Folha de S. Paulo


O que passa na cabeça de Rogério Ceni, o novo técnico do São Paulo

Rogério Ceni, 43, aposentou-se do futebol há quase um ano, com um jogo de despedida pelo São Paulo.

O clube e o maior ídolo, porém, jamais se separaram. Nesta quinta-feira (24), o ex-goleiro teve seu retorno confirmado, agora como novo treinador da equipe para as duas próximas temporadas.

Desde sua despedida, o ex-camisa 1 procurou se especializar e nunca escondeu o desejo de assumir o cargo de técnico da equipe tricolor, pela qual jogou por 25 anos.

Neste período, fez cursos de níveis um e dois promovidos pela FA (sigla em inglês para Federação Inglesa de Futebol) e também se encontrou com técnicos europeus, como o italiano Claudio Ranieri, do Leicester, e o alemão Jürgen Klopp, do Liverpool, além de estagiar com o argentino Jorge Sampaoli, do Sevilla, onde ficou uma semana.

Os dois cursos em Londres possibilitam apenas empregos em "clubes amadores locais, de juniores ou seniores", de acordo com a 1st4sport, empresa responsável pela capacitação.

Na cabeça de Ceni

Eles, porém, são considerados pré-requisitos para candidatos a técnicos se matricularem no da Uefa (União das Federações Europeias de Futebol), o mais conceituado da Europa, que permite dirigir equipes profissionais, grande objetivo de Ceni.

No Brasil, não é preciso ter um curso específico de técnico de futebol, de acordo com o sindicato dos treinadores do Estado de São Paulo. A partir de 2019, no entanto, será necessário que os profissionais realizem cursos para assumir a função.

Na primeira parte do ano e após o curso em Londres, realizado no segundo semestre, Ceni continuou acompanhando jogos do São Paulo. De acordo com pessoas próximas ao ex-goleiro, ele procurava ir disfarçado ao Morumbi para não ser reconhecido e evitava aglomerações –chegava com 15 minutos de jogo e saía 15 minutos antes do fim da partida.

Quando retornou da Inglaterra, no início de novembro, instalou-se por uma semana no Centro de Formação de Atletas de Cotia. Lá, observou equipes sub-15, sub-17 e sub-20 e trocou informações de metodologia de treinos usada por técnicos europeus.

No período na Europa, Ceni elogiou muito Klopp e Sampaoli, que têm preferências por armar times que jogam com muita intensidade, velocidade e ofensividade durante o tempo todo.

O argentino, inclusive, gosta de jogar com um goleiro adiantado, característica de Sidão, 33 —ex-Audax e atualmente no Botafogo—, que foi contratado nesta semana pelo São Paulo para 2017.

"Ele elogiou muito o trabalho do Klopp. Por isso, acredito que o Rogério vai implantar um jogo ofensivo, com o estilo da escola do São Paulo", disse André Jardine, técnico do sub-20 do clube.

APOIO

Ex-companheiros acreditam no sucesso de Rogério Ceni na nova carreira. Campeão mundial de clubes em 2005, o ex-atacante Amoroso afirmou que Ceni já exercia o cargo de treinador dentro de campo.

"Ele [Rogério Ceni] sempre foi um líder, tinha esse espirito. Até pela sua experiência, enxergava o jogo de uma forma diferente e já exercia a função de técnico dentro das quatro linhas", disse o ex-jogador de 42 anos.

Grafite, outro que fez parte do elenco campeão, disse acreditar que o novo treinador são-paulino terá um pouco de dificuldade no início porque a "transição de jogador para técnico não é fácil". "Precisa ter jogadores de qualidade porque a torcida exige um time forte e o clube vive um jejum de títulos."

A montagem de um elenco forte foi uma das exigências de Ceni. Segundo pessoas próximas ao ex-goleiro, ele pediu que o grupo de jogadores fosse reforçado para 2017. Sérgio Baresi, que foi treinador interino de Ceni em 2010, ressaltou a importância do ex-camisa 1 debutar na nova função em um clube que conhece bem e onde tem o respaldo da diretoria.

"O Rogério é um profundo conhecedor do São Paulo. Não só dentro de campo, mas também fora. Ele terá suporte dos mais próximos", comentou Baresi citando Marco Aurélio Cunha, diretor executivo, e Pintado, assistente.


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