Folha de S. Paulo


Campeão nos EUA, Felipe Meligeni emplacou após conselho do tio

A conversa em março deste ano, em meio à disputa de um torneio em Porto Alegre, foi cordial como não poderia deixar de ser entre dois familiares, mas direta ao ponto.

O tio famoso, que em sua carreira chegou a figurar entre os 25 primeiros do ranking mundial, foi taxativo.

"Essa conduta não vai te ajudar em nada", resumiu.

A reprimenda leve fazia alusão ao comportamento do sobrinho em quadra. A cada golpe desperdiçado, uma reação emburrada. A cada derrota, expressão de choro.

Felipe Meligeni não sabia à época, mas o "pito" que recebeu provou-se decisivo para suas pretensões no tênis.

Em primeiro lugar, porque vinha de Fernando, 45, um dos principais tenistas da história do Brasil, e seu tio. Em segundo, porque seis meses depois ele tornou-se o quinto brasileiro a conquistar um título juvenil de Grand Slam.

Ao lado do boliviano Juan Carlos Aguillar, ergueu o troféu de duplas da categoria no Aberto dos EUA, no sábado (10), em Nova York –após vitória por 2 sets a 0 sobre os canadenses Felix Aliassime e Benjamin Sigouin.

A taça fez com que Felipe, 18, se unisse a Gustavo Kuerten (duplas em Roland Garros, em 1994), Thiago Fernandes (simples no Aberto da Austrália, em 2010) e Orlando Luz e Marcelo Zormann (duplas em Wimbledon, em 2014) como os vencedores juvenis do país em Slams.

"O título não era esperado", disse. Mais que isso, espantou-o a mudança a que se submeteu a partir da dica.

"Eu era muito chorão. Uma coisa horrível em quadra. Reclamava de tudo, e era preguiçoso para me movimentar. Quando meu tio me puxou e disse aquilo, caí na realidade", contou a promessa de 1,86 m e 75 kg, cujas feições são parecidas com as do conhecido parente.

"Falam que eu sou narigudo igual a ele", brincou.

Fernando, que foi ouro no Pan de Santo Domingo-2003, semifinalista em Roland Garros-1999 e teve três títulos da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) em 14 temporadas, disse não querer se intrometer na carreira do sobrinho. "Não quero ser o tio chato", disse o ex-jogador, irmão da mãe de Felipe, Paula.

Mas ele está à disposição para ajudar. "Só que o vi muito negativo naquela vez [em Porto Alegre] e falei para ele ser mais tranquilo."

Embora forjado em uma família de tenistas –sua irmã, Carol, é a 698ª do ranking feminino–, Felipe lembrou que a realidade não é mais suave.

"Meus pais estão ralando para fazer com que eu e minha irmã continuemos no tênis", comentou. Ele tem patrocínio dos Correios, de uma marca de material esportivo e da Prefeitura de São José dos Campos (SP), que defende.

Porém, acha que pode não ser o suficiente para a transição para o profissional, seu próximo passo a partir de agora –hoje, é o 31º em simples do ranking mundial juvenil. Ele quer terminar este ano entre os mil primeiros do ranking da ATP e entre os 500 em 2017.

O primeiro passo será jogar dois challengers nesta e na próxima semana, em Santos e em Campinas, para os quais foi convidado após o troféu nos EUA. "Não quero ser mais um a ficar pelo caminho."

RAIO-X

NASCIMENTO
19.fev.1998 (18 anos), em Campinas (SP)

RANKING
É o 31º do ranking mundial juvenil (simples)

PREMIAÇÃO
Faturou US$ 1.536 até agora, segundo a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais)

PRINCIPAL TÍTULO
Aberto dos Estados Unidos-2016 (duplas juvenil)


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