Folha de S. Paulo


Polícia Civil do Rio investiga suspeita de fraude na CBF

A Polícia Civil do Rio abriu inquérito nesta segunda (31) para investigar o Departamento de Registro e Transferência da CBF. A Delegacia de Defraudações suspeita que o órgão da confederação frauda o BID (Boletim Informativo Diário) para favorecer clubes ligados a cartolas da própria entidade e empresários.

O documento é uma espécie de Diário Oficial do Futebol.

O delegado Ricardo Barbosa informou que o diretor da CBF, Reynaldo Buzzoni, responsável pelo setor, será chamado para depor. Ele já esteve na delegacia no mês passado e não conseguiu esclarecer as dúvidas do delegado. Por isso, Barbosa decidiu abrir o inquérito, que terá 30 dias para ser concluído.

O vice-presidente da CBF, Gustavo Feijó, e o presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, também deverão ser ouvidos no inquérito. Os dirigentes da CBF são investigados por falsidade ideológica, associação criminosa, além de tráfico de influência.

Daniel Marenco - 29.fev.2012/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 29-02-2012: Gustavo Feijó (à direita), presidente da Federação Alagoana de Futebol, chega para assembleia na sede da CBF, no Rio de Janeiro (RJ), com o presidente da entidade, Ricardo Teixeira. Teixeira se reuniu com presidentes das federações estaduais em meio a especulações sobre sua renúncia ou afastamento do cargo. (Foto: Daniel Marenco/Folhapress)
Gustavo Feijó (à direita), presidente da Federação Alagoana de Futebol, chega para assembleia na sede da CBF, no Rio

A transferência do meia Bismarck, ex-ABC, para o futebol da Arábia Saudita em janeiro deste ano é um dos casos suspeitos pela polícia de fraude no BID.

Patrocinado pela Prefeitura de Boca da Mata, comandada por Feijó, o Santa Rita é investigado por ter servido de ponte para a saída do atleta do país. O jogador nunca defendeu o clube, que é apontado no BID, como o repassador do atleta para o exterior.

A polícia suspeita que os dirigentes do clube, que tem como presidente o irmão do vice da CBF, tenham pressionado a CBF para fraudar os documentos.

De acordo com o inquérito, Bismarck tinha contrato com o Palmácia, do Ceará, até 2018, mas conseguiu na Justiça de Alagoas o direito de deixar o clube.

Menos de uma semana depois, no dia 14 de janeiro, a CBF registrou a rescisão de contrato do jogador com o Palmácia.

No dia 16, um sábado, quando não há expediente na CBF, a confederação autorizou a transferência do atleta do Santa Rita para o Najran, clube da Arábia Saudita, segundo documentos.

Rafael Ribeiro/CBF
Diretor de Registro e Transferência da CBF, Reynaldo Buzzoni (à direita), em palestra na entidade
Diretor de Registro e Transferência da CBF, Reynaldo Buzzoni (à direita), em palestra na entidade

No dia 18, a CBF publicou no BID o contrato do atleta com o Santa Rita.

"Isso ninguém consegue me explicar. Como a CBF autoriza emprestar um atleta que ainda não pertencia ao clube", disse Flávio Guilherme, representante do Palmácia.

O clube cearense disputou neste ano a terceira divisão do Estadual.

Pelo negócio, o Santa Rita recebeu cerca de US$ 120 mil ( quase R$ 400 mil).

"A investigação nos indica que não existe clareza nas regras de transferência da CBF", afirma o delegado.

Em 2014, Petros, do Corinthians, protagonizou uma polêmica semelhante. Na época, o contrato de empréstimo foi rescindido em 1º de agosto, uma sexta-feira. Um novo acordo em definitivo foi redigido com data de 2 de agosto, sábado, quando não há expediente na CBF e o registro não poderia ser feito.

Assim, teoricamente, o atleta não poderia jogar contra o Coritiba, na rodada do final de semana.

Depois da partida, o clube paranaense entrou no STJD (Superior Tribunal de Justiça desportiva) pedindo os pontos do jogo, mas acabou não ganhando.

A CBF e a Federação Paulista de Futebol admitiram a falha, o que não acontece agora, e foram multadas, salvando o Corinthians.

Além do caso de Bismarck, outras duas transações registradas no BID suspeitas de fraude são investigadas pela Polícia Civil.

OUTRO LADO

A CBF negou que tenha fraudado o BID. Em nota, a entidade afirma que "tão somente cumpriu uma ordem judicial e realizou a inscrição conforme determinado pela Justiça".

"Não há qualquer preocupação da entidade em relação aos procedimentos adotados, que seguiram os regulamentos e as normas internas", afirmou a CBF no comunicado.

"A Diretoria de Registro e Transferência já prestou informações e está colaborando para que o caso seja integralmente esclarecido", acrescentou.

Gustavo Feijó, vice-presidente da CBF, disse que "jamais" fez tráfico de influência para ajudar o clube da sua cidade. No mês passado, o dirigente foi reeleito prefeito de Boca da Mata.


Endereço da página: