Folha de S. Paulo


Análise

Quase campeão, Massa não quis fazer número na F-1

Felipe Massa sempre foi um piloto transparente.

Nunca fez questão de esconder suas emoções, fossem elas boas ou ruins. No final do ano passado, durante uma entrevista do dia a dia durante o GP do México, mencionou pela primeira vez que começava a pensar na aposentadoria.

E sempre disse que não ficaria na F-1 apenas para fazer número. Que se não fosse possível ter um carro competitivo nas mãos, preferia dizer: "fui".

O dia do "fui" dia chegou, neste primeiro dia de setembro. Chegou até antes do que muitos de nós imaginavam. Aos 35 anos, 14 deles como titular na F-1, Massa anunciou que não correrá mais na categoria no ano que vem.

Piloto que até hoje teve o maior contrato com a Ferrari (foram 12 anos entre piloto de testes e titular), o brasileiro ficou sem opções para 2017. Cumpriu sua palavra e anunciou seu adeus.

Muitos vão lembrar de sua passagem na F-1 pelo quase-título de 2008. Alí, por alguns metros naquele Interlagos lotado, sentiu o gosto de ser campeão do mundo a bordo de uma Ferrari.

Ele já comemorava a vitória e o campeonato até que, alguns segundos depois, na última curva, da última volta, do último GP daquela temporada, Lewis Hamilton, então na McLaren, ultrapassou Timo Glock e assegurou o ponto que lhe daria o primeiro de seus três títulos Mundiais.

Momentos de Massa na Williams

Outros lembrarão de Massa pelo que lhe aconteceria menos de um ano depois, durante o treino de classificação para o GP da Hungria. Uma mola que se soltou da Brawn de Rubens Barrichello acertou seu supercilio esquerdo, colocou o piloto em coma e o país em estado de alerta por quase uma semana.

Recuperado e sem sequelas, perdeu o final da temporada de 2009 mas voltou no início do ano seguinte para aquele que seria o maior desafio de sua carreira: dividir a garagem da Ferrari com Fernando Alonso. Nem a parceria com Michael Schumacher, em 2006, lhe traria tanta dor de cabeça como os anos ao lado do piloto espanhol.

Massa parecia estar fazendo novamente o que faz de melhor: com um carro bom nas mãos, se transforma num dos melhores pilotos do grid. Foi então que ouviu de seu engenheiro e amigo Rob Smedley a frase que virou meme e que resumirá sua carreira para alguns: "Fernando is faster than you".

A vitória no GP da Alemanha foi entregue ao companheiro de time e o brasileiro nunca mais teria a chance de comemorar um triunfo na F-1. A ida para a Williams, há três anos, deu vida nova ao piloto, que precisava de novos ares após tantas temporadas no ambiente nocivo da Ferrari. Mas já era tarde.

Seu momento já havia passado. Massa ainda teve alguns lampejos nestes últimos anos, como a pole na Áustria em 2014, mas nunca mais brilhou como em seus primeiros anos como ferrarista.

Quarto piloto brasileiro com mais vitórias na categoria (tem 11, empatado com Barrichello), dono de 41 pódios e 16 poles, chegará a 250 GPs em Abu Dhabi, palco de sua despedida, certamente emotiva, no fim do ano.

Menos por seu desempenho recente nas pistas e mais por seu jeito sincero, afável e de sorriso fácil, a F-1, cada vez mais pasteurizada e sem personalidade, irá sentir sua falta.

Felipe Massa anuncia aposentadoria


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