Folha de S. Paulo


Promotor prevê pena severa para envolvidos em máfia de resultados

Guilherme Seto/Folhapress
Anderson Silva Rodrigues
Organograma da operação Game Over apresentado pelo DHPP

Nesta quinta-feira (7), o promotor do Ministério Público de São Paulo, Paulo Castilho, declarou que acredita em penas de mais de dez anos de prisão para os envolvidos em esquema de manipulação de resultados de partidas de futebol, principalmente nas Séries A2 e A3 do Campeonato Paulista, e divisões inferiores do Norte e do Nordeste.

A operação, denominada "Game Over", aconteceu nas cidades de São José do Rio Preto, Bauru, Sorocaba e São Paulo, além de cidades do Estado do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte e do Ceará. Dos onze alvos de mandados de prisão, oito já foram cumpridos.

"A primeira medida será pedir a renovação da prisão temporária para que o Ministério Público possa apresentar a denúncia. Semana que vem o Ministério poderá apresentar a denúncia por formação de quadrilha e manipulação de resultados. As penas podem ultrapassar dez anos", disse.

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Castilho acrescentou que "apenas por manipulação de resultados, a pena é de seis anos."

O delegado Mário Sérgio de Oliveira Pinto, titular do caso, explicou como a investigação começou.

"Nasceu de uma informação da Áustria, de uma empresa contratada pela Fifa [Indexxdata] para analisar variações em bolsas de apostas e possíveis manipulações de resultados, referente a um jogo do Campeonato Paulista sub-20 do ano passado. Então a Fifa remeteu à CBF, que passou à Federação Paulista, que então informou o doutor Castilho. Então o Ministério Público abriu o inquérito no ano passado", explicou.

"A aposta esportiva no Brasil é proibida por lei. Em outros países, ela gera quantias exorbitantes. Através de um contato deles aqui, os asiáticos ofereciam valores entre US$ 20 e 30 mil para que os clubes perdessem, geralmente por resultados abertos, como 4 a 0", continuou. "A soma era paga tão logo acontecesse o apito final."

Segundo ele, o envolvimento de seis a oito clubes já está comprovado, mas segue em segredo de Justiça. Além disso, ele não acredita em punição criminal para os clubes, mas crê que punições desportivas acontecerão.
Em março, a Folha revelou que ao menos cinco clubes foram procurados para que aceitassem placares pré-definidos em troca de dinheiro.

A reportagem ouviu relatos de jogadores do Grêmio Barueri e de cartolas do América de São José do Rio Preto, do EC São José, de São José dos Campos, e do Grêmio Catanduvense, de Catanduva. A Assisense, de Assis (quarta divisão), também recebeu oferta similar em 2015.

Os cinco clubes receberam ofertas para que suas equipes perdessem jogos, o que favoreceria apostadores ao redor do mundo. Todos, contudo, negam ter aceitado o suborno.

Jogadores do Barueri relataram que a equipe recebeu proposta para perder para o Rio Preto por 4 a 0, pela terceira divisão de São Paulo.

De acordo com os atletas do Barueri, a oferta foi levada ao elenco pelo empresário Jaci Martinho de Oliveira, ex-gestor do clube, e por outras duas pessoas. O jogo estava 3 a 0 até os 37 minutos do segundo tempo, quando o atacante Gustavo, filho de Jaci, cometeu pênalti que resultou no quarto gol do rival.

Procurado, Jaci não quis comentar a acusação. Matheus Soares dos Reis, sócio dele na época, diz que, de fato, houve a proposta, mas nega que os jogadores tenham aceitado.

Já Gilmar de Souza, gestor do São José, afirmou ter recebido ligação de um número não identificado às vésperas do jogo contra o Atibaia, em 17 de fevereiro.

O América de Rio Preto, da quarta divisão, recebeu uma proposta para perder para o Vocem de Assis, em julho de 2015. Neste caso, o resultado proposto ao time não foi revelado. O time foi derrotado por 4 a 1.

Johnny Torres - 11.fev.2016/Diário da Região
SAO JOSE DO RIO PRETO, SP, 11.02.2016, BRASIL Jogo entre as equipes do Rio Preto x Gremio Barueri no no estadio Anisio Haddad, no encerramento da quarta rodada da Serie A3 do Campeonato Paulista, Foto: Johnny Torres / Diario da Regiao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Lance de Rio Preto (de branco) e Barueri, cujos atletas receberam oferta de suborno para perder

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