Folha de S. Paulo


Tite reorganiza comando da seleção brasileira para proteger Neymar

Pedro Martins/Mowa Press/Divulgação
Neymar durante treino da seleção brasileira em Manaus, local do jogo contra a Colômbia
Neymar durante treino da seleção brasileira em Manaus, local do jogo contra a Colômbia

Em campo, não há dúvidas nos últimos anos: Neymar é o melhor jogador da seleção brasileira e possivelmente é o único que já tem a garantia de que o nome estará na galeria histórica de craques nacionais. No entanto, desde que estreou pela seleção, em agosto de 2010, ele se envolveu em diferentes polêmicas, tanto dentro como fora do campo. E Tite bolou uma estratégia para proteger o jogador desses problemas.

Seguindo a filosofia de atentar às particularidades de cada atleta, o treinador e sua comissão incumbiram Neymar de uma missão específica: ser o líder técnico do time, deixando que jogadores mais experientes e com perfis diferentes, como o zagueiro Miranda e o meia Renato Augusto, conversem com a arbitragem, motivem o time e discutam com os adversários.

O sistema de distribuição de lideranças de Tite já é conhecido dos tempos de Corinthians. Na avaliação de sua equipe, ele reconhece diferentes tipos de ascendência de um atleta em relação aos outros. Na seleção, Miranda ganhou a faixa de capitão pelo "exemplo": "A gente traz em relação ao trabalho anterior de capitania, de jogadores respeitados, como exemplo. Miranda tem esse perfil, assim como uma série de jogadores", diz Tite. Desde os tempos do time paulista, Renato Augusto é o líder da comunicação, que organiza e motiva a equipe.

Essa divisão de responsabilidades evita a sobrecarga que vinha acontecendo com Neymar, como o treinador e o próprio jogador concordaram. Logo após a conquista da medalha de ouro na Rio-16, ainda no vestiário, o atacante abraçou o treinador e avisou que não gostaria de seguir com a braçadeira. Tite tranquilizou Neymar, explicou a função técnica que teria e pediu que "curta mais".

Isso significa não somente que ele é o melhor jogador do time, mas também que em momentos de apuros, ele deve aparecer constantemente como opção de desafogo. Na partida contra o Equador na quinta, enquanto persistia o empate em 0 a 0, isso ficou claro, sendo o principal responsável por puxar contra-ataques e construir jogadas.

Tite também projeta em Neymar a responsabilidade de receber os jovens olímpicos, como Gabriel Barbosa e Gabriel Jesus, na seleção principal. Em campo, em alguns momentos ele deve chamar a responsabilidade técnica para dar tranquilidade aos garotos. No vestiário, sua personalidade descontraída e a amizade que construiu com eles ao longo dos Jogos Olímpicos deve colaborar com o entrosamento dos jovens com os experientes.

Para saber mais sobre o jogador, Tite falou com Muricy Ramalho e Dorival Júnior, em conversas que reputou como algumas das mais interessantes que teve com treinadores brasileiros. Dos papos e da observação de jogos de Neymar no Barcelona saiu a ideia de utilizá-lo aberto pela esquerda no esquema 4-1-4-1, com eventuais trocas com Gabriel Jesus, que atua mais centralizado, a princípio.

Nesta terça (6), para o jogo contra a Colômbia, a tática deve ter papel importante. Rival que traz memórias terríveis para Neymar desde que teve uma vértebra fraturada após joelhada nas costas dada por Zuñiga na Copa-14 e consequentemente perdeu o resto da competição, a Colômbia incomoda o jogador. Na Copa América de 2015, foi expulso após dar cabeçada em adversário colombiano. Na Rio-2016, foi caçado em campo e revidou com falta dura, iniciando um tumulto.

Na Arena da Amazônia, atletas mais experientes como Renato Augusto, Miranda e Paulinho devem tomar a frente nas discussões, blindando Neymar das provocações em relação as quais a equipe já se prepara mentalmente.

RELAÇÃO ENTRE NEYMAR E OS TÉCNICOS DA SELEÇÃO

Mano Menezes 2010 a 2012

- Foi primeiro a convocar o jogador para a seleção brasileira, em 2010
- Deixou de chamar Neymar após a discussão do jogador com o técnico Dorival Júnior, do Santos, em 2010

Felipão 2013 a 2014
- Ambos viviam se elogiando e defendendo um ao outro de críticas
- Foi de Felipão que Neymar recebeu definitivamente a camisa 10 da seleção

Dunga - 2014 a 2016
- Em 2015, após derrota para a Colômbia na Copa América, deu cabeçada em rival, foi expulso e ficou suspenso por quatro jogos
- Jogando em posição diferente da que desempenha no Barcelona, teve atuações discretas
- Recebeu a faixa de capitão de Dunga, que depois de polêmicas ameaçou retirá-la
- Após eliminação da seleção da Copa América em 2016, disse que apareceriam "babacas" para "falar merda". Ele não fez parte do elenco e posteriormente pediu desculpas


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