Folha de S. Paulo


Após quase falir, Chapecoense zerou dívida e está viva na Sul-Americana

Nelson Almeida/AFP
Supporters of Brazil's Chapecoense celebrate after defeating Argentina's Independiente in a penalty shoot-out during their Sudamericana Cup match at the Arena Conda stadium, in Chapeco, Brazil, on September 28, 2016. / AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA ORG XMIT: SAO025
Torcedor da Chapecoense comemora vitória nas oitavas de final da Sul-americana

De quase falida em 2005 a surpresa da Copa Sul-Americana, a Chapecoense se reinventou, quase teve que mudar de nome e com um plano de ajuste de contas chegou à elite do futebol brasileiro.

Desde 2014 na Série A do torneio nacional, o time já conseguiu igualar a sua melhor campanha em uma competição internacional. Em 2015, foi eliminado pelo River Plate nas quartas da Sul-Americana.

O passado recente do clube de Chapecó, porém, não foi tão animador quanto o presente. Em 2005, por muito pouco não teve a razão social modificada para não decretar falência devido a uma dívida. Em 2008, não estava em nenhuma divisão do futebol nacional.

Diante do cenário desolador, um grupo de empresários da região se uniu para quitar a dívida de R$ 1,5 milhão de gestões passadas.

"Do valor arrecadado, 70% era investido no futebol, enquanto 30% era destinado para pagar as dívidas, que terminaram por completo em 2013", afirma Sandro Parollo, presidente da Chapecoense.

A medida surtiu efeito. Em 2009, o clube participou da Série D do Brasileiro e no mesmo ano garantiu acesso para a terceira divisão. Em 2012 e 2013, conquistou dois acessos consecutivos e chegou à elite do futebol brasileiro.

Na diretoria desde 2008 e presidente desde 2010, Parollo diz que o sucesso se deve ao modelo de gestão implementada.

"O processo começou em 2009, quando estávamos na Série D do Campeonato Brasileiro. A Chapecoense não é um clube empresa, mas administramos como uma empresa. Gastamos somente o que arrecadamos", diz.

Em um estudo divulgado pelo banco Itaú BBA em junho deste ano, o clube era o menos endividado entre os 20 times da Série A de 2015 do Brasileiro. Entre dívidas bancárias, operacionais e fiscal, o valor era de R$ 5 milhões. Segundo colocado no Nacional, o Flamengo lidera o ranking negativo, com R$ 546 milhões a pagar.

Com a cota de TV de R$ 28 milhões, modesta se comparada aos R$ 170 milhões do Corinthians, o time de Santa Catarina mantém a cautela e não faz grandes loucuras em contratações.

"Vamos atrás de atletas que estão esquecidos em seus clubes. Temos dois analistas de desempenho que ajudam na contratação. Não podemos errar porque não podemos deixar o clube com dívidas", diz o presidente.

Cléber Santana, 35, é o maior exemplo do que o dirigente diz fazer. Ex-São Paulo e Flamengo, o meia teve uma passagem conturbada pelo Criciúma e chegou em Chapecó no ano passado.

O jogador recebe um dos maiores salários da equipe, que tem um teto de R$ 90 mil e uma folha de pagamentos de R$ 2 milhões.

Para fechar as contas do mês, o clube conta ainda com R$ 4 milhões anuais de patrocínio da Caixa Econômica Federal para estampar a marca na camisa. O Palmeiras, por exemplo, recebe cerca de R$ 66 milhões em acordo firmado com a Crefisa.

Nelson Almeida/AFP
Players of Brazil's Chapecoense celebrate after defeating Argentina's Independiente in a penalty shoot-out during their Sudamericana Cup match at the Arena Conda stadium, in Chapeco, Brazil, on September 28, 2016. / AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA ORG XMIT: SAO016
Jogadores da Chapecoense comemoram classificação para as quartas da Sul-americana

CENÁRIO INTERNACIONAL

Para chegar às quartas da Sul-Americana, a equipe desbancou o maior campeão da Libertadores, o Independiente, da Argentina, que já levantou a taça sete vezes.

Diferentemente do rival das oitavas, a Chapecoense, fundada em 1973, nunca conseguiu títulos expressivos nem revelou grandes jogadores. O máximo que alcançou foram cinco títulos do Campeonato Catarinense.

"No futuro, queremos ganhar a Sul-Americana para beliscar uma vaga na Libertadores. É o caminho mais curto. Pelo G4 do Brasileiro fica muito difícil porque os clubes possuem um investimento maior", analisou Sandro Parollo, que ficou surpreendido com a rápida ascensão da agremiação.


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