Folha de S. Paulo


Jornalista que desistiu de voar soube de tragédia após ligação de pêsames

Diretor esportivo da rádio Super Condá, Ivan Carlos Agnoletto, 56, foi acordado na madrugada desta terça (29) quando ligaram à sua mulher com mensagens de pêsames por sua morte. O motivo: seu nome está na lista de passageiros do avião da Chapecoense que caiu e deixou 71 mortos.

Mas ele não viajou. Desistiu no sábado (26), para atender ao um desejo de Gelson Galiotto, 41, também narrador da rádio catarinense e chapecoense fanático, que sonhava em fazer essa cobertura. "Meu Deus, que desespero. Cai o avião, morre gente e quem está lá? O Gelson, que foi no meu lugar. Que desespero", diz ele, ao lembra-se do colega com quem trabalhava há 15 anos na rádio.

Além de Galiotto, outros 19 jornalistas morreram na tragédia aérea na Colômbia.

Tragédia da Chapecoense
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Destroços de acidente na Colômbia

Agnoletto conta que, ainda no fim de semana, ouviu de colegas que o sonho de Galiotto seria transmitir a primeira partida da final da Copa Sul-Americana. "O Gelson daria a vida para narrar esse jogo", disseram, segundo o diretor da rádio. "Meus filhos ficaram falando 'pai, a gente não entende como é que você não foi foi", conta ele. "Hoje mandaram várias mensagens, já, pedindo desculpas por insistirem no assunto".

Entre as vítimas, há sete radialistas locais de Chapecó –só um deles sobreviveu. "Eles eram todos muito conhecidos aqui na cidade. São muitos anos de contato próximo com a população. Vamos ter que reconstruir não só o time, mas também todo o jornalismo esportivo aqui em Chapecó", diz Agnoletto.

Outras três pessoas da lista de passageiros também não embarcaram: Luciano Buligon –prefeito de Chapecó–, Plinio de Nes Filho –presidente do Conselho Deliberativo do clube–, e Gelson Merisio (PSD) –presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), que não pegou o voo porque tinha um compromisso.

Ele tinha um encontro nesta segunda (28) em Florianópolis, com o ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal). Com voz embargada, disse por telefone à Folha que está abalado. "Fiquei por um detalhe", diz.

Segundo o deputado, que mora e tem a maior parte dos eleitores em Chapecó, "a comoção na cidade é desproporcional". "É um sentimento muito triste."

Ao "Bom Dia Brasil", da Globo, o prefeito Buligon disse que ele e Plinio optaram por voar "à tarde, em voo regular, fazendo uma ponta em Bogotá".

Um jornalista do Diário Catarinense, Darci Debona, 42, não se preparou para cobrir o jogo: "No começo, não achava que a Chapecoense fosse tão longe". Quando ligaram do jornal para perguntar sobre seus documentos, viu que o passaporte estava vencido, para alívio de sua mulher, mãe de seus filhos gêmeos de quatro anos. O repórter André Podiacki, 26, foi no seu lugar.

Matheus Saroli, filho do técnico Caio Jr, do Chapecoense, só não estava no avião que caiu nesta terça-feira (29) porque esqueceu seu passaporte e não pôde embarcar no voo. Seu pai, sim.

A informação foi divulgada por Saroli em redes sociais e confirmada à Folha por Marcelo Lipatín, empresário do técnico. "Amigos, eu meu irmão e minha mãe estamos bem. [...] Eu estava em SP hoje e não embarquei pois tinha esquecido meu passaporte", escreveu Saroli.

Segundo Lipatín, Caio não queria a presença do filho a bordo porque o voo era "muito restrito", mas acabou autorizando sua presença. Então, Matheus viu que estava sem passaporte em São Paulo e foi para Curitiba.

O ACIDENTE

O avião, que levava a delegação da Chapecoense e jornalistas brasileiros, decolou de Santa Cruz de la Sierra (Bolívia) com 77 pessoas a bordo com destino a Medellín (Colômbia), onde o time disputaria nesta quarta (30) a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. O acidente ocorreu na cidade de La Unión, que fica nas proximidades de Medellín.

Pelo menos seis pessoas sobreviveram: os jogadores Alan Ruschel, Jackson Ragnar Follmann e Hélio Hermito Zampier Neto, o jornalista Rafael Henzel Valmorbida, e os integrantes da tripulação Ximena Suárez e Erwin Tumiri. Eles foram encaminhados para hospitais da região, alguns em estado grave.

Segundo agências de notícias, o goleiro Marcos Danilo Padilha foi resgatado vivo, mas morreu enquanto era atendido na San Vicente Fundación, em Medellín.

Acidente em voo da Chapecoense


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