Folha de S. Paulo


Sem técnico, time inglês usa votação na internet para definir escalação

Andrew Testa/The New York Times
Players with United London FC Ñ a team competing in the 12th tier of EnglandÕs soccer pyramid Ñ rest during halftime of a match in London, Sept. 17, 2016. To drum up interest, United London have built a unique, managerless structure - its lineup is set each week by fans who compete to score points based on whether their selections play, and how well. (Andrew Testa/The New York Times) ORG XMIT: XNYT123 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Jogadores amadores London United descansam durante intervalo de partida pela Essex Alliance Premier League

À primeira vista, as laterais do campo em uma partida do United London FC revelam exatamente o que se poderia esperar de um jogo de futebol amador disputado em um campo que o time da casa aluga na capital londrina: garrafas de água. Uma coleção de bolas. Reservas se aquecendo.

Uma torcida que Mark North, o presidente do clube, descreve como "um homem e seu cachorro". Mas o que está faltando é mais importante: um treinador.

No United London, o cargo de técnico é desnecessário. Em vez disso, os torcedores é que escalam o time.

Formado este ano e jogando a Essex Alliance Premier League -equivalente à 12ª divisão da Inglaterra-, o United London se descreve como o primeiro time de futebol sem treinador no planeta.

Em lugar de um técnico tradicional, o time combina elementos dos reality shows decididos por voto popular na televisão e sistemas de análise estatística de jogadores.

O sistema empregado se assemelha ao dos jogos de fantasy football, que conferem ou deduzem pontos aos torcedores com base no desempenho real dos 11 titulares que escalaram.

"Fora das grandes ligas não há muitos espectadores", disse North, 38. "Por isso queremos ser diferentes, construir uma base de torcedores on-line em vez de físicos."

Até o momento, mais de 2.000 pessoas se cadastraram para participar do sistema criado pelo clube, que disputou sua primeira partida oficial no começo de setembro. Ele conta com torcedores virtuais na Austrália, Argentina, Brasil, Canadá, Suécia e EUA.

A cada semana, esses torcedores votam para escolher os titulares do United London, revisando as estatísticas dos atletas, os relatórios dos observadores e vídeos das partidas da semana anterior que o clube posta na internet. Quando a votação se encerra, na sexta, o time para o jogo do sábado é anunciado.

"Acho divertido, porque mantém os torcedores envolvidos", disse John Frusciante, 19, de Nova Jersey (EUA), que se inscreveu recentemente. "Os torcedores têm mais influência do que, digamos, no Real Madrid. Zidane não vai perguntar a você se Cristiano Ronaldo deve começar jogando ou não."

North disse que a ideia que resultou no time lhe ocorreu no ano passado quando ele e a mulher estavam assistindo à TV numa noite de sábado.

Cansado de concursos televisivos de dança e canto, North, que na época trabalhavam em recrutamento para o setor financeiro, começou a pensar em maneiras de aplicar o modelo de votação dos reality shows ao futebol.

Enquanto pesquisava sobre como encontrar jogadores para um time começando pelo degrau mais baixo do futebol, North percebeu que poderia aproveitar os muitos atletas juvenis que os times de futebol profissional da Inglaterra liberam sem contrato a cada temporada.

Em um cenário de alta competitividade, muitos jogadores abandonam seus sonhos de fazer carreira no futebol com apenas 18 anos. O time se tornou uma segunda chance para jogadores como esses -o escudo do time traz a ilustração de uma fênix.

O clube já criou uma equipe diversificada de jogadores que estão recebendo sua segunda, terceira ou até mesmo quarta chance, entre os quais um jogador da seleção juvenil turca, um que, segundo o clube, foi o quarto futebolista mais veloz do Reino Unido, e o sobrinho de um ex-atacante da seleção inglesa.

"No momento, não penso muito no assunto", disse Georges Kekota, 26, sobre o poder dos torcedores do time.

"Se você está jogando, sabe que é porque as pessoas gostam de você, da maneira pela qual joga e do que você contribui para o time."

Por enquanto, os torcedores só influenciam na escalação inicial. Com a melhora na tecnologia, diz North, o clube pode vir a permitir que eles decidam sobre substituições e outros assuntos. Hoje, essas decisões, e os treinos, são feitos por funcionários.

North não quis revelar quantos dos inscritos são usuários ativos. O motivo, disse, é que conhecer os números permitiria que ele manipulasse a votação em favor dos jogadores que prefere.

No entanto, North brincou que os resultados mostram que ele não é a melhor pessoa para tomar as decisões.

Na semana passada, "eu fiquei em sétimo lugar. O líder foi um cara da Suécia. E eu deveria conhecer todos os jogadores muito bem!"

Tradução de PAULO MIGLIACCI.


Endereço da página: