Folha de S. Paulo


Doença força Ana Marcela Cunha a fazer cirurgia e remover baço

A baiana Ana Marcela Cunha, 24, eleita três vezes a melhor maratonista aquática do mundo, fará uma pausa forçada nos treinos e competições neste final de 2016.

A nadadora descobriu no início deste ano doença autoimune que destrói a produção de plaquetas sanguíneas e, para preservar sua saúde e manter-se competitiva em nível mundial, se submeterá a cirurgia nos próximos dias –provavelmente sábado (22).

Ana Marcela vai retirar o baço, em procedimento chamado esplenectomia, em um hospital de São Paulo. A opção pelo procedimento foi tomada após consenso entre médicos de seu estafe e outros especialistas consultados.

A intervenção deve deixá-la fora de atividades de alto rendimento por até 45 dias. Ela poderá fazer treinamentos leves, então, mas competições em mar aberto só serão permitidas no próximo ano.

A retirada do órgão é encarada como melhor opção para evitar que ela tenha complicações futuras e que precise de um tratamento contínuo com medicamentos. A equipe de Ana Marcela descobriu a doença depois de uma prova em Salvador, no primeiro semestre.

Ela sentiu-se mal e um exame revelou que tinha apenas 110 mil plaquetas no sangue –o normal era uma concentração acima de 200 mil.

RIO-2016

Em abril, com os Jogos Olímpicos no horizonte, ela passou a consumir diariamente medicamento à base de corticoide (deflazacort), com autorização da Wada (Agência Mundial Antidoping), para controlar a baixa produção de plaquetas.

Ela ainda adicionou à equipe uma hematologista, Audrey Zeinad, para ajudar no acompanhamento. A ideia era interferir o mínimo possível na preparação aos Jogos. Ana Marcela, que conquistou cinco medalhas em provas de maratona aquática nos Campeonatos Mundiais de 2013 e 2015, era tida como favorita ao ouro na Olimpíada.

O pódio não veio. A baiana terminou em décimo lugar e chorou com a má colocação –disse que ter perdido uma nutrição em uma passagem a prejudicou. Ela teve pouco tempo para digerir a desilusão na Praia de Copacabana.

ENCRUZILHADA

Poucos dias depois, a baiana se submeteu a dois exames dolorosos –biopsia de medula e mielograma– para saber se a baixa nas plaquetas se devia a câncer, leucemia ou doenças como Aids ou sífilis. Em setembro, passou por nova bateria de análises.

Em um dia, chegou a tirar 30 frascos de sangue e fazer tomografia. Os resultados afastaram tais possibilidades –mas até hoje não se sabe o que provocou-lhe a doença.

Diante das constatações, os médicos lhe puseram em uma encruzilhada: se continuasse como estava, teria de prosseguir consumindo doses de corticoide diariamente. No longo prazo, isso poderia desenvolver risco à saúde.

Apresentaram à nadadora e à família a opção de retirar o baço, o que manteria em um nível saudável sua concentração de plaquetas. O opção pelo procedimento foi aceita. Ana Marcela ainda foi liberada para disputar duas provas da Copa do Mundo de maratona aquática na China, no início deste mês, antes de passar pela cirurgia.

Na primeira prova, no dia 8, terminou na sexta posição. Na segunda, em quarto. "A decisão é para garantir, mais do que a carreira da atleta, a qualidade de vida da Ana como ser humano. Se ela continuar a tomar corticoide, quem garante que em quatro anos ela estaria em condições de ir a [Olimpíada de] Tóquio, em 2020?", disse o pai dela, George Cunha, à Folha.

Ele afirma que nem Ana Marcela nem a equipe acreditam que a doença afetou sua participação nos Jogos Olímpicos do Rio. "Em curto prazo, o corticoide prejudica, porque a dosagem que ela toma é baixa. Mas, no longo, poderia sim se tornar um problema", complementou ele.

George Cunha disse que, em princípio, a filha não terá de tomar remédios para repor as funções do baço. "O mais importante é ela conseguir viver bem", disse.

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O BAÇO

Órgão esponjoso de forma oval, fica na parte superior esquerda do abdômen, abaixo da caixa torácica

O que faz?
Exerce função imunológica e hematológica: armazena células de defesa do corpo e, em outra parte, destrói hemácias defeituosas ou idosas

Como é possível viver sem ele?
Ao removê-lo, o corpo perde capacidade de criar anticorpos e a possibilidade de combater infecções cai. Porém, tais deficiências podem ser combatidas com vacinas e antibióticos

Como é feita a cirurgia para removê-lo?
No caso de Ana Marcela, a cirurgia não será incisiva. Serão feitos pequenos furos no abdômen pelos quais passarão tubos e instrumentos que auxiliarão na retirada do órgão, por meio de um recipente

Fontes: Site Drauzio Varella, Manual Merck


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