Folha de S. Paulo


Acusado com Del Nero, ex-chefe do futebol peruano vive preso

Em dezembro do ano passado, o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Marco Polo Del Nero, e o peruano Manuel Burga, ex-chefe da federação local, foram denunciados pelo FBI por corrupção na venda de direitos de torneios de futebol na América do Sul.

Enquanto o brasileiro permanece no comando da CBF e nunca mais deixou o país temendo ser capturado pela Interpol, Burga amarga quase um ano confinado numa prisão e deve ser extraditado em breve para os EUA.

O peruano foi preso em cinco de dezembro de 2015, dois dias após o anúncio da denúncia do FBI que o acusa de lavagem de dinheiro, chantagem, suborno e fraude no comando da federação local.

Ele foi chefe da entidade por 12 anos e havia deixado o cargo no início de 2014.

Luka Gonzales - 04.dez.2015/AFP
O ex-chefe do futebol peruano, Manuel Burga, é transportado após ser preso em Lima, Peru
O ex-chefe do futebol peruano, Manuel Burga, é transportado após ser preso em Lima, Peru

Neste quase um ano de prisão, o cartola tentou, sem sucesso, pagar uma fiança milionária para se defender em liberdade. Além do processo na Justiça foi alvo de uma investigação do Congresso Peruano e da própria federação.

Desde a prisão, está na penitenciária de Ancón II, localizada no deserto de Sechura, na região nordeste do país, a 34 km de Lima.

Burga está numa ala de presos de baixa periculosidade e fica numa cela sozinho.

Segundo aliados do cartola, ele emagreceu neste período e não esconde o abatimento pela situação.

Parlamentares peruanos confirmaram a existência de "indícios razoáveis" de lavagem de dinheiro, de acordo com o informe divulgado em junho após uma investigação.

O presidente da comissão, o deputado Gustavo Rondón, afirma que o cartola transferiu dinheiro da entidade para favorecê-lo financeiramente. Para o deputado, a verba faria parte do suborno pago a Burga por empresários para obter os direitos da Copa América e da Libertadores.

Já o novo presidente da entidade, Edwin Oviedo, fez uma auditoria na federação logo após a denúncia do FBI.

O trabalho não encontrou nos cofres da federação o dinheiro pago pela Datisa, empresa acusada pelo FBI de corromper os cartolas do continente para comprar os direitos dos torneios. Os advogados de Burga negam que o ele tenha recebido suborno e que todas "as contribuições extras" foram registradas na contabilidade da entidade.

No Brasil, a situação é inversa. A CBF jamais abriu investigação para apurar a denúncia do FBI. Em Brasília, duas CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) foram abertas, mas nenhuma fez sequer uma sessão neste semestre e ainda não apresentaram um relatório final.

Desde maio de 2015, quando o ex-presidente da CBF José Maria Marin foi preso em Zurique, na Suíça, Del Nero evita deixar o Brasil. Não estará no Peru no jogo da seleção, às 0h15 da madrugada de quarta (16), pelas eliminatórias da Copa do Mundo.

EXTRADIÇÃO

Na semana passada, advogados de Burga entraram com um recurso no Tribunal Constitucional, mais alta corte da Justiça do Peru, alegando que os crimes apontados na denúncia do FBI não são tipificados pelas leis do país. O pedido é a última cartada do cartola para evitar a deportação aos EUA. Advogados do dirigente tiveram recurso negado com a mesma alegação em instâncias inferiores.

Neste mês, o Conselho de Ministros do Peru, subordinado ao presidente do país, deve apreciar o pedido de extradição que está parado há cerca de quatro meses.


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