Folha de S. Paulo


Braço direito de Tite, Cléber Xavier é elo entre treinador e atletas da seleção

Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação
Cleber Xavier durante treino da selecao brasileira no Rio Foto: Divulgacao/Lucas Figueiredo/CBF ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Cléber Xavier, auxiliar técnico de Tite desde 2001, durante treino da seleção brasileira no Rio

Obsessivo em seus estudos sobre princípios estratégicos do futebol, Tite algumas vezes já foi flagrado longe do chão, em elucubrações táticas. Usa muitas vezes um palavreado que já ganhou até apelido: "o titês". Cabe a Cléber Xavier, seu assistente técnico, transformar essas ideias e discurso em algo mais terreno, como se puxasse a linha de uma pipa.

"Sou muito prático, e o Tite é muito de ideias. Eu ajudo a pensar em treinos, converso com os jogadores, coloco muitas das ideias em prática", diz o auxiliar, que trabalha há 15 anos com o técnico.

"O Tite não é centralizador, então sou como um segundo treinador, com os mesmos poderes, ainda que a palavra final seja dele", completa o número dois da seleção brasileira, e um dos responsáveis por transformar a "titebilidade" em algo real.

Se na quinta-feira (10), em Belo Horizonte, ele enfrentará a Argentina na partida mais ansiada da carreira da dupla, no passado já teve de cumprir funções ingratas para Tite, ao lado de quem está desde 2001, no Grêmio.

Naquele ano, antes de enfrentar o Corinthians na final da Copa do Brasil, Xavier foi ao Parque São Jorge "espionar" um treino comandado por Vanderlei Luxemburgo. O então treinador corintiano foi avisado por um repórter gaúcho, torcedor do Inter, segundo Xavier disse na época.

Luxemburgo, então, esbravejou, disse que aquilo era uma "sacanagem" e pediu para que os seguranças expulsassem do Parque São Jorge aquele que seria chamado de "James Bond" por parte da imprensa -Xavier estava vestido de preto e com óculos escuros. Na festa do título, três dias depois, gremistas cantaram "espião" em coro, celebrando o assistente.

Na mesma época, Xavier ocupou o cargo de "DJ de Tite". Era encarregado de aumentar e diminuir o volume do som em determinados momentos da música "Moleque Atrevido", interpretada por Jorge Aragão, nas palestras motivacionais do treinador.

Segundo o assistente, atualmente eles fazem um trabalho mais pragmático, racional, tendo deixado de lado as músicas. A "espionagem" agora está a cargo de outros assistentes.

"Hoje gastamos entre 15 e 20 minutos com a palestra e fechamos com a motivação, sendo que antes chegava até a 30 minutos. Fomos evoluindo, fazendo uma série de acertos, trabalhando mais em cima da metodologia e da estratégia", diz Xavier, que se impressionou com o alto nível do diálogo com os jogadores da seleção.

"É diferente de quando você está em um clube, porque você tem somente a nata. Ou seja, jogadores que trabalham com os melhores treinadores e têm leitura de jogo muito evoluída."

Em entrevista à Folha, Tite disse que instruiu a comissão técnica a passar orientações de "nível altíssimo", senão passariam "vergonha". O meia Giuliano, do Zenit, confirma a influência de Xavier sobre Tite.

"É o braço direito dele, é quem passa as orientações, tem um diálogo muito aberto com os jogadores e tem a confiança do grupo. A parte teórica mudou, pois eles estão mais experientes e vitoriosos. A parte motivacional aparece menos, mas continua, e é importante. Ela acende o pavio dos jogadores", diz o jogador, que trabalhou com ambos no Internacional e os reencontrou na seleção.

Mesmo com a "nata" ao seu lado, Xavier está preocupado, pois acredita que terá de enfrentar um "quase Pelé". Por isso, ele e Tite tentam esquadrinhar Messi.

"Estamos analisando a movimentação, de onde chega a bola para ele, a primeira opção de passe, a segunda opção. Estamos estudando como faremos a marcação: individual, dobrada... Depois do Pelé, para mim, Messi é o melhor do mundo. Vi Maradona, Cruyff... Mas ele é um fenômeno", diz.

Cléber lista algumas estratégias para tentar parar um jogador que se caracteriza por criar o improvável.

Segundo ele, o ponto de partida é o 4-1-4-1, assinatura tática de Tite há alguns anos. Contudo, há diferentes "planos B" guardados na manga para o desenrolar da partida. Um é a possibilidade de recuar um jogador da segunda linha de quatro, formando então um 4-2-3-1.

"É uma hipótese, sim. Ao invés de deixarmos um à frente da defesa e dois à frente dele, podemos inverter, dois [recuados] com um [à frente]". A decisão ganhou mais importância desde sexta (4), quando foi confirmado o corte do volante titular Casemiro por lesão.

Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação
Cleber Xavier orienta Renato Augusto em treino da selecao brasileira no Rio Foto: Divulgacao/Lucas Figueiredo/CBF ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Cléber Xavier orienta Renato Augusto, com quem trabalhou no Corinthians, em treino da seleção

RÓTULOS

O número 2 de Tite rejeita a ideia de que a filosofia tática da dupla evoluiu de um estilo mais José Mourinho, de priorizar a defesa, para um modelo Pep Guardiola, mais plástico e ousado.

"As pessoas colocam rótulos... Nossos primeiros títulos [Gaúcho e Copa do Brasil, em 2001] foram com um dos times mais ofensivos do Grêmio, um 3-6-1 com transição rápida. Treinamos times em situações complicadas, tirando da zona de rebaixamento, como Atlético-MG e Palmeiras. Nesses casos, tínhamos primeiro de defender, roubar, ter a posse, e depois atacar. Equilíbrio é a prova do trabalho", afirma o auxiliar, exaltando o italiano
Carlo Ancelotti, de quem Tite também se declara admirador.

Quando Flavio Murtosa era assistente de Felipão na seleção brasileira, o jornalista José Trajano, ex-ESPN, costumava brincar dizendo que ele tinha o melhor trabalho do mundo: ganhava bem, pouco aparecia e, nas derrotas, o xingado era o treinador. Xavier ri da frase.

"Lutei para chegar aqui, ser um treinador de futebol, conquistei títulos. Sou alegre, para frente, positivo. Terei a oportunidade de participar de um clássico contra a Argentina, trabalho de perto com os melhores do mundo. Eu gosto do meu trabalho."

Daniel Augusto Jr./Fotoarena/Folhapress
ORG XMIT: (9904) Treino do Corinthians Cleber Xavier, auxiliar, e Tite durante o treino realizado esta tarde no CT Joaquim Grava, localizado no Parque Ecologico do Tiete. O proximo jogo da equipe sera quarta-feira, dia 07/06, contra o Figueirense/SC, no Estadio do Pacaembu, valido pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro 2012. Sao Paulo / SP - Brasil - 31/05/2012 Foto: © Daniel Augusto Jr. / Fotoarena *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Cléber Xavier e Tite conversam em um treino do Corinthians no CT do clube alvinegro, em 2012

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