Dez clubes montaram neste ano um organização nacional de polo aquático independente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), mas enfrentam dificuldade para liberação de benefícios a seus atletas por não terem aval da entidade.
A Liga PAB (Polo Aquático Brasil) foi registrada como entidade do desporto nacional na metade do ano, encabeçada por Flamengo, Fluminense, Pinheiros, Hebraica Paulistano, Paineiras e Sesi.
Sem o reconhecimento da confederação, os jogadores dos clubes não podem pleitear o Bolsa Atleta, concedido pelo Ministério do Esporte, cuja remuneração varia entre R$ 370 e R$ 3.100 em suas categorias, que vão da base ao teto destinado a atletas olímpicos e paraolímpicos.
Um dos pré-requisitos para a obtenção do benefício é "ter filiação à entidade de administração de sua modalidade, tanto em nível Estadual (federação) como nacional (confederação)". Clubes e cartolas da associação têm tentado reverter isso em negociação com a pasta.
"A questão do Bolsa Atleta é uma luta. Como a CBDA não chancela [a liga], lutamos para o ministério reconhecer a liga e, assim, os atletas receberem", disse o técnico do Sesi, André Avallone.
À Folha, o Ministério do Esporte afirmou que "recebeu o pleito da liga independente de polo aquático, e a proposta está em análise".
Os jogadores dos clubes que compõem a PAB formam a base das seleções brasileiras masculina e feminina.
A ideia de criá-la surgiu da insatisfação com a CBDA, que promovia um campeonato nacional desorganizado e sem dar voz às equipes.
"Pedimos pontos em reuniões com a confederação e nenhum foi cumprido", afirmou Eduardo Cunha, vice-presidente da nova liga.
"Diversas vezes tentamos contato com a CBDA e nunca tivemos sucesso. Queremos mais Estados e mais clubes no polo aquático, para desenvolvê-lo e dar mais qualidade ao país", complementou.
Felipe Santos da Costa e Silva, que disputou os Jogos do Rio, disse que a "CBDA nunca perguntou se estávamos [jogadores] felizes ou se queríamos mudar alguma coisa". Ele joga no Pinheiros.
Para constituir a PAB, os clubes se inspiraram no NBB, também administrado por uma associação independente da CBB (confederação brasileira), a Liga Nacional de Basquete –que, inclusive, deu consultoria para os dissidentes do polo aquático.
A primeira temporada da liga está em andamento, mas a ideia é fortalecê-la em 2017 nos torneios masculino e feminino, e lançar campeonatos de base. A grande queixa é que a CBDA promovia campeonatos que duravam 15 dias e envolviam poucos times.
A confederação continua a organizar um campeonato nacional, mas esvaziado. A última edição terminou com o Botafogo como campeão.
"É o primeiro ano da PAB, o primeiro passo, e os atletas têm que ter paciência", afirmou Rudá Franco, do Sesi.
A segunda temporada da liga independente deve ocorrer de setembro a dezembro de 2017, com formato de disputa em turno e returno.
No momento, a PAB não possui patrocinadores nem acerto para transmissão em televisão. São os clubes que têm de arcar com despesas.
Segundo Eduardo da Cunha, vice-presidente da PAB, a intenção é tê-los para 2017, assim como a cooptação do Botafogo, único grande do polo aquático nacional fora da liga. "Há um pacto entre os clubes e jogadores da PAB de não disputar jogos dos campeonatos promovidos pela CBDA", disse o dirigente.
'MOVIMENTO POLÍTICO'
Ricardo Cabral, consultor de polo aquático da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), afirmou que a entidade não tem "nada contra" a criação de uma nova liga nacional. Mas afirmou que questiona os objetivos dos dissidentes.
Cabral disse que a alegação dos clubes da PAB, de que o campeonato nacional organizado pela confederação era curto, não procede porque houve concentração de esforços para os Jogos do Rio.
"Pusemos todos os nossos melhores jogadores em clubes da Europa, e depois em 2016 retomaríamos a duração do campeonato. Mas aí virou um movimento político", afirmou.
Cabral reclamou que a intenção dos clubes dissidentes era criar uma ingerência dentro da CBDA.
"Nesses termos, nem a CBDA nem nenhuma confederação vai reconhecer ou chancelar", comentou.
Ele disse que a CBDA permitiu que atletas de categorias sub-17 e sub-19 formassem equipes avulsas para participar do campeonato nacional e, assim, pleitearem a Bolsa Atleta.
"Só não fizemos na categoria adulta, porque adulto tem capacidade de decidir", respondeu.
O Ministério Público Federal pediu, em setembro, afastamento da cúpula da CBDA, entre eles Cabral, por improbidade administrativa. A denúncia partiu de ex-jogador de polo.
Liminar acatou o pedido, mas ela foi derrubada depois por outro juiz.