posição de impedimento, mas eles estavam passivamente impedidos, o que não caracteriza a posição ilegal. O sistema é bom, mas tem que ser melhorado. O lance deveria ser paralisado na hora. Imagina a confusão que daria se o adversário tivesse feito o gol num contra-ataque?", indagou.

Já Maria Elisa, ex-assistente, defende que o árbitro havia acertado, mas o vídeo o teria atrapalhado na sequência.

"O árbitro foi induzido ao erro por conta do equipamento eletrônico. Percebo que o jogador está em posição de impedimento. Seria pênalti, mas ele estava impedido".

A tecnologia continuará sendo usada nas partidas do Mundial da Fifa. Nesta quinta (15), Real Madrid e América (MEX) se enfrentam (Fox Sports e SporTV, 8h30), na outra semifinal do torneio.


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