Folha de S. Paulo


Manias, broncas e inimigos; o que você precisa saber sobre Tite

Religioso, o novo técnico da seleção brasileira não comanda um treino nem entra a um jogo antes de fazer suas preces. No CT do Corinthians, mantém um altar fixo, como teve em todos os lugares onde trabalhou, e um móvel que carrega para todos os lugares.

Adenor Leonardo Bachi, o Tite, é mesmo um homem de crenças e manias.

Carrega um terço e distribui pulseirinhas abençoadas. Sua mulher, Rose, prepara sempre uma garrafinha com água benta, três gotinhas. Para dar sorte.

Não deixa o juiz apitar enquanto as velas do vestiário não estiverem acesas.

No caminho do jogo, faz ligações a família, sempre lembrando da mãe, dona Ivone, que mora em Caxias do Sul.

Antes de ser técnico da seleção brasileira, Tite passou quase 20 anos tentando vingar como jogador de futebol no interior do Rio Grande do Sul.

Jogou no Caxias, na Portuguesa e no Guarani. Meia armador e volante, teve que deixar os gramados depois de sete cirurgias no joelho, quando virou técnico. Seu primeiro título importante foi em 2001, quando conseguiu com o Grêmio o título da Copa do Brasil, em cima justamente do Corinthians, que seria sua maior vitrine de glórias no futuro.

Dorme e acorda pensando em futebol, sonha com 4-1-4-1, almoça pensando no 4-4-2. Só não fala do assunto quando é forçado pela família.

Acha Guardiola e Mourinho, estrelas, não são espelho. Com perfil mais reservado e discreto, inspira em Carlo Ancelotti e já aprendeu muito com Fabio Capello, especialmente com suas linhas de quatro.

Religioso, carrega manias, o amor pela família e um braço direito inseparável: Cleber Xavier.

Tite na seleção

INIMIZADES

Tite não chega a ser uma pessoa polêmica no futebol. Não costuma se envolver em conflitos. Mas guarda alguns episódios na sua pequena coleção.

Em 2010, rompeu sua amizade com Felipão. Os dois se conheceram ainda quando eram jogadores. Aliás, foi o Luiz Felipe quem o levou ao time profissional do Caxias e quem deu o apelido a Tite, numa confusão que nunca se desfez.

A família de Adenor diz que os laços se acabaram quando o Palmeiras de Felipão perdeu para o Fluminense no fim do Brasileiro daquele ano. O motivo: a certeza de que o então amigo entregou o jogo para prejudicar a possibilidade de o Corinthians de Tite ser campeão. Tite mesmo nunca disse isso, com essas palavras, mas confirma que a amizade se acabou em 2010, acabando com o imaginário daqueles que achavam que era tudo culpa do "Fala, muito", de 2011.

Ricardo Nogueira-01.mai.2011/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 01-05-2011, 16h00: CAMPEONATO PAULISTA 2011 - Palmeiras x Corinthians - Felipao (Palmeiras) aponta para Tite (Corinthians) durante partida realizada no estadio do Pacaembu, zona oeste da capital paulista. (Foto: Ricardo Nogueira/Folhapress)***exclusivo folha***
Scolari e Tite discutem durante o clássico, no Pacaembu, pela semifinal do Paulista

ARBITRAGEM

Mas se fosse para apontar os verdadeiros inimigos de Tite, certamente dois estariam nesta lista: os árbitros Carlos Amarilla e Heber Roberto Lopes.

O primeiro, paraguaio, foi o responsável pela eliminação do Corinthians em 2013 na Libertadores, contra o Boca Juniors, em partida marcada por diversos erros de arbitragem.

O segundo, brasileiro, por um segredo que ele não revela. Mas diz que não queria nunca mais trabalhar com ele na vida.

Guarda as duas lembranças como se tivessem acontecido ontem e, diz, não esquecerá e não perdoará.

Ricardo Nogueira/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 15-05-2013, 22H00, COPA LIBERTADORES 2013, ESPORTES, CORINTHIANS (BRA) X TBOCA (ARG): Carlos Amarilla durante partida disputada no estadio do Pacaembu, zona oeste da capital paulista. (Foto: Ricardo Nogueira/Folhapress) ***exclusivo Folha***
Carlos Amarilla durante jogo entre Corinthians e Boca Juniors em 2013

BRONCAS EM JOGADORES

As maiores broncas da vida de Tite em jogadores foram no Corinthians, nos anos de 2012 e 2013.

A primeira foi em Jorge Henrique, depois de o atacante chegar bêbado ao último treino no Brasil antes da disputa do Mundial, que foi no Japão.

A segunda, foi em Alexandre Pato, que deu uma cavadinha nas quartas de final da Copa do Brasil contra o Grêmio, o que acabou eliminando o alvinegro da competição. A bronca foi logo no vestiário: "tu tem que deixar de ser egoísta", foi uma das coisas que disse Tite.

Além dessas, o treinador ainda teve polêmicas com D' alessandro, no Internacional, e Adriano, no Corinthians.

Paulo Whitaker/Reuters
ORG XMIT: PW06 Alexandre Pato (L) of Brazil's Corinthians celebrates with head coach Tite after scoring against Colombia's Millonarios during their Copa Libertadores soccer match in Sao Paulo February 27, 2013. REUTERS/Paulo Whitaker (BRAZIL - Tags: SPORT SOCCER)
Alexandre Pato comemora gol contra o Millonarios com o treinador Tite, no Pacaembu

LOUCO TITE

Apesar de aparentemente normal, Tite é um doido por futebol e só pensa nisso o dia inteiro. Seu filho, Matheus Bachi, também seu auxiliar, conta do drama que é para fazê-lo assistir a um filme ou uma série.

Em um grupo de WhatsApp com o departamento do Corinthians, ele aparece o tempo todo, pedindo que eles separem lances e mais lances de jogos que estão acontecendo no Brasil e no mundo. Da Premier League à série D do Brasileiro.

BRAÇO DIREITO

Seu grande braço direito é Cleber Xavier, com quem trabalha há 16 anos, desde o Grêmio. É ele quem aguenta os dramas e tantas manias de Adenor. Mais do que isso, são complementares. Enquanto Tite é sério, Cleber é brincalhão, dono das melhores piadas, segundo os próprios jogadores.

Divulgação/Agência Corinthians
Cleber Xavier e Tite conversam durante treino do CorinthiansCrédito: Divulgação/Corinthians
Cleber Xavier e Tite conversam durante treino do CorinthiansCrédito: Divulgação/Corinthians

JÁ OUVIU E DISSE NÃO À SELEÇÃO

Depois de ser campeão da Libertadores e do Mundial com o Corinthians em 2012, Tite teve um péssimo ano no clube paulista em 2013. Com clima quente politicamente no Parque São Jorge, ele ficou no meio de um fogo cruzado entre Andres Sanchez e Mário Gobbi e quase pediu demissão duas vezes. Terminou o ano, e o contrato, e decidiu partir para um ano sabático.

Da sala da sua casa, assistiu ao inesquecível 7 a 1. Do apito final até sete dias depois, esperou sem sucesso a uma ligação. Seu telefone tocou sem parar, era considerado o mais preparado para assumir o lugar de Felipão. Mas a chamada que esperava não chegou. Dunga foi o escolhido.

De volta ao Corinthians em 2015, de maio do ano passado até maio deste ano, recusou a quatro convites para reuniões em que o assunto seria seleção. Eram intermediários, que diziam falar em nome da CBF. Ele não quis ir. Del Nero disse que o técnico fez bem: "Fez bem em não ter ido, não autorizei ninguém a falar em meu nome".

Nunca explicou publicamente o motivo. Seu irmão, Miro Bachi, foi enfático ao dizer que ouviu de Tite que não iria com as pessoas que estão no comando atualmente. A pessoas próximas, o corintiano endossava a versão.

Chegou até mesmo a assinar um manifesto de pedido de renúncia de Del Nero, ao lado de ilustres como Chico Buarque. Talvez seja essa a principal explicação que tenha a dar.

Divulgação/Corinthians
Tite comanda treino do Corinthians nesta terça-feira (14)
Tite comanda treino do Corinthians na terça-feira (14)

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