Folha de S. Paulo


'Não é para você ir nesta viagem', pediu noiva a lateral sobrevivente

Guillermo Ossa/AP Photo
CORRECTS TO REMOVE DEATH TOLL OF 75 AFTER NUMBER OF DEATH TOLL WAS LOWERED BY COLOMBIAN OFFICIALS - Alan Ruschel, a defender for the Brazilian soccer team Chapecoense, is wheeled into a hospital in La Ceja, Colombia, Tuesday, Nov. 29, 2016. A chartered plane with the Brazilian first division soccer team crashed near Medellin while on its way to the finals of a regional tournament, Colombian officials said Tuesday. (AP Photo/Guillermo Ossa, El Tiempo) ORG XMIT: XRM118
O lateral Alan Ruschel é levado de maca em hospital em La Ceja, na Colômbia

Na última semana, enquanto se preparava para viajar à Colômbia para a final da Copa Sul-Americana pela Chapecoense, o passaporte do lateral Alan Ruschel, 27, desapareceu em sua casa.

"Um dia, vi o passaporte em cima da mesa. Dois dias depois, havia sumido", lembra Marina Storchi, 24, noiva de Ruschel. "Reviramos tudo. Procurei até no lixo. E nada do passaporte do guri."

Ele é um dos seis sobreviventes do acidente do voo que partiu da Bolívia e caiu na madrugada desta terça (29) na Colômbia. O goleiro Jackson Follmann, 24, o zagueiro Hélio Zampier Neto, 31, o jornalista Rafael Henzel, 43, e dois membros da tripulação, os bolivianos Ximena Suarez e Erwin Tumiri também foram resgatados dos destroços com vida.

Quinze dias antes, Marina havia cancelado de última hora uma viagem com sua mãe à Austrália, onde vive o irmão, por conta de uma espécie de pressentimento.

"Não sei o que me deu. Estava tudo comprado. Mas tive certeza de que não era para eu ir", conta a designer gaúcha, que contrariou os pais com a decisão inesperada.

"Marina é muito sensitiva. Se tivesse viajado com a mãe, estaria do outro lado do mundo agora", avalia sua prima Gabriela Storchi, 35.

Diante do sumiço do documento de Alan, Marina disse "'Fala que tu tá com alguma dor porque não é pra tu ir nesta viagem!'. Mas ele é comprometido demais."

Apesar do acordo que permite a entrada de brasileiros na Colômbia só com RG, o casal então foi a Caxias do Sul (RS) buscar documentos de Alan e depois a Porto Alegre, onde o jogador requereu inclusive um passaporte de emergência para acompanhar os colegas na viagem.

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Na tarde de segunda (28), após retirar no cartório a lista de documentos necessários para o casamento planejado para o início de 2017, Marina recebeu uma ligação de Alan. Era para avisar que já havia embarcado e que a avisaria da chegada a Medellín -que só aconteceu em uma maca das equipes de resgate.

O lateral foi o primeiro a ser levado ao hospital, por volta das 2h30 (5h30 em Brasília), com uma lesão na coluna. Consciente, mas confuso, pediu que guardassem sua aliança de noivado.

Marina viajaria de madrugada para Medellín junto com Simone, mulher do zagueiro Neto.

"Simone está muito abalada", disse Helan Zampier, 54, pai do atleta. "Falei ontem com meu filho, antes de ele entrar no avião. Estava muito feliz pelo time."

Neto chegou ao hospital por volta das 6h (9h em Brasília) com traumatismo craniano e múltiplas fraturas. Passou por cirurgias e, no último boletim, estava na UTI.

O goleiro Jackson Follmann teve a perna direita amputada. E o jornalista Rafael Henzel, que teve lesões na perna e traumatismo no tórax, está estável.

POR POUCO

Na primeira lista de passageiros do voo que foi divulgada, havia 81 nomes, mas quatro pessoas não haviam embarcado: Luciano Buligon, prefeito de Chapecó, Plinio de Nes Filho, presidente do Conselho Deliberativo do clube; Gelson Merisio (PSD), presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina e Ivan Agnoletto, coordenador da rádio Super Condá.

Agnoletto, 56, foi acordado na madrugada de terça (29) quando sua mulher começou a receber mensagens de pêsames. Mas ele não havia viajado. Desistiu no sábado (26), para atender ao desejo de Gelson Galiotto, 41, também narrador e chapecoense fanático, que sonhava em fazer essa cobertura.

"Fiquei por um detalhe", diz o deputado Merisio, que adiou a ida porque tinha um encontro, na segunda, com o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal.

Por ter esquecido o passaporte, Matheus Saroli, filho do técnico Caio Jr.,não embarcou no voo. Seu pai, sim.

Um jornalista do "Diário Catarinense", Darci Debona, 42, não se preparou para cobrir o jogo: "Não achei que a Chape fosse tão longe".

Seu passaporte estava vencido, para alívio de sua mulher, mãe dos gêmeos de quatro anos. O repórter André Podiacki, 26, foi no seu lugar.

Colaboraram JULIANA GRAGNANI, GUILHERME ZOCCHIO, THIAGO AMÂNCIO

Acidente em voo da Chapecoense


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