Folha de S. Paulo


Daniel Alves critica gestão anterior da seleção e se compara a Picasso

Prestes a completar cem jogos pela seleção brasileira nesta quarta-feira (16), contra o Peru, o lateral-direito Daniel Alves comentou o marco em sua carreira. Além de comemorar o feito, ele analisou a má fase técnica pela qual o grupo passou nos últimos anos, criticando problemas de gestão, ainda que sem citar o técnico Dunga nominalmente.

"É uma alegria muito grande atingir essa marca. Às vezes não cai a ficha, por tantas coisas boas que vivi na seleção brasileira.", disse o lateral da Juventus."Desde os 15 anos, quando saí de casa, deixei meus pais, sabia que não voltaria diferente de um profissional que respeita sua profissão, que daria o seu melhor, especialmente no trabalho coletivo, que não depende só de dar o seu melhor, mas de conectar os diferentes jogadores, os diferentes mundos".

"[O momento ruim] foi resultado de coisas não tão boas que estavam fazendo, tanto no institucional como no campo. Acho que conseguimos melhorar porque conseguimos entender o que você precisa fazer para jogar bem. O pessoal de cima também entendeu, colocando gente inteligente, rodada, experiente, para administrar o time. O campo é apenas reflexo de tudo o que há em volta", completou.

Daniel elegeu as finais da Copa América de 2007 e da Copa das Confederações de 2009 como seus grandes momentos na seleção. Sobre o pior deles, ele fala da Copa América deste ano, quando o Brasil foi eliminado após derrota para o Peru.

"Nunca pensei em abandonar meu sonho nem a seleção brasileira. Simplesmente, quando a gente foi eliminado da Copa América, eu pensava que pior do que aquilo a gente não podia fazer. Ou conseguiríamos alguém com uma perspectiva grande, maior, de que a competição fosse melhor, ou [eu] ia esperar que viesse esse seguinte grupo, gestão, chame do que quiser", disse.

"Às vezes a gente é muito limitado. Por isso disse que queria mudança. Chegou um momento que achava que não teria liberdade para fazer com que a situação mudasse. A única forma era uma entrevista que dei dizendo que precisava mudar. As coisas mudaram, voltaram a acontecer para melhor. Estamos colhendo frutos, já que os jogadores continuam os mesmos. Mudou pouca coisa, e o que mudou era o necessário", completou, em clara referência a Dunga.

"Acredito que fiz grandes jogos pela seleção brasileira. Aprendi que constância é o que te mantém no alto. Sempre busco o 7. Se conseguir o 8 ou 9, muito bom. Minha ideia profissional é manter o equilíbrio para que a seleção cresça não só como time mas como instituição", disse Daniel.

NEYMAR NERVOSO

A entrevista adquiriu um clima tenso quando ele tentou defender Neymar, que chamou de "irmão menor". O lateral foi perguntado dos motivos que o atacante do Barcelona tem para não atender os jornalistas depois dos jogos há meses.

"O Ney [Neymar] tomou a decisão valente de dar a resposta onde tem que dar, dentro de campo. Disso, não se pode ter nenhuma dúvida. Prefiro que ele responda dentro de campo, e não fora. Respeito o trabalho de vocês, mas em momentos pontuais vocês transcendem o campo e geram essa sensibilidade no Ney. Vocês querem controlar a vida, falar como ele tem que desfrutar as férias dele", disse o jogador.

"Se vocês falassem apenas 'O Ney jogou mal, errou passe', ponto e acabou, não teria essa sensibilidade".

Contestado, Daniel Alves disse que não estava generalizando a imprensa.

"Quando eu falo 'vocês', não generalizo. Quem faz isso com o Ney, vai se ofender, quem não faz, não vai".

Por fim, quando já tratava de outro tema, deixou uma cutucada.

"Eu costumo dizer que sou um Picasso: se conseguirem me decifrar, vão gostar de mim. Se não, vão dizer 'não entendi, isso não vale o dinheiro'".

Com cem jogos (atualmente tem 68 vitórias, 18 empates e 13 derrotas), Daniel Alves se unirá a seleto clube composto por Cafu (149), Roberto Carlos (132), Rivellino (120), Pelé e Djalma Santos (113), Taffarel (108), Lúcio (107), Leão e Ronaldo (105), Gylmar (102), Jairzinho e Ronaldinho Gaúcho (101).


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